*Rangel Alves
da Costa
O amor é bom.
O amor é mau. Amar é doce. Amar é terrivelmente ácido. O amor é brinquedo. O
amor é brincadeira que fere, que mata, que dilacera.
O amor é
remédio e cura. O amor é veneno mortal. Amar é devoção e piedade. Amar é pecado
e abominação. Não há amor que não ele eleve e ao mesmo tempo faça prostrar.
O amor é
paisagem com brilho e cor. O amor é labirinto e escuridão. Amar protege e
alimenta a alma. Alma corrói e faz fraquejar, submete e impiedosamente
escraviza.
O amor semeia
e colhe. O amor resseca e devasta. O amor faz brotar e florescer. O amor faz
definhar e morrer. Amar assim é viver e padecer no mesmo céu e mesmo fogo.
O amor canta a
mais bela canção, faz ecoar sua maravilhosa voz. O amor esquece o canto, cala a
voz, entorpece o sentir. Amar assim é caminhar sobre flores e espinhos.
O amor é
carícia e carinho, é dengo e cafuné, é meiguice e doçura. O amor é espinho, é
beliscão, é tormento e tortura. Amar com pluma e seda e depois com a faca mais
afiada.
O amor que
comove, que sensibiliza, que faz mais amoroso. O amor que endurece, que
petrifica, que torna em pedra o sentimento. Amar para sofrer se imaginando na
alegria.
O amor que
sonha, que deseja, que quer, que corre atrás. O amor que esmorece, que se
recolhe para tramar a dor. Amar em rio manso e depois se sentir diante um mar
revoltoso.
O amor que faz
da hora uma espera para sorrir, para o encontro, para a felicidade. O amor que
só espera o momento de dizer não, de negar a si mesmo, enquanto o outro sofre.
O amor é
alvorecer, é pôr do sol, é vida, é alegria, intenso contentamento. O amor que
traz a sombra e se esconde na bruma da crueldade. Amar entre a salvação e a
perdição.
O amor que é
humilde sem se humilhar, que é calmo e paciente sem nada abdicar. O amor que se
arroga de ser arrogante, e num rompante faz explodir e estraçalhar.
O amor que tem
fome e sede e sabe querer o grão de pão e de água. O amor insaciável que quanto
mais esvazia mais quer, quanto mais acaba mais quer destruir ainda mais.
O amor que é
passarinho, que é borboleta, um colibri, um beija-flor. O amor que é ave carnicenta,
agourenta, devoradora. Amar assim entre a liberdade e o laço da insanidade.
O amor que
chega e se sente bem em estar, em continuar, em dar prazer. O amor que chega
somente para ferir, para abrir feridas onde a carne é carente e frágil.
O amor que é
valsa, sonata, noturno, cantata, a mais bela sinfonia de conforto à alma e ao
coração. O amor que é tempestade, é ventania, uma tormenta que devasta tudo ao
redor.
O amor que é
poeta, que é docemente apaixonado, tecendo versos para alimentar o próprio
amor. O amor que nada sonha e não se nega a rasgar todo verso feito em seu
nome.
O amor que
brilha como a mais bela das luas, que cintila mais que a estrela mais
fulgurante. O amor em meio às sombras e sem que o olho possa avistar sua
terrível arma na escuridão.
O amor que é
nobre, fidalgo, gentil, cordial. O amor que é vagabundo, imundo, perdido na sua
miséria de crueldade. Amar que vai do silêncio ao grito num mesmo instante.
O amor se
enfeita, se embeleza, se perfuma para se tornar cada vez mais atraente e amado.
O amor se enfeia, se embrutece, se ojeriza, mas ainda fingindo que ama de forma
tão bela e perfumada.
O amor dorme
tranquilo, sonha, acorda feliz, sempre ávido por reencontrar seu amoroso
destino. O amor já se levanta para negar o espelho e iludir a se mesmo e ao
outro.
O amor faz
bem, nunca fez mal algum. Mas o amor faz mal, nunca fez bem algum. Amar também
faz apaixonar e toda paixão desanda na morte dos sentimentos. E de forma mais
dolorosa que possa existir.
Assim o amor.
Assim também o amor. Só que reconhecê-lo na paz ou na dor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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