Jorge Amado
visita a poetisa Cora Coralina em sua modesta e antiga casa em Goiás Velho, que
se tornou uma Casa-Museu, aberto à visitação.
ADENDO: - J. Mendes Pereira
Biografia de Cora Coralina
Cora Coralina, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de 1985), foi uma poetisa e contista brasileira. Considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras, ela teve seu primeiro livro publicado em junho de 1965 (Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais),[1] quando já tinha quase 76 anos de idade, apesar de escrever seus versos desde a adolescência.[2][3][4]
Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.
Biografia
Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, que adotou o pseudônimo de Cora Coralina, era filha de Francisco de Paula Lins dos Guimarães Peixoto, desembargador nomeado por D. Pedro II, e de dona Jacyntha Luiza do Couto Brandão.
Ela nasceu e foi criada às margens do Rio Vermelho. Estima-se que essa casa foi construída em meados do Século XVIII, tendo sido uma das primeiras edificações da antiga Vila Boa (Goiás), tendo vários moradores, dentre eles o Capitão-Mor da Coroa Portuguesa. Em 1825 a casa foi posta em hasta pública pela fazenda Real e adquirida pelo Sargento-Mor João José do Couto Guimarães, trisavô de Cora Coralina[5].
Começou a escrever os seus primeiros textos aos 14 anos, publicando-os posteriormente nos jornais da cidade de Goiânia, e nos jornais de outras cidades, como constitui exemplo o semanário "Folha do Sul" da cidade goiana de Bela Vista e nos periódicos de outros rincões, assim como a revista A Informação Goiana do Rio de Janeiro, que começou a ser editada a 15 de julho de 1917. Apesar da pouca escolaridade, uma vez que cursou somente as primeiras quatro séries, com a Mestra Silvina (Mestre-Escola Silvina Ermelinda Xavier de Brito (1835 - 1920)). Conforme Assis Brasil, na sua antologia "A Poesia Goiana no Século XX" (Rio de Janeiro: IMAGO Editora, 1997, página 66), "a mais recuada indicação que se tem de sua vida literária data de 1907, através do semanário 'A Rosa', dirigido por ela própria e mais Leodegária de Jesus, Rosa Godinho e Alice Santana." Todavia, constam trabalhos seus nos periódicos goianos antes dessa data. É o caso da crônica "A Tua Volta", dedicada 'Ao Luiz do Couto, o querido poeta gentil das mulheres goianas', estampada no referido semanário "Folha do Sul", da cidade de Bela Vista, ano 2, n. 64, p. 1, 10 de maio de 1906. No jornal Tribuna Espírita - Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1905.
Ao tempo em que publica essa crônica, ou um pouco antes, Cora Coralina começa a frequentar as tertúlias do "Clube Literário Goiano", situado em um dos salões do sobrado de dona Virgínia da Luz Vieira. Que lhe inspira o poema evocativo "Velho Sobrado". Quando começa então a redigir para o jornal literário "A Rosa" (1907). Publicou, nessa fase, em 1910, o conto Tragédia na Roça.
Casamento e vida no interior de São Paulo
Em 1911, foi para o estado de São Paulo com o advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, que exercia o cargo de Chefe de Polícia, equivalente ao de secretário da Segurança, do governo do presidente Urbano Coelho de Gouvêa (1909 - 1912) , onde viveu durante 45 anos, inicialmente no município de Jaboticabal onde nasceram seus seis filhos: Paraguaçu, Eneas, Cantídio, Jacyntha, Ísis e Vicência. Ísis e Eneas morreram logo depois de nascer.
Em 1922, foi convidada para participar da Semana de Arte Moderna, porém, o marido, Cantídio Breta, opõe-se à sua participação.[6]
Em 1924, mudou para São Paulo. Ao chegar à capital, teve de permanecer algumas semanas trancada num hotel em frente à Estação da Luz, uma vez que os revolucionários de 1924 haviam parado a cidade.
Em 1930, presenciou a chegada de Getúlio Vargas à esquina da rua Direita com a Praça do Patriarca. Seu filho Cantídio participou da Revolução Constitucionalista de 1932, Cora Coralina também alistou-se como enfermeira e costurando uniformes.
Com a morte do marido, passou a vender livros para a Editora José Olympio, foi também colaboradora do jornal O Estado de S. Paulo [7]. Posteriormente, mudou-se para Penápolis, no interior do estado, onde passou a produzir e vender linguiça caseira e banha de porco. Mudou-se em seguida para Andradina, cidade que atualmente, mantém uma casa da cultura com seu nome, em homenagem, onde chegou a escrever para o jornal da cidade.
