Por José Romero
Araújo Cardoso*
Marconi Cruz
de Lacerda nasceu no dia dois de setembro de 1956, em São José de Piranhas
(PB), filho caçula do casal Martinha Cruz de Lacerda-Sinval Lacerda de
Oliveira. Era neto do lendário Romeu Menandro da Cruz.
Casa do Estudante de Mossoró - fonte agora-rn
Em Mossoró
(RN), onde foi terminar os estudos médios, teve início o martírio que o
atingiria como emboscada do destino. Na capital do oeste potiguar passou a residir
na casa do estudante, localizada bem próxima da Escola Estadual Jerônimo
Rosado, onde estudava.
Fonte - Início
Bon vivant,
era frequentador assíduo das noites mossoroenses, as quais animava com o som
cadente de um violão bem dedilhado, intercalado por voz suave e melodiosa.
Despertava fascínio nas mulheres, solteiras e casadas, devido ao visual moderno
e atraente para a época. Em um desses saraus, despertou a atenção da esposa de
um capitão-médico da Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Norte, tendo
aceitado inadvertidamente a investida da mulher que havia sido enfeitiçada pelo
galante jovem.
Corria o ano
de 1977, o sucesso das paradas musicais era a música “Sonhos”, composta e
interpretada por Peninha. A canção tornou-se o hino oficial do inexperiente
paraibano que tentava a sorte no Estado do Rio Grande do Norte.
Os encontros
dos dois amantes despertaram a atenção dos moradores da residência localizada
nos fundos da casa do estudante. Eram parentes do capitão-médico da Polícia
Militar do Estado do Rio Grande do Norte que observavam o romance proibido.
A casa do
estudante passou a ser frequentada assiduamente por primo legítimo do oficial,
intuindo aproximar-se sorrateiramente do incauto jovem a fim de firmar amizade
com objetivos claramente maléficos e diabólicos.
E.
C. São Sebastião em disputa futebolística no Estádio de Futebol Marconi Cruz de
Lacerda - São José de Piranhas - Paraíba
Avisado sobre
o que acontecia, o capitão-médico procurou a ficha de Marconi Cruz de Lacerda
na unidade educacional onde estudava. Em seguida, incumbiu o primo da execução
do macabro plano que deveria ser marcado pelo hediondo “cheiro do queijo”, pois
constatou que o jovem completaria vinte e um anos em breve. Marconi, dessa
forma, estava marcado para morrer.
Friamente, o
novo “amigo” passou a cevá-lo da melhor forma possível, convidando-o
constantemente para almoçar em sua casa, sair pela noite mossoroense, enfim,
assumindo postura “amigável” que não despertava nenhuma desconfiança da parte
do inexperiente jovem.
No dia dois de
setembro de 1977, uma sexta-feira, Marconi não assistiu a todos os blocos de
aulas, pois pediu permissão à professora de História para sair antes do término
das atividades em razão que era seu aniversário de vinte e um anos.
O “amigo”, sem
saber que o jovem marcado para morrer havia saído mais cedo, chegou atrasado ao
encontro satânico. Mesmo assim varou sem sucesso todos os recantos geralmente
frequentados por Marconi, a fim de matá-lo.
No sábado, dia
três de setembro, adentrou com cara feia a Casa do Estudante, não encontrando o
jovem. Deixou recado, convidando-o para uma vaquejada na cidade de Olho d´água
do Borges (RN), convite prontamente atendido quando o jovem chegou na
residência estudantil.
Era, na
verdade, o início do fim do inexperiente jovem, pois seu “amigo” mancomunava-se
com um irmão, tramando sua morte covardemente. Devido a desconfiança de
experientes sertanejos, os quais notaram as intenções macabras dos dois irmãos,
retiraram Marconi para Patu(RN). O meio de transporte do trio era um fusca
azul.
Crise de
consciência abateu-se sobre o irmão do “amigo” de Marconi e este começou a
relutar em levar adiante o plano diabólico, razão da sobrevivência do jovem até
o dia de domingo, quando o inocente estudante entrava em contagem regressiva.
Jogaram
futebol, beberam, enfim, divertiram bastante o garoto que foi marcado pela
maldade humana para pagar pecados originados através de uma mulher leviana.
A noite chegou
e resolveram levar o jovem para passeio descontraído no sítio Tuiuiu, lugar
onde nasceu o cangaceiro Jesuíno Brilhante. Na volta, ao passar pelo açude dos
bodes, na propriedade de Vicentinho Moura, o “amigo” do jovem teve a ideia de
se refrescarem em um banho noturno, exatamente por volta das dez horas, convite
logo aceito pelo inexperiente rapaz. Pararam o fusca azul bem próximo do açude.
Quando estavam se preparando para entrar no açude, o “amigo” do jovem disse que
ia ao carro, voltando armado com um revólver calibre 38 e uma faca-peixeira de
doze polegadas.
O jovem não
acreditou no que estava acontecendo. Começou a pedir por tudo, por todos os
Santos, para não fazerem aquilo, valendo-se, nos últimos momentos, da mãe que
encontrava-se distante, mas o “amigo” disparou seis vezes contra a cabeça do
pobre rapaz, desferindo em seguida duas facadas no pescoço para concluir o
serviço maldito.
Dessa forma,
manifestava-se contra um jovem sonhador a mais abominável de todas as traições,
a mais nefasta e aviltante forma desprezível de traição.
Em São José de
Piranhas homenagearam Marconi Cruz de Lacerda dando seu nome ao Estádio de
Futebol, pois ele era um apaixonado pelo esporte, assim como era pela vida que
foi ceifada covardemente por mãos assassinas insensíveis e desprezíveis.
* Geógrafo.
Professor da UERN.
Enviado pelo autor José Romero de Araújo Cardoso
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Excelente, professor José Romero de Araújo Cardoso!
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