Por Alfredo Bonessi
Quando um trem
vem chegando na estação os presentes param para admira- lo em
sinal de profundo respeito. Nas paradas mais afastadas dos centros urbanos
tanto as pessoas como os animais ficam imóveis, silenciosos, enquanto o
trem desliza pesado sobre os trilhos - aço rolando sobre aço, até a
parada final, e um jato de vapor esguicha pela lateral dos cilindros em sinal
de descanso e anunciando o final da longa e cansativa jornada.
Quando o trem vem surgindo ao longe, resfolegando e jogando no ar cartuchos de fumaça, o silêncio é quebrado por uma trovoada de metais em atrito - esse som vai aumentando a medida que se aproxima de um vilarejo. Um apito forte provocado pelo escape do vapor do chaminé da máquina alerta os presentes: saiam da frente!
Quando o trem vem surgindo ao longe, resfolegando e jogando no ar cartuchos de fumaça, o silêncio é quebrado por uma trovoada de metais em atrito - esse som vai aumentando a medida que se aproxima de um vilarejo. Um apito forte provocado pelo escape do vapor do chaminé da máquina alerta os presentes: saiam da frente!
Imagem da internet
Quando o trem
está desfilando pelo meio do povoado sente- se um tremor de terra provocado
pelo peso da carga a invadir o solo e se apossar das casas, fazendo estremecer
os telhados, as portas, as janelas - dando a impressão que tudo vira abaixo; um
certo temor, curiosidade e uma emoção inexplicável faz com que todos os
presentes cheguem às janelas e a medida que ele vai se afastando,
perdendo-se na curva, o silêncio e a rotina retornam outra vez
ao ambiente das casinhas enfileiradas ao redor da linha, deixando
sozinha a estrada de aço refletida aos raios do sol.
Ao longo da
história sabe- se que o trem substituiu a carroça. O jovem
camponês Chrysler, Norte Americano de nascença, aprendeu a regular as válvulas
da Maria fumaça vendo os mecânicos mais velhos executarem esse serviço. Desde
então era chamado a todos os cantos dos EUA para executar essa
difícil e complicada tarefa. Se a regulagem na ficasse bem feita e bem
ajustada a máquina não sairia domingão. Ainda muito novo Chrysler montou
em seu galpão o seu primeiro automóvel, considerado uma obra
prima para a época. Tornou- se um dos maiores fabricantes de veículos dos EUA.
Quis o destino que morre- se na flor da idade, mas seu legado nunca será
esquecido.
O vagão do trem recebe um rígido controle
de tráfego. Ele é numerado e seu proprietário recebe por dia. No
século XIX uma diária de um vagão nos EUA era de $ 2 (dois dólares) -
tinha empresário que possuía 1.836.000 mil vagões de trens.
Um vagão carregado sai da estação com uma
carga para um determinado endereço. Viaja atrelado ao comboio dos demais
vagões - todos para os mais variados destinos. Em determinado lugar ele é
desengatado da composição e engatado em outra, seguindo sempre para o endereço
da descarga. Uma vez descarregado , pode ser novamente carregado e seguir
destino para um outro local. Desse local podera seguir para outro e assim
sucessivamente, até encontrar uma carga que coincida com o seu lugar de origem,
quando então, retorna ao ponto do início da viagem, mas sempre bem
assistido, debaixo de rigoroso controle e sob rigorosa inspeção.
Necessitando de reparos ficará afastado da linha e passará por minuciosa
manutenção - recuperado passa a trabalhar novamente.
No Brasil, até a década de 70, o
trem era o preferido a outros veículos pela preço da passagem ser
barata e pelos incômodos que a estrada de chão causava em quem se
aventurasse a transitar com automóveis e caminhões pelos atoleiros e
buracos, principalmente nos dias de chuva.
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Naquela época as viagens de trem
eram cansativas e muito demoradas. Em poucos minutos dentro dos
vagões a expectativa da viagem sumia por completo da imaginação dos
viajantes, e cedia seu lugar ao enfado, ao olhar perdido dos
viajantes pela paisagem distante, que desfilava rapidamente aos olhos de todos,
muitos faziam da janela de madeira do trem um apoio para se
debruçarem ou um travesseiro para encosto da cabeça cansada.
O odor de tabaco queimado
saindo dos cachimbos, dos charutos, dos cigarros de palha lambida,
misturados ao suor do corpo das pessoas carregadas de roupas,
o cheiro enjoativo do perfume barato, tudo se misturava e deixava o ar
pesado e mal cheiroso.