Retorno a Goiás
Em 1956, retorna a Goiás.
Ao completar 50 anos, a poetisa relata ter passado por uma profunda transformação interior, a qual definiria mais tarde como "a perda do medo". Nessa fase, deixou de atender pelo nome de batismo e assumiu o pseudônimo que escolhera para si muitos anos antes. Durante esses anos, Cora não deixou de escrever poemas relacionados com a sua história pessoal, com a cidade em que nascera e com ambiente em que fora criada. Ela chegou ainda a gravar um LP declamando algumas de suas poesias. Lançado pela gravadora Paulinas Comep, o disco ainda pode ser encontrado hoje em formato CD.
Em 1970 tomou posse da da cadeira n. 5 da Academia Feminina de Letras de Goiás. Em 1984 toma posse da cadeira n. 38 da Academia Goiânia de Letras[8].
Morte
Cora Coralina faleceu em Goiânia, aos 95 anos, de pneumonia. A sua casa na Cidade de Goiás foi transformada num museu em homenagem à sua história de vida e produção literária [9][10].
Primeiros passos literários
Os elementos folclóricos que faziam parte do cotidiano de Anna serviram de inspiração para que aquela frágil mulher se tornasse a dona de uma voz inigualável e sua poesia atingisse um nível de qualidade literária jamais alcançado até aí por nenhum outro poeta do Centro-Oeste brasileiro.
Senhora de poderosas palavras, Anna escrevia com simplicidade e seu desconhecimento acerca das regras da gramática contribuiu para que sua produção artística priorizasse a mensagem ao invés da forma. Preocupada em entender o mundo no qual estava inserida, e ainda compreender o real papel que deveria representar, Anna parte em busca de respostas no seu cotidiano, vivendo cada minuto na complexa atmosfera da Cidade de Goiás, que lhe permitiu a descoberta de como a simplicidade pode ser o melhor caminho para atingir a mais alta riqueza de espírito.
Divulgação nacional
Foi ao ter a segunda edição (1978) de Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, composta e impressa pelas Oficinas Gráficas da Universidade Federal de Goiás, com capa (retratando um dos becos da cidade de Goiás) e ilustrações elaboradas pela consagrada artista Maria Guilhermina, orelha de J.B. Martins Ramos, e prefácio de Oswaldino Marques, saudada por Carlos Drummond de Andrade no Jornal do Brasil, a 27 de dezembro de 1980, que Aninha, já conhecida como Cora Coralina, ganhou a atenção e passou a ser admirada por todo o Brasil. "Não estou fazendo comercial de editora, em época de festas. A obra foi publicada pela Universidade Federal de Goiás. Se há livros comovedores, este é um deles." Manifesta-se, ao ensejo, o vate Drummond [11].
Carlos Drummond de Andrade lhe escreveu a seguinte carta , após ler Vintém de Cobre.
A primeira edição de Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais, seu primeiro livro, foi publicado pela Editora José Olympio em 1965, quando a poetisa já contabilizava 75 anos. Reúne os poemas que consagraram o estilo da autora e a transformaram em uma das maiores poetisas lusófonas do século XX. Já a segunda edição, repetindo, saiu em 1978 pela imprensa da UFG. E a terceira, em 1980. Desta vez, pela recém implantada editora da UFG, dentro da Coleção Documentos Goianos.
Onze anos depois da primeira edição de Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais, compôs, em 1976, Meu Livro de Cordel. Finalmente, em 1983 lançou Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha (Ed. Global).
Prêmios
Cora Coralina recebeu diversos prêmios dentre eles:
- Em 1983, recebe o título de Doutora Honoris Causa da UFG (Universidade Federal de Goiás).
- Em 1981, recebeu o Troféu Jaburu, concedido pelo Conselho de Cultura de Goiais[13].
- Em 1983, foi eleita intelectual do ano e contemplada com o Prêmio Juca Pato da União Brasileira dos Escritores.
- A 31 de janeiro de 1999, a sua principal obra, Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, foi aclamada através de um seleto júri organizado pelo jornal O Popular, de Goiânia, uma das 20 obras mais importantes do século XX. Enfim, Cora torna-se autora canônica.
- Em 1983, recebe a Medalha Anhanguera, do Governo do Estado de Goiás.
