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domingo, 28 de dezembro de 2025

A UNIÃO DE ARTISTAS, MOSSORÓ-RN.

Encravado na esquina da Rua 30 de Setembro com a Travessa Martins de Vasconcelos, antigo Beco do Irineu ou Travessa da Imprensa, na Praça Vigário Antônio Joaquim Rodrigues, lá está, o velho edifício-sede da União de Artistas. Imponente, solitário, um titã semi-abatido resistindo aos avanços das marretas da especulação imobiliária, como se fosse o último guardião do pouco que resta do patrimônio arquitetônico histórico edificado da cidade de Mossoró. A imagem que ilustra este tópico, de provável autoria de Manuelito Pereira, (1910-1980),  mostra esta edificação nos anos de 1937.

Em 14 de setembro de 1919, há noventa e três anos, foi fundada, na cidade de Mossoró, a Sociedade Beneficente União de Artistas, sem fins lucrativos, que teve por objeto congregar artistas locais de diferentes áreas profissionais, como: alfaiates, dentistas, escultores, fotógrafos, marceneiros, músicos, pedreiros, pintores, sapateiros, e, muitos outros que habilmente faziam verdadeiros trabalhos artísticos e que desempenhavam uma função social, e, claro, que esta congregação era de acordo com o conceito vigente de artista, na época.

Os membros da Sociedade, mediante ao pagamento de uma mensalidade mínima, tinham o direito aos serviços prestados por esta: assistência odontológica (extração dentária), cursos profissionalizantes de datilografia, de corte e costura, e outros que viessem a ter importância de aperfeiçoamento de mão-de-obra para os associados. O surgimento desta Sociedade representou o engatinhar do espírito da organização de classe e o brotar da semente do sindicalismo no principal centro comercial do oeste potiguar. Naquele mesmo ano, outra entidade de classe surgiu, foi fundada, em 08 de junho de 1919, a Associação Comercial de Mossoró

 A União era uma grande escola social”, esta foi a definição dada por José Caldas, (28/01/1923-12/04/2010), ex-Presidente da Sociedade, que segundo este, nos tempos áureos, a União teve mais mil associados, e atualmente, conta com pouco mais de cinquenta.

Zé Caldas, assim popularmente conhecido, e que nas horas de folga, também foi músico, era um alfaiate renomado na cidade. Nos anos de 1940, iniciou-se no ramo de confecção de roupas, como empregado da Alfaiataria Rex, a mais famosa da cidade que vestiu a elite política e empresarial local. Posteriormente, abriu a sua própria, a Alfaiataria São José, instalada na Rua 30 de Setembro, Centro.

A primeira diretoria da entidade, eleita em 21/09/1919, foi constituída pelos seguintes artistas, os quais exerceram os cargos de: Presidente - Francisco Negócio da Silva, Vice-Presidente – Francisco Paulino da Silva(1872-1927), 1º Secretário – Cícero A. de Oliveira, 2º Secretário - Luiz Gonzaga Leite e, Tesoureiro - Hermógenes Lucas da Mota. O músico, Mestre Artur Paraguai foi um dos membros suplentes desta diretoria. De acordo com a alínea D, do art. 12 de seus Estatutos, foi nomeado como orador oficial desta primeira gestão, o jornalista, poeta e músico, José Martins de Vasconcelos, (1874-1947). O mandato desta gestão vigorou até 14/09/1929[1].

Na data de 13/06/1927, The Resistance Day dos mossoroenses, a Sociedade funcionava na atual Avenida Rio Branco, número 1405, esquina com a Avenida Augusto Severo.[1] Décadas depois, instalou-se na Rua 30 de Setembro, Praça Vigário Antonio Joaquim Rodrigues, em edíficio próprio. É uma edificação que deveria integrar o patrimônio arquitetônico tombado da cidade, pois esta Sociedade é capitulo da história local. 

Este prédio, ao longo das décadas do Século XX sediou outras atividades privadas e públicas: a fábrica de cigarros Nova Esperança, de propriedade de Wanderley & Irmãos; a tipografia do jornal O Nordeste, de Martins de Vasconcelos; O Manuelito, estúdio fotográfico de Manuelito Pereira, (1910-1980), o Fotógrafo nº 1 da cidade; consultório odontológico, cartórios, o Centro Estudantil Mossoroense, (CEM), a Prefeitura Municipal, durante as administrações de Antonio Rodrigues de Carvalho, (1927-2009), e Raimundo Soares de Souza, (1920), e por último, a Câmara Municipal da cidade. 

Contudo, conforme declarações de associado e presidente, Antonio Mariano, informa que a Sociedade vem enfrentando sérias dificuldades financeiras, em virtude do pequeno número de associados, [2] sendo mantida, exclusivamente, com parcos recursos próprios provenientes das mensalidades, não recebendo ajuda do poder público para que esta possa realizar manutenção na edificação, preservação do acervo, documentação e outros dados importantes à memória histórica local. 

Portanto, deveria receber incentivo financeiro público, pois, a União é das poucas associações  de época que ainda está presente no contexto. Um fato curioso, os seus associados falecidos têm os seus túmulos, no cemitério local, próximos uns dos outros e pintados com a mesma cor da fachada principal do prédio da União.  O seu brasão, afixado no frontispício da fachada principal, e cuja disposição dos seus elementos percebe-se a influência do espírito maçônico, é formado por diferentes ferramentas de trabalho, representando a diversidade das categorias profissionais que congregavam à Sociedade. Portanto, existem inúmeros fundamentos para que as autoridades públicas preocupem-se em preservar este patrimônio que contém diferentes aspectos da história da cidade.

Citarmos as fontes é respeitar quem pesquisou e dar credibilidade ao que escrevemos. Copiar por copiar é abortar a criatividade que vive em nossas mentes.

[1] (Fernandes, 2009); [2] (Amorim, 2002); [1] (Escóssia L. d.-1., Cronologias Mossoroenses, abril 2010). Origem da imagem: Site Azougue.com.

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