O calor, o burburinho das conversas
desinteressantes entre passageiros desconhecidos - as tais prosa para
matar o tempo, uns de frente aos outros, olho no olho, obrigava por educação
a cada ouvinte ser educado, atencioso, e a fingir interessado
no papo, na esperava paciente para chegar a sua vez para então entrar em cena
no teatro da lorota, do ouvir dizer, das mentirinhas imaginadas, das
piadas sem graça muito em voga naquele tempo.
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O cheiro forte do carvão que
alimenta a locomotiva, expelido na atmosfera em forma de gás
pelo forte empuxo da máquina, se espalhava para todos os lados, e a
fuligem escura que saia da chaminé da máquina, envolvia todo o comboio
com uma tisna preta e carvoenta, que invadia o interior dos
vagões,sujava o traje dos passageiros, cobria tetos e os bancos e se
depositava no piso sujo que ficava coberto por um pó cinzento.
Aos poucos os viajantes iam se
acostumando com o persistente balanço para frente e para trás, e com o
sacolejo intermitente de um lado para outro, retimado entre o avanço e o
recuo dos vagões, característico da viagem de trem.
Comentava- se na ocasião que o trem corria
saltitando de dormente em dormente, sem pressa nenhuma para chegar ao
término da viagem e que isso era a principal razão para as
viagens serem intermináveis.
Mas a demora nas viagens não era tanto
pela velocidade da máquina, algo em torno de 70 km/ h, mas devido à burocracia
e a logística deficiente ocorrida no embarque e no desembarque das pessoas, na
carga e na descarga das mercadorias, pelas inúmeras paragens ao longo da
ferrovia.
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Ao longo da história dos trens inúmeras
vítimas sucumbiram sob o peso das máquinas: animais, pessoas colhidas de
surpresa pelo comboio, veículos de passageiros, caminhões de carga, todos
esmagados por falta de atenção aos avisos nos cruzamentos ou um por descuido
qualquer e foram pegos em cima dos trilhos, sem contar os inúmeros casos
de suicídios- pois em lance de completo desvario pessoas com a
saúde abalada ou por causa de dívidas impagáveis imaginaram que a solução
para seus problemas seria se jogar na frente de um trem.
Nos dias atuais sempre se encontra
alguma noticia estampada na primeira página dos jornais envolvendo
trens, como essa história um tanto macabra que li na semana
passada: um casal de namorados após ficarem noivos foram comemorar o
noivado em uma casa de show. Festejaram felizes até às últimas horas da
madrugada. Nas primeiras horas do dia foram caminhando para casa e
cansados se deitaram abraçados no meio dos trilhos. Adormeceram e o trem passou
por cima deles, matando a ambos.
O trem também serviu de motivo para
rebeliões sangrentas como foi a revolta do Contestado - uma disputa de
terras entre Paraná e Santa Catarina que imolou milhares de vítimas, que
foram assassinadas a bala, a fogo, muitas foram degoladas, enforcadas e outras
fuziladas.
A questão explodiu quando a ferrovia
São Paulo - Rio Grande foi inaugurada e por decisão do poder central 30
metros de terras de ambos os lados do seu traçado passaram a pertencer a
estrada de ferro, e os proprietários não foram indenizados. Isso provocou
um descontentamento entre eles. A insatisfação geral se acirrou a tal ponto que
o ódio substituiu a razão e o bom senso e grupos armados resolveram agir e
fazer justiça por conta própria e os assassinatos em série de pessoas inocentes
começaram em ambos os lados.
Foi preciso a intervenção do Exército Brasileiro na contenda e para acalmar os ânimos dos beligerantes foi designado o Marechal Rondon - o homem das virtudes e da paz, que com boas maneiras pôs fim ao conflito.
Foi preciso a intervenção do Exército Brasileiro na contenda e para acalmar os ânimos dos beligerantes foi designado o Marechal Rondon - o homem das virtudes e da paz, que com boas maneiras pôs fim ao conflito.
O tempo passou e uma Nova Era nos
transportes tomou conta de todos os caminhos. Veículos modernos, novas
tecnologias, novos traçados, estradas duplicadas, novas encomendas, novas
formas de negócio e um serviço de Correios veloz, moderno e eficiente fez
com os empresários e comerciantes, na ponta do lápis, chegassem
a conclusão que as ferrovias não davam lucros e os trens de
passageiros foram encostados, abandonados pelas antigas estações e hoje se
transformaram em peças de museus.
Mas a paixão inexplicável pelos
trens ainda continua, doendo nos corações das pessoas pela saudade dos trens ,
mesmo nos corações daquelas pessoas que nunca andaram aos sacolejos com
eles. Bonessi
Enviado pelo pesquisador do cangaço e capitão do exército Jorge Alfredo Bonessi.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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