- Em 1984, ocupa a cadeira de n° 38 da Academia Goiana de Letras.[13]
- Postumamente, em 2006 , ela recebeu a condecoração de Ordem do Mérito Cultural.
Homenagens
Museu Cora Coralina
Criado pela Fundação Cora Coralina e inaugurado em 1989, o museu é mantido da mesma forma de quando Cora habitava [14], abriga em seu acervo objetos de uso pessoais de Cora Coralina, como roupas, móveis, utensílios domésticos, fotos, livros e cartas no interior da casa, além do jardim nos fundos da casa e a bica de água potável. O Museu está localizado nas margens do Rio Vermelho na Cidade de Goiás . Também conhecida como Casa Velha da Ponte, foi edificada no século XVIII, para uso do Quinto Real [15][16].
Lista de obras
Em ordem cronológica, as obras de Cora Coralina:[17]
Poemas
- Poemas dos Becos de Goiás e estórias mais (poesia), 1965 (Editora José Olympio).
- Meu Livro de Cordel, (poesia), 1976
Contos
- Vintém de Cobre - Meias Confissões de Aninha (poesia), 1983
- Estórias da Casa Velha da Ponte (contos), 1985
Póstumo
- Meninos Verdes (infantil), 1986 (póstumo)
- Tesouro da Casa Velha (poesia), 1996 (póstumo)
- A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu (infantil), 1999 (póstumo)
- Vila Boa de Goiás (poesia), 2001 (póstumo)
- O Prato Azul-Pombinho (infantil), 2002 (póstumo)
Referências
- ↑ BRITTO, Clovis Carvalho (2007). «Um teto todo seu: o itinerário poético-intelectual de Cora Coralina» (PDF). Anais do XII Seminário Nacional Mulher e Literatura e do III Seminário Internacional Mulher e Literatura – Gênero, Identidade e Hibridismo Cultural. Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus/Bahia. Consultado em 21 de agosto de 2016
- ↑ VARELLA, Ana Maria Ramos Sanchez (2009). «A reescrita, na morte, da experiência de vida». Revista Kairós. Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia e Núcleo de Estudos e Pesquisas do Envelhecimento da PUC-SP. Consultado em 21 de agosto de 2016
- ↑ «Escritoresː Cora Coralina». Infoescola.com
- ↑ «Cora Coralina: a impressionante história da poeta que publicou seu primeiro livro aos 75 anos». Revista Bula. 6 de setembro de 2021. Consultado em 11 de fevereiro de 2022
- ↑ www.jduartedesign.com, Joao Duarte-J. Duarte Design-. «Cora Coralina» (em inglês). Consultado em 13 de maio de 2023
- ↑ «Cora Coralina de Goiás e do mundo». Conexão Tocantins. 4 de fevereiro de 2010. Consultado em 13 de maio de 2023
- ↑ Oliveira, Catarina. «Cora Coralina - biografia da escritora brasileira». InfoEscola. Consultado em 6 de outubro de 2022
- ↑ «Biografia de Cora Coralina». eBiografia. Consultado em 6 de outubro de 2022
- ↑ «Terra de Cora Coralina, cidade de Goiás exala histórias e poesias - 24/09/2015 - Turismo - Folha de S.Paulo». m.folha.uol.com.br. Consultado em 6 de outubro de 2022
- ↑ «Continue lendo com acesso ilimitado.». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 6 de outubro de 2022
- ↑ «Quem foi Cora Coralina». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 6 de outubro de 2022
- ↑ «O dia em que Drummond descobriu Cora Coralina». Biblioteca Central Irmão José Otão – PUCRS
- ↑ ab «Cora Coralina: carreira literária, prêmios, poemas». Brasil Escola. Consultado em 13 de maio de 2023
- ↑ «Folha de S.Paulo - Turismo - Casa de Cora Coralina abriga museu com objetos da escritora - 30/08/2012». Folha online. Consultado em 15 de novembro de 2022
- ↑ Museu Casa de Cora Coralina | Conhecendo Museus | TV Brasil | Educação, 28 de abril de 2014, consultado em 15 de novembro de 2022
- ↑ «Folha de S.Paulo - Goiás Velho estacionou no século 18 - 12/07/99». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 15 de novembro de 2022
- ↑ Enciclopédia Itaú Cultural (s/d). «Verbete "Cora Coralina"». Itaú Cultural. Consultado em 14 de outubro de 2014
Bibliografia
- TAHAN, Vicência Bretas. Cora Coragem, Cora Poesia. Global Editora, 1989.
- CORALINA, Cora. Villa Boa de Goyaz. Global Editora, 2001.
- DENÓFRIO, Darcy França. Cora Coralina - Coleção Melhores Poemas - Global Editora, 2004. Darcy Franca Denofrio
- DENÓFRIO, Darcy França; CAMARGO, Goiandira Ortiz de. Cora Coralina: Celebração da Volta. Cânone Editorial, 2006. Darcy Franca Denofrio.
- BRITTO, Clóvis Carvalho; SEDA, Rita Elisa. Cora Coralina - Raízes de Aninha. Editora Ideias & Letras, 2011, 2a. edição.
Jorge Amado OMC • GOSE • GOIH • CBJM (Itabuna, 10 de agosto de 1912 — Salvador, 6 de agosto de 2001), foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos[5][6], sendo o autor mais adaptado para o cinema, teatro e televisão. Verdadeiros sucessos como Dona Flor e Seus Dois Maridos, Tenda dos Milagres, Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Tereza Batista Cansada de Guerra foram criações suas.[7] Sua obra literária – 49 livros, ao todo – também já foi tema de escolas de samba por todo o País. Seus livros foram traduzidos em 80 países, em 49 idiomas,[8] bem como em braille e em fitas gravadas para cegos.[5]
Integrou os quadros da intelectualidade comunista brasileira desde o final da primeira metade do século XX - ideologia presente em várias obras, como a retratação dos moradores do trapiche baiano em Capitães da Areia, de 1937.
Jorge foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho. Mas em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994, a sua obra foi reconhecida com o Prémio Camões.[9]
Biografia
Nascido em uma fazenda que ficava em Ferradas, um antigo distrito da recém emancipada Itabuna, Jorge Amado logo migraria para viver na cidade de Ilhéus por causa de uma forte enchente do Rio Cachoeira e por causa do surto de varíola e de gripe espanhola que sucedeu naquela parte do chão grapiúna, mas, foi registrado no cartório do povoado de Ferradas, como filho mais velho do Coronel João Amado de Faria e sua esposa de Eulália Leal.[7][10] Teve outros três irmãos: Jofre, Joelson e James, único nascido em Ilhéus.[10]
Foi justamente na sede da antiga capitania de São Jorge dos Ilhéus que Jorge passou parte de sua infância, por isso, muitos atribuem seu local de nascimento a cidade que serviu de cenário para os romances e novelas da temática do cacau.
Já adolescente, aos 14 anos, começou efetivamente a participar da vida literária, em Salvador. Foi um dos fundadores da "Academia dos Rebeldes", grupo de jovens que desempenhou um importante papel na renovação da literatura baiana. Os seus trabalhos eram publicados em revistas fundadas por eles mesmos.[10]
Foi para o Rio de Janeiro, então a capital do País, para estudar na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, atual Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).[7] Durante a década de 1930, a faculdade era um polo de discussões políticas e de arte, tendo ali travado seus primeiros contatos com o movimento comunista organizado.[5] Tornou-se um jornalista, e envolveu-se com a política ideológica comunista, como muitos de sua geração. Em 1946 foi eleito deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) em São Paulo, o que lhe rendeu fortes pressões políticas.[11] Como deputado, foi o autor da emenda que garantiu a liberdade religiosa devido a ter visto o sofrimento dos que seguiam cultos africanos bem como protestantes no Ceará serem saqueados por fanáticos com uma cruz à frente – buscou assinaturas até conseguir a aprovação da sua emenda, e desde então a liberdade religiosa tornou-se lei.[5]
A sua obra é uma das mais significativas da moderna ficção brasileira, sendo voltada essencialmente às raízes nacionais. São temas constantes nela os problemas e injustiças sociais, o folclore, a política, as crenças, as tradições e a sensualidade do povo brasileiro, contribuindo assim para a divulgação deste aspecto do mesmo.
Era primo do advogado, escritor, jornalista e diplomata Gilberto Amado[12], de Gilson Amado, fundador da TV Educativa e da atriz Véra Clouzot.[13]
Foi casado com a também escritora Zélia Gattai, a qual o sucedeu em 2002 na cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras. Com ela, teve dois filhos: João Jorge (nascido em 25 de novembro de 1947) e Paloma Jorge (nascida em 19 de agosto de 1951).[14] Teve ainda outra filha, Eulália Dalila Amado (nascida em 1935, que morreu precocemente quando tinha apenas 14 anos, em 1949), fruto de um casamento anterior com Matilde Garcia Rosa.[10][14]
Viveu exilado na Argentina e no Uruguai (1941 a 1942), em Paris (1948 a 1950) e em Praga (1951 a 1952). Como um escritor profissional, viveu quase que exclusivamente dos direitos autorais de seus livros.
Durante o exílio na União Soviética, foi vigiado tanto pela CIA,[15] quanto pelos serviços de segurança soviéticos.[16]
Desligou-se do PCB em 1956, depois das denúncias de Nikita Khruchev contra Stálin no 20º Congresso do Partido Comunista da União Soviética.[17]
Em 1958 publicou Gabriela, Cravo e Canela, que representou um momento de mudança na produção literária do autor que até então abordava temas sociais.[18] Nesta segunda fase faz uma crônica de costumes, marcada por tipos populares, poderosos coronéis e mulheres sensuais.[18] Além de Gabriela, Cravo e Canela, os romances Dona Flor e seus dois maridos e Tereza Batista cansada de guerra são representativos desta fase.[18] Apesar do "turning-point" na obra, não deixou de ser publicado na URSS.[19]
Publicada pela primeira vez em 1966, a obra Dona Flor e seus dois maridos é considerada uma crônica de costumes da vida baiana. Regida sob a inspiração do realismo fantástico, a história mostra D. Flor como uma mulher que consegue realizar a fantasia de levar para a cama o marido falecido e o atual ao mesmo tempo. O primeiro, um malandro; o segundo, exatamente o seu contrário - só assim D. Flor sente-se realmente completa e feliz. O livro é pontuado de receitas culinárias, ritos de candomblé e exemplos de uma contradição que tão bem retrata o Brasil: o convívio do sério com o irresponsável, o prazer e o dever, a regra e o “jeitinho”. Sucesso editorial, D. Flor se tornou uma das mais populares personagens da literatura nacional.[20]
Na década de 1990, porém, viveu forte tensão e expectativa de um grande baque nas economias pessoais, com a falência do Banco Econômico, onde tinha suas economias. Não chegou porém a perder suas economias, já que o banco acabou sofrendo uma intervenção do Governo.[6]
Com a saúde debilitada havia alguns anos, morreu em 6 de agosto de 2001 devido a uma parada cardiorrespiratória.[21] Em junho do mesmo ano, já havia sido internado por causa de uma crise de hiperglicemia.[21] O corpo de Jorge Amado foi cremado e suas cinzas enterradas em sua casa no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. As cinzas de Zélia também estão depositadas no mesmo local, quando morreu em 2008.[22] Hoje funciona no local a Casa do Rio Vermelho, expondo lembranças da vida do casal de escritores.[23]
Uma das suas obras é o O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá que foi feita para o seu filho João Jorge, quando este completou um ano de idade. O texto andou perdido e só em 1978 conheceu a sua primeira edição, depois de ter sido recuperado pelo seu filho e levado a Carybé para ilustrar.
Crenças e estilo literário
Mesmo dizendo-se materialista, Amado era um praticante da Umbanda e do Candomblé – religião esta última na qual exercia o posto de honra de Obá de Xangô no Ilê Axé Opô Afonjá, do qual muito se orgulhava. Amigos que Amado prezava no Candomblé eram as mães-de-santo Mãe Aninha, Mãe Senhora, Mãe Menininha do Gantois, Mãe Stella de Oxóssi, Mãe Olga do Alaqueto, Mãe Mirinha do Portão, Mãe Cleusa Millet, Mãe Carmem e o pai-de-santo Luís da Muriçoca.
Como Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, José Américo de Almeida, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, Amado representava o modernismo regionalista (segunda geração do modernismo).[24]
Em sua atuação literária apresentou duas fases distintas: primeiramente de claro cunho social e político, que podem ser vistas em obras como O País do Carnaval, Cacau, Suor, Jubiabá, Capitães de areia e Os subterrâneos da liberdade, entre outras. Já em obras como Gabriela, cravo e canela, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Tenda dos milagres, Tereza Batista cansada de guerra e Tieta do Agreste, pode-se ver um aspecto mais regionalista, segundo opinião do professor, crítico e historiador de literatura brasileira Alfredo Bosi:
Traduções das obras
A obra de Jorge já foi editada em 55 países, e vertida para 49 idiomas: albanês, alemão, árabe, armênio, azeri, búlgaro, catalão, chinês, coreano, croata, dinamarquês, eslovaco, esloveno, espanhol, esperanto, estoniano, finlandês, francês, galego, georgiano, grego, guarani, hebraico, holandês, húngaro, iídiche, inglês, islandês, italiano, japonês, letão, lituano, macedônio, moldávio, mongol, norueguês, persa, polonês, romeno, russo (também três em braille), sérvio, sueco, tailandês, tcheco, turco, turcomano, ucraniano e vietnamita.
Prêmios, títulos e homenagens
O escritor recebeu vários prêmios nacionais e internacionais. Recebeu também graus de Comendador e de Grande-Oficial, nas ordens da Argentina, Chile, Espanha, França, Portugal e Venezuela, Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada de Portugal a 8 de março de 1980 e Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique a 14 de julho de 1986,[25] além de ter sido feito Doutor Honoris Causa por mais de dez universidades no Brasil, Itália, Israel, França e Portugal. O título de Doutor pela francesa Sorbonne foi o último que recebeu em pessoa durante sua derradeira viagem a Paris em 1998, quando já estava doente.[7]
Foi membro correspondente da Academia de Ciências e Letras da República Democrática da Alemanha; da Academia das Ciências de Lisboa; da Academia Paulista de Letras; e membro especial da Academia de Letras da Bahia.[26]
Em 1961 foi lançado, o livro "Jorge Amado - 30 Anos de Literatura".[27]
Em 1967, a União Brasileira de Escritores (UBE) fez a proposta ao comitê do Prémio Nobel indicado Amado a concorrer ao Nobel de Literatura, porém o próprio recusou. No ano seguinte, torna a fazer a proposta.[28]
Em 2012, o Correio do Brasil lançou o Selo Jorge Amado 100 anos, em homenagem ao centenário de nascimento do escritor,[29] como também foi homenageado pela escola de samba Imperatriz Leopoldinense com o enredo Jorge, Amado Jorge.[30]
Em 4 de dezembro de 2014 recebeu (post mortem) da Assembleia Legislativa da Bahia a Comenda de Cidadão Benemérito da Liberdade e da Justiça Social João Mangabeira,[nota 1] em razão de sua trajetória em defesa dos interesses sociais, a mais alta honraria do Estado.[31]
Em 2017 foi homenageado pela ciência brasileira ao ter seu nome dado inspiração para batizar uma nova espécie de anfíbio descoberta no território brasileiro, a Phyllodytes amadoi.[32]
Academia Brasileira de Letras
Jorge Amado foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 6 de abril de 1961, ocupando a cadeira 23, cujo patrono é José de Alencar e que pertencia anteriormente a Otávio Mangabeira. De sua experiência acadêmica bem como para retratar os casos dos imortais da ABL, publicou Farda, fardão, camisola de dormir numa alusão clara ao formalismo da entidade e à senilidade de seus membros da época.[5]
Cartas
São mais do que 100 000 páginas em processo de catalogação as cartas trocadas com gente do mundo inteiro, guardadas em um acervo isolado de sua fundação. A doação foi entregue com uma ressalva, por escrito: "Jorge escreveu que somente cinquenta anos após sua morte esse material devia ser aberto ao público", segundo a poeta Myriam Fraga, que dirige a casa desde sua criação há vinte anos.
De relatos sobre livros e obras de arte a fatos do cotidiano, correspondeu-se com grandes escritores, poetas e intelectuais de seu tempo: Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato e Gilberto Freyre, entre tantos outros brasileiros; Pablo Neruda, Gabriel García Márquez e José Saramago, entre tantos outros estrangeiros. No campo da política, a correspondência se estabeleceu com nomes os mais variados como: Juscelino Kubitschek, François Mitterrand e Antônio Carlos Magalhães.
As cartas mostram como o escritor recebia os mais imprevistos pedidos bem como apresentava pessoas umas às outras em época em que era intenso o diálogo via postal. A correspondência pessoal de Jorge Amado pode oferecer inestimável fonte de pesquisa.[5]
Alguns trechos retirados de reportagem exclusiva, por Josélia Aguiar, à Revista Entre Livros - Ano 2 - nº 16:
- De Gláuber Rocha, sem data, sobre a nova película (A idade da terra, de 1980). "Comecei o dia chorando a morte de Clarice (Lispector)", inicia assim a carta para adiante falar sobre o novo filme: "Está sendo feito como você escreve um romance. Cada dia filmo de dois a sete planos, com som direto, improvisado a partir de certos temas. (…) Estou, enfim, tendo a sensação de 'escrever com a câmera e com o som', tentando um caminho que fundiu a cuca do Jece (Valadão, ator) (…)".
- Mário de Andrade, logo após ler Mar morto, em 1936, elogia o que chama de "realidade honesta" e a "linda tradição de meter lirismo de poesia na prosa": "Acaba de se doutorar em romance o jovem Jorge Amado, grande promessa do mundo intelectual".
- Monteiro Lobato, também sob forte impressão após ler Mar morto, 1936: "Li-o com a mesma emoção trágica que seus livros sempre me despertam", e conta que, ao visitar o cais do porto de Salvador, havia "previsto" que a obra seria escrita: "Qualquer dia o Jorge Amado presta atenção e pinta os dramas que devem existir aqui. Adivinhei.".
- Pablo Neruda (em carta breve, com data de 16 de outubro e ano incerto, escrita a mão): "Será que no Brasil eu poderia fazer um ou dois recitais pagos?" (…) "Haverá algum empresário interessado em organizar com seriedade essa turnê?" (…).
Entre outros que faziam parte do círculo de amizades de Jorge Amado vale citar: Federico Fellini, Alberto Moravia, Yves Montand, Jorge Semprún, Pablo Picasso, Oscar Niemeyer, Vinícius de Moraes, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir.[33]
Obras publicadas
Em 1995 iniciou-se o processo de revisão da obra do escritor por sua filha Paloma e os livros ganharam novo projeto gráfico. Atualmente, os direitos pertencem a editora Companhia das Letras, que está relançando todos os seus livros.[34][35]
Adaptações
Muitas de suas obras foram adaptadas para cinema, TV, teatro e rádio, bem como para histórias em quadrinhos.[10][26] Em 1960 estreou na TV Tupi a adaptação de Gabriela, Cravo e Canela, de Antônio Bulhões de Carvalho e dirigida por Maurício Sherman. Em 1975, outra adaptação do romance Gabriela, feita por Walter George Durst estreou na televisão pela Rede Globo. Em 1976 estreou no cinema Dona Flor e seus Dois Maridos com direção de Bruno Barreto. O filme foi um sucesso de bilheteria, assistido por mais de dez milhões de espectadores. Ainda virou minissérie e peça. Em 1982 e 1987 estrearam, respectivamente, no teatro Capitães de Areia e O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá. A Rede Bandeirantes levou ao ar uma adaptação de Capitães de Areia a televisão em 1989. No mesmo ano, a Rede Globo estreou a telenovela Tieta, com direção de Reynaldo Boury, Ricardo Waddington, Luiz Fernando Carvalho e Paulo Ubiratan. Em 1995, a Rede Manchete adaptou a obra Tocaia Grande para televisão. Em 1998, foi ao ar mais uma adaptação da obra Dona Flor e Seus Dois Maridos, desta vez em formato de minissérie. Em 2012, o remake de 1975 de Gabriela foi exibido pela Rede Globo.
Ver também
Notas
- ↑ Título criado em 1993. Apenas seis cidadãos fizeram jus ao mesmo, dentre os quais; Taurino Araújo, Waldir Pires, Haroldo Lima e Fernando Santana.
