Por Caio César Muniz
CABY DA COSTA
LIMA
Entrevista
feita por mim para o jornal O Mossoroense. Não lembro o ano, mas foi entre
2014/2015.
Pois é
"camaradinha", a entrevista de hoje é com um "bicho dos cabelos
encaracolados" que usa tamancos e toma campari.
Assim, lógico,
mesmo que não houvesse a foto ao lado ou ainda eu estivesse escrevendo somente
para aqueles que só conhecem a voz do irreverente locutor, mesmo assim todos
iriam saber que estou falando de Caby da Costa Lima, ou Raimundo Nonato da
Costa Lima, como alguns colegas de imprensa afirmam de pés juntos que seja o
seu verdadeiro nome.
Bom,
identificação à parte, Caby é mossoroense e joga nas onze - locutor esportivo,
publicitário, escritor e atualmente idealizador de um site de variedades
culturais na Internet.
Acompanhemos a
entrevista.
O Mossoroense
- Caby, você é mossoroense mesmo?
Caby da Costa
Lima - Sim, mossoroense, nascido aos 11 de maio de 1957, mas eu digo
carinhosamente que sou de Patu, porque meu pai, José Izídio Lima, que era
motorista de táxi, ficava muito orgulhoso quando me ouvia dizer isso. Ele era
patuense e eu era o único dos filhos que dizia que era de Patu.
OM - Que
recordações você tem da Mossoró da sua infância?
CCL - Olha,
veja bem. Era mais fácil viver - com relação à segurança - você ia pro estádio,
para uma festa, ou para qualquer lugar, voltava a pé e ninguém mexia contigo.
Hoje, você sabe que a violência predomina, a insegurança é grande. Você sai,
deixa sua casa fechada, quando retorna alguém tem entrado, levado suas coisas,
etc. Por outro lado, existia mais coleguismo naquela época e as amizades eram
mais puras, mais saudáveis. A gente não era tão cão, porra-louca como hoje.
Mas, de certa forma, fica uma coisa pela outra, porque se naquela época nós
tínhamos mais tranqüilidade para viver e hoje não temos, nós também não
tínhamos naquela época as opções de lazer que temos hoje. Naquela época você
ganhava menos, mas gastava bem menos. Hoje você ganha mais, mas seu lucro é inferior
ao que você ganhava antes. Então é assim, Mossoró tinha coisas que já não
existem mais, em compensação foram criadas muitas coisas que naquela época nem
se imaginava que fossem criadas.
OM - A que
você atribui esta falta de "tranqüilidade de viver" que hoje nós já
não temos?
CCL - Em
grande parte à televisão. Acredita? Esta promiscuidade, esta indecência que
existe no Brasil, os sequestros, os assaltos, muita coisa ruim. Quem dá carona
para isso é a televisão, esta máquina mortífera.
OM - Como foi
o início da sua carreira no rádio?
CCL - Eu
comecei no rádio devido ao futebol. E quem me viu jogar sabe que eu jogava
direitinho. Então, na rádio Tapuyo, no dia 12 de junho, eu fui participar de um
torneio da imprensa contra a Fitema - perdemos de 5 a 1. Lupércio Luís de
Azevedo me perguntou então se eu não queria jogar no gol, porque o goleiro
estava tomando muito frango. Eu aceitei o convite e fui um dos destaques. Mas
daí eu tinha que falar ao microfone para ser da imprensa. Colocaram-me então
como repórter suburbano, me deram uma carteirinha, que até deveria ter
guardado, mas eu perco tudo, e foi assim que eu comecei no rádio.
OM - Como
surgiu a ideia de usar tamancos?
CCL - Não sei,
pintou, eu gostei, adorei e uso desde o início do meu período em rádio. Olha,
eu ainda vou voltar a estudar para me formar em ecologia. Quando você usa o
tamanco, você fica à vontade, você se solta, tira o pé fácil e de repente está
descalço. Eu uso tamanco pelo mesmo motivo que não uso cueca, porque sem a
cueca eu posso deixar o "bicho" solto como manda a ecologia. Outra
coisa, por exemplo, eu não uso camisas de botão, mas três ou quatro pessoas
repararam nisso. A questão é a seguinte: se ser feliz é você se amar e se
amando dizer o que pensa e fazer o que gosta, então eu sou feliz. Eu uso
tamancos apenas porque gosto, não há necessidade de um argumento maior e ponto
final.
