Seguidores

domingo, 4 de dezembro de 2016

DO AMOR E DE TODO O MAL EM SEU NOME

*Rangel Alves da Costa

O amor é bom. O amor é mau. Amar é doce. Amar é terrivelmente ácido. O amor é brinquedo. O amor é brincadeira que fere, que mata, que dilacera.

O amor é remédio e cura. O amor é veneno mortal. Amar é devoção e piedade. Amar é pecado e abominação. Não há amor que não ele eleve e ao mesmo tempo faça prostrar.

O amor é paisagem com brilho e cor. O amor é labirinto e escuridão. Amar protege e alimenta a alma. Alma corrói e faz fraquejar, submete e impiedosamente escraviza.

O amor semeia e colhe. O amor resseca e devasta. O amor faz brotar e florescer. O amor faz definhar e morrer. Amar assim é viver e padecer no mesmo céu e mesmo fogo.

O amor canta a mais bela canção, faz ecoar sua maravilhosa voz. O amor esquece o canto, cala a voz, entorpece o sentir. Amar assim é caminhar sobre flores e espinhos.

O amor é carícia e carinho, é dengo e cafuné, é meiguice e doçura. O amor é espinho, é beliscão, é tormento e tortura. Amar com pluma e seda e depois com a faca mais afiada.

O amor que comove, que sensibiliza, que faz mais amoroso. O amor que endurece, que petrifica, que torna em pedra o sentimento. Amar para sofrer se imaginando na alegria.

O amor que sonha, que deseja, que quer, que corre atrás. O amor que esmorece, que se recolhe para tramar a dor. Amar em rio manso e depois se sentir diante um mar revoltoso.

O amor que faz da hora uma espera para sorrir, para o encontro, para a felicidade. O amor que só espera o momento de dizer não, de negar a si mesmo, enquanto o outro sofre.

O amor é alvorecer, é pôr do sol, é vida, é alegria, intenso contentamento. O amor que traz a sombra e se esconde na bruma da crueldade. Amar entre a salvação e a perdição.

O amor que é humilde sem se humilhar, que é calmo e paciente sem nada abdicar. O amor que se arroga de ser arrogante, e num rompante faz explodir e estraçalhar.


O amor que tem fome e sede e sabe querer o grão de pão e de água. O amor insaciável que quanto mais esvazia mais quer, quanto mais acaba mais quer destruir ainda mais.

O amor que é passarinho, que é borboleta, um colibri, um beija-flor. O amor que é ave carnicenta, agourenta, devoradora. Amar assim entre a liberdade e o laço da insanidade.

O amor que chega e se sente bem em estar, em continuar, em dar prazer. O amor que chega somente para ferir, para abrir feridas onde a carne é carente e frágil.

O amor que é valsa, sonata, noturno, cantata, a mais bela sinfonia de conforto à alma e ao coração. O amor que é tempestade, é ventania, uma tormenta que devasta tudo ao redor.

O amor que é poeta, que é docemente apaixonado, tecendo versos para alimentar o próprio amor. O amor que nada sonha e não se nega a rasgar todo verso feito em seu nome.

O amor que brilha como a mais bela das luas, que cintila mais que a estrela mais fulgurante. O amor em meio às sombras e sem que o olho possa avistar sua terrível arma na escuridão.

O amor que é nobre, fidalgo, gentil, cordial. O amor que é vagabundo, imundo, perdido na sua miséria de crueldade. Amar que vai do silêncio ao grito num mesmo instante. 

O amor se enfeita, se embeleza, se perfuma para se tornar cada vez mais atraente e amado. O amor se enfeia, se embrutece, se ojeriza, mas ainda fingindo que ama de forma tão bela e perfumada.

O amor dorme tranquilo, sonha, acorda feliz, sempre ávido por reencontrar seu amoroso destino. O amor já se levanta para negar o espelho e iludir a se mesmo e ao outro.

O amor faz bem, nunca fez mal algum. Mas o amor faz mal, nunca fez bem algum. Amar também faz apaixonar e toda paixão desanda na morte dos sentimentos. E de forma mais dolorosa que possa existir.
Assim o amor. Assim também o amor. Só que reconhecê-lo na paz ou na dor.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário