Por: Wescley Rodrigues
Wescley Rodrigues
Acabo de ler o livro “Lampião – Sua morte passada a limpo”, dos pesquisadores José Sabino Bassetti e Carlos César de Miranda Megale.
Confesso que me surpreendi com a qualidade e a riqueza da obra. Como apaixonado pelo cangaço, que fez dessa paixão objeto dos meus estudos históricos, tenho acompanhado há alguns anos a produção bibliográfica que é publicada sobre a temática, e tenho que confessar que me surpreendo como estamos envoltos por obras extremamente pobres, repetitivas e, por vezes, que distorcem os acontecimentos criando causos e inverdades. Mas essa é a dinâmica do mercado, notoriedade, fama, e a possibilidade de alimentar o ego com o “título” de escritor.
No entanto, a referida obra, na minha opinião, se enquadra no seleiro das melhores já produzidas sobre o tema cangaço e, consequentemente, sobre o fatídico amanhecer de 28 de julho de 1938, dia em que o “Rei do Cangaço” teve a sua morte decretada, como também o cangaço recebeu seu golpe certeiro que levaria a desintegração e o seu extermínio posteriormente.
A priori pensava o que poderia apresentar de novidade naquelas páginas, haja vista tanto já ter sido falado a respeito de Angico e nenhuma conclusão palpável ter se chegado, sendo questionado até mesmo a morte de Lampião, a única certeza que poderíamos ter. Mas ao abrirmos as páginas dos livros, os nossos olhos vão passeando por uma narrativa extremamente rica, gostosa, e fácil. Sem teorias mirabolantes, sem conjecturas sem fundamentos, os autores vão trazendo versões e questionando a veracidade de tudo o que já foi dito usando para isso simplesmente a razão, despojando-se do seu amor pela temática e comprometendo-se com a verdade.
Ângelo Osmiro, Narciso Dias, João de Sousa, Wescley Rodrigues, Ivanildo Silveira e Antônio Vilela, no Cariri Cangaço 2011
Presenteiam-nos com uma obra rara que condensa toda a discussão que ao longo desses 73 anos vem desafiando a história com os seus caminhos tortuosos, suas lacunas e perguntas sem respostas. As versões vão emergindo naturalmente, e com a maestria dos escritores eles conseguiram retirar dessas conjecturas as próprias contradições que desqualificariam a versão.
Acredito que a razão foi o ponto fulcral da obra, o olhar dos pesquisadores não se voltaram para o “achismo”, não se deixaram levar pelos depoimentos puro e simplesmente, mas questionaram as fontes, problematizaram, usaram métodos distintos para chegar a resolução dos problemas, exemplo que deve ser seguido por qualquer pesquisador do cangaço antes de lapidarem as suas obras, pois só através dos pressupostos do método historiográfico com crítica as fontes, fidelidade aos objetivos, imparcialidade, despojamento do amor pela temática, por mais difícil que isso seja, conseguiremos construir obras sólidas, que não só encantem o leitor, mas traga a tona a verdade, ou pelo melhor a verossimilhança do acontecido. Só assim vamos construindo o conhecimento e esclarecendo cada vez mais as tortuosas lacunas que ainda teimam em nos desafiar.
Prof. Ms. Wescley Rodrigues Dutra
Brasília - DF
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