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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Só enquanto não vem cangaço - Seu Galdino e a onça vermelha

Por: José Mendes Pereira
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Enquanto lá na cozinha dona Dionísia preparava o café da manhã seu Galdino permanecia no curral, mungindo as suas famosas e invejadas vacas; e assim que arreou o segundo bezerro para desleitar a mãe, levantando a vista em direção à estrada, viu seu Leodoro Gusmão que vinha se aproximando do curral, montado numa égua em dias de parir. E ao vê-lo, não pensou duas vezes, e de imediato chamou logo a sua atenção, dizendo-lhe que ele não tinha dó daquela pobre égua em dias de parir.

Seu Leodoro que havia trabalho em diversas fazendas de grande porte, disse-lhe que era bom para facilitar no momento do parto. Com isso, convenceu seu Galdino, já que ele tinha trabalhado em diversas fazendas, com certeza sabia muito mais do que ele.


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Enquanto eles conversavam, alguém vinha se aproximando do curral. Era o vaqueiro do fazendeiro Luiz Duarte, que procurava uma vaca embicheirada. E ao descer do cavalo, sendo ele um dos que mais proseava com seu Galdino, devido as suas mentiras, desafiou-o, dizendo que o daria 50,00 reais para ele  inventar uma mentira naquele momento.

Seu Galdino arrebatou dizendo-lhe, que havia recebido uma proposta para inventar uma mentira por 100,00 reais, e não a aceitou. Se ele arriscasse contar uma mentira por 50,00 reais, já estava no prejuízo, perdendo 50,00 dos 100,00 que o sujeito havia lhe oferecido. Mas na verdade, já era uma verdadeira mentira, porque ninguém paga para ouvir mentiras.

A conversa entre os três durou até a  chegada da dona Dionísia, esposa do seu Galdino, que veio se aproximando do curral, e em suas mãos, xícaras, mais um bule de café.

 
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Ali, entre prosas, beberam o café, fumaram, e em seguida o vaqueiro disse-lhes que iria embora, porque precisava campear uma vaca parida nos tabuleiros, lá  pelas redondezas do rio Angicos. E despedindo-se, montou-se em seu animal e foi-se embora.

Seu Galdino estava ansioso para que o vaqueiro fosse logo embora, pois precisava expor uma das suas maiores mentiras ao seu Leodoro, que mesmo sabendo que o seu compadre Galdino mentia muito, ele apreciava ouvir as suas lorotas.

Seu Galdino, segundo ele, havia feito uma viagem em Bananeiras, no Estado da Paraíba, em uma fazenda para comprar um bom reprodutor de ovelhas. Ao chegar, o sol já havia se levantado bem esperto, porque havia acordado coberto por um enorme lençol de nuvens encarneiradas.

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Ao chegar à fazenda, assustou-se com uma onça que estava deitada ao pé da porteira. Com medo de ser atacado por ela, alarmou desesperadamente em direção à casa do vaqueiro, que trouxesse armas para matar uma onça vermelha, que ali estava deitada na entrada do portão.

Seu Leodoro o ouvia em silêncio, sem dizer uma palavra, mas de olhos arregalados em direção ao seu Galdino, como se não estivesse acreditando no que contava o seu compadre.

E continuou seu Galdino, que lá de dentro da casa, alguém da fazenda respondeu, dizendo-lhe que não se preocupasse com  a onça, ela  era mansa, e havia chegado ali há alguns meses, ficou morando, e já era um animal de estimação por todos dali, como se fosse o cachorro daquela fazenda.

Seu Leodoro só fazia ouvir, nenhum gesto, nenhuma palavra, apenas no seu eu, duvidava daquela conversa do seu Galdino. Ele já tinha ouvido muitas de suas conversas, até então, umas quase verdades, outras cabeludas, mas aquela da onça vermelha estava lhe deixando assustado. Não pela a onça, pela mentira do seu compadre.

Seu Galdino afirmava ainda que a bicha era do tamanho de um bezerro de um ano, e que ela passeava e brincava na fazenda, corria no meio dos rebanhos de ovelhas, bodes, e quando estava deitada, as galinhas ficavam sobre ela, procurando parasitas no seu corpo.

Ao entardecer, ele e o vaqueiro foram até ao cercado, olhar o rebanho de ovelhas, no intuito de seu Galdino escolher o melhor dos carneiros reprodutores para comprá-lo.