OM - Mas é
verdade que você foi barrado no Maracanã porque estava de tamancos?
CCL - É
verdade. Naquela época o tamanco era visto com uma arma nos estádios do Rio de
Janeiro, mas eu sabia disto, eu já tinha ido outras vezes, mas olha o que eu
fazia. Eu ia pro estádio de tênis, mas levava o tamanco numa sacola. Quando eu
cheguei no portão que dá acesso ao elevador às autoridades, o Mário, que era
quem ficava na porta, me chamou e disse: "Você sabe que não pode."
Mas algumas vezes eu entrei, entrava de tênis, quando chegava na cabina, tirava
o tamanco da mochila e calçava.
OM - Você
narrou várias partidas de futebol importantes. Qual delas você considera
inesquecível?
CCL - Em nível
internacional foi o jogo da classificação do Brasil para a Copa do Mundo de
1994 (Brasil x Uruguai) que terminou com dois gols de Romário. Nesta época eu
fui transmitir o jogo pela rádio Difusora e o meu repórter foi o Jota Régis. E
era aquela coisa muito bonita, aquelas mais de trezentas emissoras do país além
das rádios internacionais, todas, uma ao lado da outra. Então, não tinha mais
espaço para nós e fizemos uma cabina improvisada muito próxima do gramado. Na
hora do gol, já no final do jogo, a coisa foi tão emocionante que o Jota Régis
invadiu o campo, lógico, não só ele, mas uma multidão. Foi a primeira vez que
eu narrei um gol em dose dupla, porque enquanto eu gritava o gol ele também
gritava lá no microfone dele. Aqui em Mossoró, o mais emocionante na verdade eu
não narrei, fui repórter. Foi em 1979, em um seletivo para decidir o
representante de Mossoró no campeonato nacional. Quem apitou este jogo, é
importante se dizer, foi Manuel Amaro, da Federação Pernambucana que apitou
também o milésimo gol de Pelé, no Maracanã (Santos x Vasco) em 19 de novembro
de 1969. Naquele Potiba, o Baraúnas saiu na frente, fez 1 x 0, terminou o
primeiro tempo neste placar, o estádio lotado. No segundo tempo o Potiguar
empatou aos 16 minutos, fez 2 x 1 aos vinte e aos 26 minutos fez 3 x 1. Aos 42
o Baraúnas fez 3 x 2 e foi uma doideira. Acho que até hoje quem assistiu aquele
jogo guarda aqueles momentos.
OM -A sua
passagem pela direção do Potiguar deixou mais alegrias ou tristezas?
CCL -
Tristezas e alegrias nós temos em qualquer segmento. Eu fui presidente do
Potiguar em 1997 e pela primeira vez um clube de Mossoró foi primeiro lugar em
público. O campeonato naquele tempo era diferente, eram seis meses e nós
terminamos como vice-campeões. Claro, tiveram dissabores, mas eu deixei pra lá.
Cara, eu só não vendi os meus tamancos naquela época, mas "quebrei"
de não prestar, eu perdi até o meu jeito de andar. Mas, de certa forma, eu
achei isso bom, porque me deu oportunidade de saber quais são as reais
adversidades da vida, o que uma "quebradeira" propicia a um ser
humano, como ele deve reagir, como fazer para ficar de pé novamente. Foi uma
das lições de vida mais importantes para mim pelas dificuldades financeiras que
o futebol me impôs e eu não me arrependo de jeito nenhum.
OM - Ficaram
mágoas com relação ao time?
CCL - Não. De
forma alguma. Teve aí um maluco destes da vida que disse que eu roubei do
potiguar. Eu quebrei de não prestar, mas foi uma lição extraordinária, tanto é
que quem sabe um dia, no futuro, eu possa voltar a ser presidente do potiguar.
OM - Como
ex-presidente, comente a má-fase enfrentada pelo clube.
