Em meio à
paisagem árida do nordeste, no final do século XIX e começo do século XX, as
injustiças sociais fizeram surgir – tal como hoje o crime organizado nas
favelas das grandes cidades – bandos armados que, em correrias a cavalo pelo
sertão, saqueavam e matavam, impondo sua vontade.
Tal como hoje,
a reação do estado era insuficiente e os cangaceiros faziam alianças com os
coronéis, oprimindo e outras vezes até beneficiando a população, diante da
ausência do poder público.
Lampião e o
seu bando foi o mais famoso, talvez porque criou uma forte identidade visual,
verdadeira moda do cangaço. Vestidos em roupas de couro, para poder enfrentar
os espinhos da caatinga, portavam um chapelão, dobrado em forma de meia-lua e
todo contornado por moedas de ouro e prata, sustentado por uma tira de couro,
na testa, também fulgurante desses metais, assim como outras tiras cruzadas no
peito, para levar a munição, igualmente recobertas de brilhos, o que criava um
conjunto impressionante, fulgurando ao sol, junto com os rifles.
Para a
população do semiárido, que vivia mergulhada em cores pastel, cinzas e marrons,
a visão cintilante do ouro e da prata brilhando ao sol era um impacto, que
maravilhava e amedrontava. O próprio Lampião era muito vaidoso, usava perfume
francês e um lenço no pescoço, preso por um anel de formatura em Direito.
Sem dúvida,
muito da mística que se criou em torno do bando deve ter surgido daí, dessa
aparência que transmitia poder, sedução e uma enorme autoestima. Como já
existia na época a fotografia e o cinema, Lampião deixou-se filmar e fotografar
junto com seu bando, preservando para o futuro essa imagem de forte identidade,
tantas vezes reproduzida em filmes.
Há muitos
anos, entrevistei o Sr. Ostiano, que foi capataz da fazenda de um coronel amigo
de Lampião, onde uma gruta servia de abrigo perfeito para o bando, quando
Lampião se feria e necessitava de recuperação.
Segundo o Sr.
Ostiano, as ordens do Coronel eram para que Lampião escolhesse o boi que
quisesse, para ser morto e preparado para seu alimento, até a perfeita
recuperação, o que alimentava o mito de que o cangaceiro tinha o corpo fechado,
pois ninguém o via doente ou ferido. Mas o que chamava a atenção era a
admiração, o fascínio com que o velho Ostiano descrevia o bando, com os metais
faiscando ao sol, como se fossem deuses…
Maria Bonita
nasceu Maria Gomes de Oliveira, em 09.03.1911, na zona rural de Paulo Afonso,
Bahia, (município onde existe a famosa cachoeira do mesmo nome), casou-se muito
cedo com um sapateiro, com quem não vivia bem. Encantou-se por Lampião e, com a
conivência da mãe, seguiu-o, tornando-se assim a primeira cangaceira.
Era faceira,
bonita para os padrões da época, rechonchuda e vaidosa com o cabelo, mas tinha
que usar roupas severas, conforme as regras de Lampião – tudo a ver com os
talebans, no Afeganistão – seguindo a moda do chapéu e dos brilhos,
característica do bando. Fotos suas transmitem a imagem de uma mulher forte e
segura de si.
Durante mais
de oito anos de cangaço, teve uma filha, Expedita, mas por certo a dureza
daquela vida de correrias a fez sofrer três abortos.
Na hora da
luta, era um rifle a mais, assim como participava da selvageria dos saques. Mas
as músicas que o bando cantava, exprimiam sua condição de mulher, de quem se
exigiam também as tarefas domésticas: “Acorda, Maria Bonita, levanta vai fazer
o café…” Sua posição no cangaço transmitia a imagem de uma mulher que quebrou
tabus e, depois dela, outras mulheres associaram-se ao bando de Lampião.
A casa onde
nasceu, na área rural de Paulo Afonso, feita de taipa, que é uma armação de
madeira, preenchida com barro, como era comum naquele tempo e lugar, ficou
abandonada por muito tempo, mas agora foi restaurada, convertendo-se no Museu
Casa de Maria Bonita, reproduzindo no barro amassado a construção original e no
seu interior os cômodos e objetos, como eram no início do século XX. O filme
que documenta esta restauração mostra muita coisa, inclusive as músicas dos
cangaceiros.
O bando foi
vencido em Poço Redondo, Sergipe, em 28.07.35, sendo Maria Bonita degolada
ainda com vida. Sua cabeça, assim como a de Lampião e as de outros cangaceiros
foram levadas para Salvador.
Também
estrangeiros admiram Maria Bonita e seu nome batizou dois navios: um é japonês,
com bandeira do Panamá e tripulação coreana, faz linha entre o Brasil e o
Japão, passa pelo porto de Santos a cada três meses. Seu capitão, Sumio
Matsumoto, fã de Maria Bonita, fez uma pesquisa minuciosa no Brasil e, no dia
do batizado do cargueiro, expôs um breve histórico do significado do nome. O
outro navio é um pesqueiro de 143 toneladas, registrado no Texas.
A História do
Rei do Cangaço Lampião
http://www.fashionbubbles.com/historia-da-moda/forte-identidade-autoestima-e-poder-a-moda-de-lampiao-e-seu-bando-de-cangaceiros/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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