LIRA NETO E
THIAGO LINCOLINS PUBLICADO EM 29/10/2018,
O jornalista
Wagner Barreira mostra como o amor de Maria Bonita e Lampião provocou uma
revolução no cotidiano dos cangaceiros.
Uma sertaneja
amoleceu o coração de pedra do Rei do Cangaço. Foi Maria Gomes de Oliveira, a
Maria Déa, também conhecida como Maria Bonita. Separada do antigo marido, o
sapateiro José Miguel da Silva, o Zé de Neném, foi a primeira mulher a entrar
no cangaço. Antes dela, outros bandoleiros chegaram a ter mulher e filhos, mas
nenhuma esposa até então havia ousado seguir o companheiro na vida errante no
meio da caatinga.
O primeiro
encontro entre os dois foi em 1929, em Malhada de Caiçara (BA), na casa dos
pais de Maria, então com 17 anos e sobrinha de um coiteiro de Virgulino. No ano
seguinte, a moça largou a família e aderiu ao cangaço, para viver ao lado do
homem amado. Quando soube da notícia, o velho mestre de Lampião, Sinhô Pereira,
estranhou. Ele nunca permitira a presença de mulheres no bando. Imaginava que
elas só trariam a discórdia e o ciúme entre seus “cabras”. Mas, depois da
chegada de Maria Déa, em 1930, muitos outros cangaceiros seguiram o exemplo do
chefe.
Mulher
cangaceira não cozinhava, não lavava roupa e, como ninguém no cangaço possuía
casa, também não tinha outras obrigações domésticas. No acampamento, cozinhar e
lavar era tarefa reservada aos homens. Elas também só faziam amor, não faziam a
guerra: à exceção de Dadá, mulher do cangaceiro Corisco e depois líder ela
própria, não participavam dos combates – e com Maria Bonita não foi diferente.
O papel que lhes cabia era o de fazer companhia a seus homens.
A chegada das
mulheres coincidiu com o período de decadência do cangaço. Desde que passou a
ter Maria Bonita a seu lado, Lampião alterou a vida de eterno nômade por
momentos cada vez mais alongados de repouso, especialmente em Sergipe. A
influência de Maria Déa sobre o cangaceiro era visível. Foi em um desses
momentos de pausa e idílio no sertão sergipano que o Rei do Cangaço acabou
sendo surpreendido e morto, na Grota do Angico, em 1938, depois da batalha
contra as tropas do tenente José Bezerra.
Agora, o
livro Lampião e Maria Bonita - Uma história de amor e balas, de
Wagner Barreira, ex-editor da AH, apresenta uma biografia completa do
casal de cangaceiros. Após se debruçar em artigos e realizar entrevistas com
familiares de Lampião e Maria Bonita, Barreira oferece ao leitor uma
oportunidade de conhecer detalhes da vida dos personagens. São relatados os
momentos mais importantes do rei do cangaço e sua amada.
As cabeças dos
cangaceiros expostas após a execução - Reprodução
A obra
impressiona pela exatidão dos fatos narrados. Um exemplo, é o capítulo que
detalha a insólita exposição da cabeça dos cangaceiros após a execução. Confira
um trecho:
Uma a uma, os
soldados retiram as onze cabeças das latas de querosene. Ajeitadas em forma de
pirâmide invertida nos quatro degraus da prefeitura de Piranhas, interior de
Alagoas, elas fedem, pingam uma mistura de álcool, salmoura e fluidos humanos.
Lampião ocupa o centro do primeiro degrau, a pele morta e encharcada puxa
olhos, bochechas e boca para baixo, como se escorressem pelas laterais do
crânio. Há marca de bala no rosto, as orelhas estão desalinhadas. Os tecidos
não parecem colados ao osso.
Lampião e
Maria Bonita - Uma história de amor e balas, Wagner Barreira, Editora
Planeta, 224 páginas, R$ 44,90.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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