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terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O CIRCO ALEGRIA


Por Benedito Vasconcelos Mendes

Certo dia foi armado na Vila de Santo Antônio do Aracatiaçu um pequeno e rústico circo, de nome Alegria, cujo último destino tinha sido a cidade de Miraíma. O circo, de apenas dois mastros e sem lona de cobertura, com uma simples empanada circundante, tinha como principais atrações os Palhaços Pichilinga e Tanajura, o Trapezista Edson, o Bode Falador e a Cantora Dalva Brito. Os palhaços eram criativos, imorais e muito engraçados. As brincadeiras e piadas da dupla de palhaços eram sempre motivadas pela sabedoria e perspicácia do Pichilinga, em contraste com a inocência e a falta de inteligência do Tanajura, de modo que a conversa entre os dois tornava-se cômica e engraçada. O Pichilinga, por ser mais sabido e sagaz, era muito admirado e aplaudido pelo público.

O Trapezista Edson, embora demonstrasse muita coragem e perícia, não
inovava, apenas repetia as conhecidas apresentações de trapezistas aprendizes. Mesmo com exibições simples, como não usava rede de proteção, cada apresentação tinha um risco real de ele cair do trapézio e se acidentar gravemente.

A cantora e dançarina Dalva Brito era enaltecida pelo apresentador, como detentora de voz romântica e bela, mas bastava se ouvir uma única canção, para constatar que ela desafinava várias vezes. Ela se apresentava com roupas vistosas, com detalhes de plumas e paetês e decote generoso, que acentuava seus seios volumosos. Sua canção preferida era “Índia”, cantada em portunhol, cujo acompanhamento com sanfona, bateria, violão e saque sanfona dava imponência a apresentação. O som era de péssima qualidade, cuja fonte de energia eram duas baterias de caminhão. A bela e esbelta cantora, com sua dança provocante e sua voz suave, tornou-se a atração número um do espetáculo circense. Suas apresentações entusiasmavam o público masculino e desencadeavam uma onda de ciúmes nas mulheres da vila. Dengosa e sensual, ela sabia provocar a libido dos homens, principalmente dos mais velhos, que assistiam diariamente ao circo.

O Bode Falador, além de bodejar quando o adestrador mandava, ele subia e descia em uma escada inclinada. Quando ele atingia o topo da escada, ele se virava para descer de frente. Esta virada de corpo era a parte mais emocionante, pois a impressão é que ele não iria conseguir.

A arquibancada, feita de tábuas de construção e estacas de pau-branco,
amarradas com cordas de tucum, não apresentava nenhum conforto e nem segurança. O picadeiro de chão batido, com precário serviço de autofalante e sem iluminação elétrica, exigia da cantora e dos palhaços redobrada atenção. As sessões do circo eram de 4 às 5 horas da tarde e nos sábados e domingos duas apresentações, uma pela manhã e a outra à tarde. Os espetáculos do Circo Alegria eram anunciados pelos palhaços, que saiam à rua com pernas de pau, acompanhados pelos meninos da vila, que respondiam suas indagações. Os palhaços perguntavam: Hoje tem espetáculo ? A criançada respondia: Tem sim, senhor. Palhaços: A que horas da tarde? Criançada: Às quatro horas da tarde. Palhaços: Hoje tem marmelada? Criançada: Tem sim, senhor. Palhaços: O palhaço o que é? Criançada: Ladrão de mulher.

Os cachorros ficavam furiosos com aquelas pessoas de pernas longas e caras pintadas e reagiam com muitos latidos.

Em um certo domingo, meu avô solicitou ao meu tio Francisquinho que levasse, no seu Jeep, os vaqueiros e seus familiares para assistir ao circo, no Distrito de Santo Antônio do Aracatiaçu. Neste dia eu também fiz parte da comitiva da Fazenda Aracati que foi assistir ao espetáculo circense. No domingo anterior, tio Francisquinho já tinha levado meus avós e eu para presenciar o espetáculo do circo Alegria, portanto, além de eu ter presenciado a chegada e a montagem do referido circo, quando eu estava passando uns dias com um parente meu, na Vila de Aracatiaçu, eu fui espectador, por duas vezes, do espetáculo do citado circo.

O trabalho de armação do circo, como fixação dos mastros, montagem do trapézio, montagem das arquibancadas, feitura da cerca externa, com entrada e bilheteria na frente, e colocação da empanada, era pago com ingressos de entrada no circo.

No inverno (período chuvoso), o circo não funcionava, pois não tendo lona de cobertura não podia proteger seus espectadores das chuvas.

Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço Benedito Vasconcelos Mendes.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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