CCL - Eu acho
que o time do Potiguar é tão bom quanto o do Baraúnas, só que não se acertou.
Na minha ótica, ele estava taticamente errado, as peças estavam atuando num
sistema tático confuso e isso levou à derrocada. Não se concebe que um técnico
tenha um jogo, por exemplo, na quarta-feira e na quinta às 14 horas você tenha
treino. Isso acaba com qualquer máquina humana. Coloque os carros da Fórmula 1
para correr um grande prêmio no domingo e outro na segunda que eles quebram. Eu
acho que Miluir Macedo foi um técnico feliz em 2004, mas foi muito infeliz em 2005.
Digo novamente, o Potiguar tem um time muito bom, mas ele foi concebido de
maneira errada taticamente. Eu conheço o pensamento da diretoria e sei que fora
de campo ela agiu da forma correta. Pode ter cometido erros como todos cometem,
mas trabalha com muita transparência, muita honestidade e deu ao técnico do
Potiguar os jogadores que ele pediu. Acho que para o Potiguar engrenar é só uma
questão de tempo.
OM - Mudando
de assunto. Como nasceu O Mancha?
CCL - O Mancha
nasceu de um "estalo". Eu estava cobrindo uma transmissão de carnaval
ali na rua Coronel Gurgel e o Coroné Pereira - ele não gosta que eu fale, mas
eu falo mal até de mim. Por que não vou falar dele? - não pronunciava o
"L" das palavras. Era "bicicreta", por exemplo. E, na
transmissão, Canindé Alves, que estava comandando pela rádio Tapuyo, perguntou:
"Coroné Pereira, quem está se aproximando aí no quartel da folia que eu
não estou vendo?" Ao que ele dispara de lá: "Vem aí o crube Baraúna,
em seguida o broco Pimpão, mas como eu não estou vendo bem, eu vou pra cima da
praça do Espranada e de lá eu dou um pra".
Então eu ouvi
isso e fiquei atento.
Eu via nos
jornais espaço para polícia, para política, espaço para tudo, menos para o
rádio.
Procurei,
então, no ano de 1984 o Canindé Queiroz, no jornal Gazeta do Oeste, e pedi um
espaço para escrever as "mancadas" da turma da imprensa e passei
quatro meses escrevendo sob o pseudônimo O Mancha.
Daí surgiu a ideia do livro que hoje já alcançou vinte e uma edições. Uma delas com mais de
dois mil exemplares.
Certa vez, eu
trabalhava na rádio Libertadora e José Maria Alves chegou com um
abaixo-assinado para que fosse entregue à direção do jornal e eles retirassem a
coluna O Mancha. Eu fui o primeiro a assinar.
OM - Nunca
houve casos em que as personagens relatadas no livro tentaram matá-lo?
CCL - Não.
Houve tentativas de processos, mas depois as próprias pessoas que se indignavam
no princípio, me procuravam depois para me "presentear" com outras
histórias e estórias que eles ouviam ou mesmo criavam.
OM - A série
Do Bumba veio para substituir O Mancha?
CCL - Não. O
Mancha ainda está aí, agora como janela no site "azougue.com" como o Do Bumba também nasceu de uma
janela do site. Eu comecei a colocar seis fotos por semana e percebi que esta
coisa da fotografia tem uma espécie de imã. Então pensei na possibilidade deste
resgate em livro. Já saíram dois volumes e já estão esgotando ambas as edições.
Tenho recebido muitos pedidos de fora, inclusive de outros países e isso tem me
deixado muito feliz.
OM - E esta
nova experiência de fazer comunicação na Internet. Como você está encarando
isso?
CCL - Olha,
esta ideia não foi minha. Quem imaginou este negócio foi o publicitário Brito e
Silva. Nós começamos juntos, ele sugeriu alguns tópicos, outros eu criei, mas a
parceria foi breve, durou cerca de noventa dias e eu resolvi dar continuidade.
Para você ter uma ideia, em fevereiro de 2005 nós tivemos 4.518 acessos, este
mês a previsão é de fecharmos o mês com mais de 30 mil acessos no www.azougue.com e isso só me faz crer que estamos no
caminho certo.
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