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sábado, 15 de outubro de 2011

O GALANTEADOR E A DAMA DE VERMELHO

Por: Archimedes Marques

Num lindo dia de sábado chegou nesta cidadezinha um representante comercial de máquinas de costurar da empresa Singer.

Na cidade de Queimadas na Bahia, havia um fazendeiro coiteiro e fiel amigo de 


Lampião, possuidor de uma fazenda naquela região e uma casa na cidade e que era casado com uma bonita mulher, tão bonita quanto bem feita de corpo, uma mulher bem torneada dos pés à cabeça, principalmente nas suas curvas da cintura e quadril que bem contrastava com a sua abundante bunda redonda e chamativa, enfim, uma mulata sertaneja daquelas de fechar quarteirão que deixava os homens que a observavam, mesmo de relance, de queixos caídos.

Entretanto, todos sabendo da fama de homem ciumento que era o Coronel, além de amigo dos cangaceiros, ninguém se atrevia a tocar galanteios com a moça, até mesmo por medo de perder a língua e algo mais.

Num lindo dia de sábado chegou nesta cidadezinha um representante comercial de máquinas de costurar da empresa Singer.


Homem bem vestido, metido a galã e com fama de ousado e pretensamente corajoso. Ousado, porque tinha a fama de mexer com todas as mulheres bonitas, fossem elas casadas ou não, filhas de família ou mulheres de vida. Fosse mulher bonita o cidadão galanteava cantadas no sentido de leva-la pra cama.

Como o rapaz era novo na região, estando na cidade só por aquele dia, então passeando na feira a visitar lojas e comerciantes para vender o seu produto avistou a mulher do coronel, deslumbrante e vestida num vestido vermelho justo e colado ao corpo que fazia jus a todas os seus predicativos. O seu corpo violão chamava a atenção de todos que, no entanto, faziam de conta que ali passava uma mulher comum dentre as tantas outras existentes na cidade. Distraidamente, mas com intenção de jegue foi o dito galã em direção de tão bonita dama. Sorrateiramente e carinhosamente passou a mão na bunda da
moça, soltando um galanteio sem nexo pensando estar abafando.

A mulata estrutural parou, encarou o corajoso galanteador sem lhe dar uma palavra sequer e seguiu para a sua casa que ficava ali mesmo na praça da feira. Os expectadores estarrecidos com a ousadia e coragem do novato, trataram logo de se afastar do cabra já prevendo o problema que ele terminara de gerar. Mesmo assim um senhor compassivo e até penalizado, que a tudo assistira disse a ele quem era a dama ofendida e o que provavelmente lhe esperava caso ele não fugisse de imediato da cidade. O atrevido cidadão sorriu despreocupado e respondeu que não iria embora antes de terminar seu serviço de venda que se daria por todo aquele dia, agradeceu o aviso e mostrando uma pistola de dois canos, escondida no cós da calça, coberta pelo paletó xadrez, afirmou finalmente que era homem valente e corajoso e estava pronto para qualquer eventualidade.

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Continuou o seu serviço e não sendo importunado como todos achavam que seria, voltou para a pensão onde se hospedara e dormiu o sono dos inocentes a sonhar com as suas conquistas femininas, desprezando o evasivo fora que levou da dama de vermelho e do perigo que pensavam que ele estava passando. A sua arma era o seu porto seguro.


Dia seguinte, logo cedinho, ainda escuro, o rapaz encilhou seu cavalo, arrumou a mala de amostras no alforje com a intenção de seguir viagem até a Estação Ferroviária de Santa Luz, aonde pegaria o trem. Na saída da cidade, um sujeito vindo do nada agarrou o cavalo pelo sedén, jogando o cavaleiro no chão, daí em rápida ação apareceram mais dois cabras, um deles com chapéu de cangaceiro, espingarda na mão e um facão na cintura. Três contra um foi muito fácil dominar o galanteador e facilmente desarmá-lo da sua arma porto seguro, principalmente pela situação surpresa com que tudo aconteceu.

Ajoelhado e assustado e ex-corajoso esperou por alguns instantes a sua pena e logo apareceu de braços dados com um velho de compleição forte e boa aparência, a linda mulata por ele distratada em público.

Sem dó ou piedade a cabocla apontou o cabra que tremia feito vara verde para o seu coronel que perguntou:

- Foi este o mesmo cabra que te distratou na praça?

- Foi esse sim meu marido. Foi esse desgraçado mesmo. Respondeu a impiedosa dama agora não mais de vermelho, ou quem sabe, vermelha de raiva.

Os dois capangas do coronel e o cangaceiro deitaram e imobilizaram o cidadão no meio da lama que aos berros pedia perdão, daí o cangaceiro pegou o seu amolado facão e indeciso sobre o que fazer esperou a ordem do coronel que então consultou a mulher:

- Ele te passou a mão direita ou esquerda, mulher?

- Foi a mão esquerda, marido. Respondeu indiferente e alheia ao resultado, a dama.

Após o balançar da cabeça do coronel em sentido afirmativo, o cangaceiro num golpe rápido e certeiro decepou a mão do ousado galanteador que soltou um aterrador grito e ficou chorando e se contorcendo de angustia, desespero e dor, jogado na lama, até que um vivente o encontrou e foi correndo chamar o médico que o tratou e disse que a lama evitou que a hemorragia o matasse, ajudando a estancar o sangue. Logo o cidadão pegou o trem, nunca mais galanteou mulher alguma e muito menos voltou a Queimadas, sendo apelidado a partir de então por Zé Cotó.

Naquele dia, após o almoço já na sede da fazenda do coronel, o cangaceiro se despediu do anfitrião, que lhe agradeceu os préstimos e foi cuidar dos preparativos para hospedar o bando que chegaria daí a dois dias.

Referencia bibliográfica:

A narrativa é baseada no artigo intitulado "O Cometa, a Mulher e o Cangaceiro" de autoria de Miriam de Sales Oliveira da Rocha publicado no site artigonal, texto que a própria autora diz não saber se o fato foi real ou se é lenda do povo local, tanto é que não cita os nomes dos personagens. Assim o repasso noutras palavras, pois achei a história triste e interessante ao mesmo tempo, pois se trata de um trágico exemplo de que não se deve mexer com mulher alheia

Autor: Archimedes Marques - Delegado de Policia Civil no estado de Sergipe. (Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Pública pela UFS)
archimedes-marques@bol.com.br

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