Referências
- ↑ Nome Completo: JORGE LEAL AMADO DE FARIA CPDOC - FGV - acessado em 25 de outubro de 2017
- ↑ Jorge Leal Amado de Faria, o Jorge Amado Arquivado em 29 de outubro de 2017, no Wayback Machine. DEC - Universidade Federal de Campina Grande - acessado em 25 de outubro de 2017
- ↑ «Perfil e Opinião - João Jorge Amado». Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia
- ↑ «Amadas Memórias». Revista Personnalité. Itaú
- ↑
- ↑a b ALVES, Alessandro Fernandes. «JORGE AMADO: SUA TRAJETÓRIA E A RELAÇÃO DE SUA OBRA PARA COM A TV» (PDF). Travessias Alternativas. Consultado em 9 de maio de 2017. Arquivado do original (PDF) em 1 de outubro de 2015
- ↑a b c d «Jorge Amado - Biografia». UOL - Educação. Consultado em 6 de agosto de 2012
- ↑ «A cultura e a baianidade de Jorge Amado». Gazeta do Povo. Consultado em 22 de janeiro de 2013
- ↑ «Prêmio Camões de Literatura». Brasil: Fundação Biblioteca Nacional. Cópia arquivada em 16 de Março de 2016
- ↑
- ↑ «Trajetória de Jorge Amado une literatura, política e exílio». Folha de S.Paulo. 23 de junho de 2001. Consultado em 19 de setembro de 2018
- ↑ «Recordando Gilberto Amado». Brasil 247. 14 de setembro de 2011. Consultado em 9 de maio de 2017
- ↑ «Vera Amado Clouzot, atriz de cinema de (As Diabólicas, e O Salário do Medo)». O Explorador. 7 de agosto de 2012. Consultado em 9 de maio de 2017
- ↑
- ↑ «Documentos da CIA revelam investigações sobre Jorge Amado - 11/02/2017 - Ilustrada - Folha de S.Paulo». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 28 de fevereiro de 2017
- ↑ Darmaros, Marina Fonseca (29 de novembro de 2019). «Caso Jorge Amado: o poder soviético e a publicação de Gabriela, Cravo e Canela»
- ↑ http://www.jorgeamado.com.br/vida.php3?pg=1
- ↑a b c «Gabriela Cravo e Canela: Síntese da obra». UOL Educação, Pesquisa Escolar. 21 de agosto de 2012. Consultado em 22 de janeiro de 2013
- ↑ Darmaros, Marina (24 de janeiro de 2017). «Por que ler Jorge Amado em russo: a cultura soviética revelada na tradução de Gabriela». Tradterm. 28 (0): 223–248. ISSN 2317-9511. doi:10.11606/issn.2317-9511.v28i0p223-248
- ↑ «Centenário de Jorge Amado». Portal Educar para Crescer. Consultado em 1 de abril de 2013. Arquivado do original em 7 de novembro de 2013
- ↑a b «Morre, aos 88 anos, o escritor Jorge Amado». Folha Online. 6 de agosto de 2001. Consultado em 22 de janeiro de 2013
- ↑ «Família quer transformar casa de Jorge Amado em museu». IG. 10 de agosto de 2012. Consultado em 15 de maio de 2014
- ↑ «Casa de Jorge Amado é aberta para visitação do público em Salvador». G1. 14 de novembro de 2014. Consultado em 20 de setembro de 2015
- ↑a b Emília Amaral; Mauro Ferreira, Ricardo Leite, Severino Antônio (2010). Novas palavras, nova coleção 1 ed. São Paulo: FTD. p. 163. ISBN 9788532274922
- ↑ «Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Jorge Amado". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 17 de fevereiro de 2015
- ↑
- ↑ «Jorge Amado : 30 anos de literatura». bdlb.bn.br. 1 de janeiro de 1961. Consultado em 7 de março de 2016
- ↑ «A maldição do Brasil com o Nobel». Diário Liberdade. 8 de setembro de 2012. Consultado em 14 de setembro de 2015
- ↑ Selo Jorge Amado
- ↑ «Imperatriz Leopoldinense - Carnaval de 2012 - Jorge, Amado Jorge - Galeria do Samba - As Escolas de Samba do Rio de Janeiro». Galeria do Samba - Escolas de Samba - Imperatriz Leopoldinense
- ↑ Institucional. «Jorge Amado é homenageado com a mais importante honraria da AL». ALBa. Consultado em 5 de dezembro de 2014. Arquivado do original em 3 de março de 2016
- ↑ «Escritor Jorge Amado é homenageado em nome de nova espécie de anfíbio». Natureza e Conservação. Consultado em 15 de abril de 2018
- ↑ «Baiano estava cercado de amigos ilustres». Diário de Pernambuco. 8 de agosto de 2001. Consultado em 14 de agosto de 2014. Arquivado do original em 19 de agosto de 2014
- ↑ BORGES, Julio Daio (14 de março de 2008). «Jorge Amado pela Companhia das Letras». Digestivo Cultural. Consultado em 14 de dezembro de 2014
- ↑ PARANHOS, Verena (11 de dezembro de 2014). «Obra de Jorge Amado é administrada por empresa de consultoria». Revista [B+]. Consultado em 14 de dezembro de 2014[ligação inativa]
https://www.facebook.com/photo/?fbid=279071824720699&set=a.169054675722415
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário