Por Manoel Belarmino /pesquisador/ escritor
Recentemente,
eu postei aqui um texto de minha autoria com o título "A Cangaceira
Adelaide Soares e o Umbuzeiro da Bandida". O texto conta de forma resumida
a história da cangaceira Adelaide Soares, porém ainda eu não havia feito
nenhuma foto do local onde a cangaceira morreu. E agora volto a postar
novamente sobre esse assunto e com fotos do famoso Umbuzeiro da Bandida em
Curituba, no Município de Canindé de São Francisco. Fui na manhã de hoje, dia
11 de maio, na Curituba, buscar mais informações e, na companhia do jovem
Manoel de Juarandir, fui no Umbuzeiro da Bandida fazer as fotografias.
A mocinha
Adelaide Saores era filha de Dona Pureza e Lê Soares, ambos da Família Soares
do Sítio de Poço Redondo e tia do autor deste texto. A menina dos Soares deixou
sua família junto com a sua irmã Rosinha (Maria Rosa Soares), no mesmo dia,
para entrarem no Cangaço. Adelaide e Rosinha são primas da valente cangaceira
Áurea Soares. Adelaide foi conviver na vida cangaceira com o cangaceiro Criança
e Rosinha com Mariano.
Logo a
cangaceira Adelaide engravida. Mesmo grávida, as andanças pelas caatingas eram
intensas na companhia do cangaceiro Criança no bando. Os nove meses de gravidez
já se completavam. O coito nas serras da Serra Negra, entre Poço Redondo e
Lagoa da Serra Negra, poderia ser um lugar tranquilo para Adelaide "dar a
luz" ao menino.
Todos estão
ali tranquilamente acomodados no coito, naqueles meses finais do ano de 1936.
Os moradores da serra já haviam levado beiju, tapioca, farinha, pé-de-moleque,
e outros produtos para o bando no coito. Alguns barracos de palha de licuri já
estavam ali armados. O esconderijo é seguro. Mas um tiro inesperadamente é
disparado. Um tiro ecoou nas serras. Um cangaceiro, que havia entrado no
Cangaço há poucos dias, de nome Serapião, inexperiente, dispara,
acidentalmente, o seu rifle. Todos os cangaceiros fogem do coito às pressas.
Imaginam ser uma tentativa de cerco das volantes.
Naquele
corre-corre e no susto, Adelaide começa a sentir as "dores de
menino". Os cangaceiros andam muito pelas caatingas. Passam pelo
Boqueirão, Barra de Baixo, Risada, Surrão, Pedra D'água, e chegam na fazenda
Planta do Milho onde moram duas parteiras bastante conhecidas dos cangaceiros,
Dona Maria e a jovem Afonsina. As parteiras rapidamente recebem Adelaide. Fazem
de tudo, rezam, oferecem chás, mas o menino não nasce. "As dores de
menino" e o sofrimento da parturiente aumentam. Os cangaceiros
desesperados decidem levar Adelaide em uma rede para o povoado Curituba, em
Canindé de São Francisco, na tentativa de salvar a mãe e o menino. Antes de
chegar no povoado, Adelaide morre. A sombra de um pé de umbuzeiro serviu para o
derradeiro gemido de Adelaide.
O cangaceito
Criança acendeu uma vela de cera ali junto do corpo da sua amada, rezou e
chorou. Depois os cangaceiros levaram o corpo de Adelaide para o Cemitério de
Curituba, onde foi enterrado. O Cemitério de Curituba é aquele mesmo das
margens do Riacho Cutituba, pertinho do Quilombo Rua dos Negros.
No local da
morte da cangaceira Adelaide Soares, sob aquele pé de umbuzeiro, ainda existe
uma cruz. E aquele umbuzeiro é conhecido ainda hoje como "Umbuzeiro da
Bandida".
Aquele
umbuzeiro é testemunha do última gemido de uma cangaceira em dor de menino.
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