O vaqueiro da fazenda preparou um cavalo lustroso, gordo, selando-o. Em seguida, selou a onça, com todos os equipamentos  que se usa em cavalos.

Ao terminar, ordenou que ele se montasse na onça, aconselhando que ela não lhe faria nenhum mal. Lutou muito para não aceitar esta ordem, mas findou se rendendo, e sem muito esforço, subiu na onça.

A onça mesmo não o conhecendo, saiu de chote em direção ao cercado, e vez por outra ela dava uns pulos mais distantes, como se quisesse chegar primeiro do que o cavalo, que caminhava sobre o comando do vaqueiro.

Dizia ele que havia gostado bastante desta experiência, que antes não tivera, de andar montado em um animal tão grande e conhecido como feroz, valente, malvado e traiçoeiro. Mas estava certo que, o que dizem da sua valentia, não precede. Ela é domável e amiga.

Nesse mesmo dia, antes de passear montado sobre o seu lombo, enquanto ela descansava em  um galho, seu Galdino disse que ficou alisando o seu pelo sem nenhum receio. E ela até havia dado umas lambidas em seu rosto e em uma das mãos.

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Seu Leodoro Gusmão estava como se estivesse hipnotizado. Nenhuma palavra saía da sua boca, para confirmar ou contrariar um pouco o seu Galdino.

E de repente resolveu ir embora, precisava fazer campo, campear alguns dos seus animais, pois havia recebido informações de alguns vaqueiros, que uma de suas novilhas estava embicheirada. Mas antes de partir, saiu com uma engraçada.

- Eu acredito plenamente no que o senhor me afirmou compadre Galdino, porque a última vez que a Gertrudes, minha esposa, foi visitar os seus familiares lá nas Minhas Gerais, fez um passeio nas águas de uma lagoa sobre o lombo de uma cobra sucuri, com mais de 20 metros de comprimentos e da espessura de um tonel.


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"-Ela ainda me adiantou que a sucuri já era treinada para este fim, servindo de prancha para os turistas que ali apareciam e queriam surfar sobre as águas da lagoa. O que ela me contou, eu fiquei de boca aberta, compadre! O início do passeio foi na beira da lagoa, a sucuri deu partida, isto com a Gestrudes em cima dela, em pé, de braços abertos, como se fosse uma sufista, e saiu rodeando a lagoa, isto com toda velocidade. E quando chegaram ao lugar de onde havia saído, a sucuri deu um freio tão grande, mas tão grande que a jogou longe da lagoa, saindo feito uma roda, passando sobre pedras, matos rasteiros, rodando sobre o solo, embolada como se fosse um tatu bola".


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Continuava seu Leodoro: "-E quando ela caiu na real, isto é, que há tempo que tinha saído de cima do lombo da sucuri, já estava no terreiro dos seus familiares, porque havia esbarrado em um rio que passava em frente a casa da família. E ao cair nele, a água corrente a levou até lá".

- Minha nossa Senhora, que coisa, hein! - fez seu Galdino.

Já satisfeito com o troco que havia dado ao seu Galdino sobre a sua história, seu Leodoro disse:

- Eu já estou indo, compadre Galdino. Eu preciso ir ao campo.

Despedindo-se, montou-se na égua e foi-se embora.

- Mas que compadrinho mentiroso! Que sucuri que nada! Nesses dias ela irá surfar em outra cobra, mas desta vez surfará é na minha anaconda. -Dizia seu Galdino balançando a cabeça e se desmanchando em risos, pela grande mentira que o Leodoro soltara naquele momento.

Minhas Simples Histórias

Se você não gostou da minha historinha não diga a ninguém, deixe-me pegar outro.

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4 comentários:

  1. Anônimo11:42:00

    Professor MENDES: A "história" da ONÇA DE SEU GALDINO é de doer! De igual forma, a "história" fantástica da COBRA SUCURI. Só você passando suas histórias para o Cronista e Poeta RANGEL COSTA.
    Parabéns com as suas crônicas. Antonio José de Oliveira - Bela Vista - Serrinha-Ba.

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  2. Muito obrigado pesquisador Antonio Oliveira, pelo o
    elogio ao meu simples trabalho.

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  3. maravilha. o imaginário popular transforma nossa cultura e memória rural, com humor e "fantasias" em fantásticas relações de cultura criativa de identidade e pertencimento. ótimo.

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  4. Muito obrigado ao Letras e letteras pelo elogio ao meu simples trabalho.

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