Por André Carneiro de Albuquerque*
Nos primeiros
cinco anos como chefe de cangaceiros, entre os anos de 1922 e 1927, Virgulino
Ferreira, o Lampião, tinha conquistado fama de sanguinário. Seu nome se fazia
presente em inúmeros jornais, que denunciavam uma longa lista de ações
criminosas. O cangaço em seu reinado pouco parecia com os seus antecessores e
em todos os combates que participou provocou baixas significativas entre seus
oponentes.
O temido cangaceiro foi invencível neste período. O espantalho, como
também ficou conhecido, entendia princípios básicos no campo da estratégica,
que os elementos críticos na guerra são: rapidez, capacidade de adaptação,
conhecimento do terreno e do inimigo. Porém, a sequência de intermináveis
“vitórias”, os aplausos de seus comandados e a vaidade provocada pela
notoriedade adquirida; pode ter provocado o esquecimento de que, toda tropa tem
seus limites e que por maior que seja o ímpeto guerreiro ela só consegue levar
o seu líder até certo ponto. Sendo assim, o comandante de qualquer grupamento
armado é obrigado a ponderar e escolher com cuidado suas batalhas. Ignorar tal
dinâmica levou Lampião ao seu maior equívoco estratégico. Sair do sertão
pernambucano até a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, cooptar
cangaceiros pertencentes a outros bandos, atuar em um cenário de operações
desconhecido, foram erros agudos. Mossoró, possuía cerca de 20.000 habitantes,
um centro comercial significativo, linha férrea, agencia bancária e um setor
salineiro importante. Uma cidade em pleno desenvolvimento. Como se não
bastasse, a população tomou conhecimento prévio da aproximação do bando. O
cangaceiro, usou inúmeras táticas de intimidação: sequestro de pessoas para
forçar pagamento de resgate, constantes deslocamentos de bandos menores e bilhetes
exigindo dinheiro para deixar a região sem lutar. Ao esbarrar com o
determinismo da população em não se curvar ao temido invasor, Lampião é
duramente afrontado e muito provavelmente não considerou a possibilidade de
recuar e deixar a região. Parte da cidade foi ocupada, por três grandes ondas
de cangaceiros, sendo a terceira falange comandada pelo próprio Virgulino. Em
alguns pontos o tiroteio foi acirrado, tendo os cangaceiros entrado em uma
dinâmica de luta desconhecida, pois tiveram de confrontar citadinos bem
abrigados nos telhados das casas, o que gerava uma significativa vantagem
bélica. Os líderes da resistência perceberam que a melhor chance diante do
experiente bando, era trocar espaço por tempo; manobra conhecida no meio
militar como: estratégia do não compromisso, resistiram à tentação de combater
em campo aberto, e permitiu ao cangaceiro aparentemente dominar a zona rural,
enquanto ganhavam tempo para planejar e organizar a exitosa defesa. Graças a
tal iniciativa foi possível retirar da cidade quase toda a população inapta
para a luta, alertar autoridades vizinhas e pedir reforços. Perder homens e ser
obrigado a deixar a cobiçada Mossoró após uma constrangedora derrota não foi a
pior parte da malfadada campanha. Retornar para terras pernambucanas foi um
verdadeiro flagelo. Acuado por inúmeras volantes, que foram alertadas de sua
localização e possíveis rotas de retorno, abandonado por coiteiros aliados e
enfrentando indisciplina entre os seus comandados, foi a primeira vez que
Lampião sentiu na pele o peso do fracasso, aprendendo na prática que “cidade de
duas torres não era lugar para cangaceiro”.
André Carneiro
de Albuquerque*
Mestre em História Militar/ Autor do Livro –Capitães do fim do Mundo
a.c.albuquerque@hotmail.com/andre@historiasolidaria.com.br
Mestre em História Militar/ Autor do Livro –Capitães do fim do Mundo
a.c.albuquerque@hotmail.com/andre@historiasolidaria.com.br
Enviado pelo professor, escritor pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso
http://blogodmendesemendes.blogspot.com
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