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sexta-feira, 17 de abril de 2015

FORTE IDENTIDADE, AUTOESTIMA E PODER: A MODA DE LAMPIÃO E SEU BANDO DE CANGACEIROS


Em meio à paisagem árida do nordeste, no final do século XIX e começo do século XX, as injustiças sociais fizeram surgir – tal como hoje o crime organizado nas favelas das grandes cidades – bandos armados que, em correrias a cavalo pelo sertão, saqueavam e matavam, impondo sua vontade.

Tal como hoje, a reação do estado era insuficiente e os cangaceiros faziam alianças com os coronéis, oprimindo e outras vezes até beneficiando a população, diante da ausência do poder público.

Lampião e o seu bando foi o mais famoso, talvez porque criou uma forte identidade visual, verdadeira moda do cangaço. Vestidos em roupas de couro, para poder enfrentar os espinhos da caatinga, portavam um chapelão, dobrado em forma de meia-lua e todo contornado por moedas de ouro e prata, sustentado por uma tira de couro, na testa, também fulgurante desses metais, assim como outras tiras cruzadas no peito, para levar a munição, igualmente recobertas de brilhos, o que criava um conjunto impressionante, fulgurando ao sol, junto com os rifles.

Para a população do semiárido, que vivia mergulhada em cores pastel, cinzas e marrons, a visão cintilante do ouro e da prata brilhando ao sol era um impacto, que maravilhava e amedrontava. O próprio Lampião era muito vaidoso, usava perfume francês e um lenço no pescoço, preso por um anel de formatura em Direito.

Sem dúvida, muito da mística que se criou em torno do bando deve ter surgido daí, dessa aparência que transmitia poder, sedução e uma enorme autoestima. Como já existia na época a fotografia e o cinema, Lampião deixou-se filmar e fotografar junto com seu bando, preservando para o futuro essa imagem de forte identidade, tantas vezes reproduzida em filmes.

Há muitos anos, entrevistei o Sr. Ostiano, que foi capataz da fazenda de um coronel amigo de Lampião, onde uma gruta servia de abrigo perfeito para o bando, quando Lampião se feria e necessitava de recuperação.

Segundo o Sr. Ostiano, as ordens do Coronel eram para que Lampião escolhesse o boi que quisesse, para ser morto e preparado para seu alimento, até a perfeita recuperação, o que alimentava o mito de que o cangaceiro tinha o corpo fechado, pois ninguém o via doente ou ferido. Mas o que chamava a atenção era a admiração, o fascínio com que o velho Ostiano descrevia o bando, com os metais faiscando ao sol, como se fossem deuses…

Maria Bonita nasceu Maria Gomes de Oliveira, em 09.03.1911, na zona rural de Paulo Afonso, Bahia, (município onde existe a famosa cachoeira do mesmo nome), casou-se muito cedo com um sapateiro, com quem não vivia bem. Encantou-se por Lampião e, com a conivência da mãe, seguiu-o, tornando-se assim a primeira cangaceira.

Era faceira, bonita para os padrões da época, rechonchuda e vaidosa com o cabelo, mas tinha que usar roupas severas, conforme as regras de Lampião – tudo a ver com os talebans, no Afeganistão – seguindo a moda do chapéu e dos brilhos, característica do bando. Fotos suas transmitem a imagem de uma mulher forte e segura de si.

Durante mais de oito anos de cangaço, teve uma filha, Expedita, mas por certo a dureza daquela vida de correrias a fez sofrer três abortos.

Na hora da luta, era um rifle a mais, assim como participava da selvageria dos saques. Mas as músicas que o bando cantava, exprimiam sua condição de mulher, de quem se exigiam também as tarefas domésticas: “Acorda, Maria Bonita, levanta vai fazer o café…” Sua posição no cangaço transmitia a imagem de uma mulher que quebrou tabus e, depois dela, outras mulheres associaram-se ao bando de Lampião.

A casa onde nasceu, na área rural de Paulo Afonso, feita de taipa, que é uma armação de madeira, preenchida com barro, como era comum naquele tempo e lugar, ficou abandonada por muito tempo, mas agora foi restaurada, convertendo-se no Museu Casa de Maria Bonita, reproduzindo no barro amassado a construção original e no seu interior os cômodos e objetos, como eram no início do século XX. O filme que documenta esta restauração mostra muita coisa, inclusive as músicas dos cangaceiros.

O bando foi vencido em Poço Redondo, Sergipe, em 28.07.35, sendo Maria Bonita degolada ainda com vida. Sua cabeça, assim como a de Lampião e as de outros cangaceiros foram levadas para Salvador.

Também estrangeiros admiram Maria Bonita e seu nome batizou dois navios: um é japonês, com bandeira do Panamá e tripulação coreana, faz linha entre o Brasil e o Japão, passa pelo porto de Santos a cada três meses. Seu capitão, Sumio Matsumoto, fã de Maria Bonita, fez uma pesquisa minuciosa no Brasil e, no dia do batizado do cargueiro, expôs um breve histórico do significado do nome. O outro navio é um pesqueiro de 143 toneladas, registrado no Texas.

A História do Rei do Cangaço Lampião

http://www.fashionbubbles.com/historia-da-moda/forte-identidade-autoestima-e-poder-a-moda-de-lampiao-e-seu-bando-de-cangaceiros/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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