Por: Geraldo Maia do Nascimento
Em 1919 a população de Mossoró andava na casa dos 16.500 habitantes. A cidade possuía 30 ruas, 12 praças, 5 travessas e 1 avenida. Existiam 1872 casas, sendo 840 de tijolo e telha e 1.032 de taipa. A receita era de 92:373$437 e a despesa efetuada era de igual importância. Trafegavam pela cidade 31 automóveis em serviço ativo.
Governava o município o farmacêutico Jerônimo Rosado, que havia assumido a Intendência para o triênio de 1917 a 1919. Foi um administrador dinâmico que, entre outros feitos, fez levantar grande área de cercas e preparar terrenos, que foram doados a agricultores pobres, promovendo assim a primeira reforma agrária do município.
Mas foi também nesse ano que se deu a eclosão da “Influenza Espanhola”, ou “Gripe Espanhola”, moléstia terrível do após guerra. A gripe espanhola apareceu no final da I Guerra Mundial e, em menos de um ano, matou milhões de pessoas. A epidemia foi tão severa que nos Estados Unidos, onde um quarto da população foi infectada e 675 mil pessoas morreram, a expectativa de vida caiu 10%.
A denominação \"gripe espanhola\", segundo alguns autores, surgiu na Inglaterra, em fins de abril de 1918. Duas são as principais hipóteses para essa denominação: a primeira partia do pressuposto errôneo de que a moléstia havia se originado na Espanha e/ou lá fizera o maior número de vítimas. Outra explicação afirmava que a Espanha, país neutro durante a Primeira Guerra Mundial, não censurava as notícias sobre a existência da gripe epidêmica, daí a dedução equivocada de que a enfermidade matava mais naquele país.
A primeira notícia do vírus da gripe espanhola no Brasil foi de setembro de 1918, logo depois da chegada de um navio com imigrantes vindos da Espanha. Vários deles apresentavam sintomas da gripe. Outro relato dizia que alguns marinheiros sentiram estranhos sintomas a bordo de um navio que ancorou em Recife. O fato é que no início de novembro de 1918 a doença já tinha alcançado vários pontos do Brasil. As cidades portuárias foram as que mais sofreram. No Rio de Janeiro, morreram 17 mil pessoas em dois meses. Os familiares, desesperados, jogavam seus mortos na rua com medo de contrair a doença. As avenidas ficaram cheias de cadáveres e presidiários foram obrigados a trabalhar como coveiros. Os bondes circulavam abarrotados de corpos. Na frente das principais igrejas, milhares de famílias se reuniam para pedir ajuda a Deus. Em São Paulo, foram mais de 8 mil mortes. Entre as vítimas da gripe estava o presidente da República, Rodrigues Alves.
Eleito para o cargo pela segunda vez, não pôde tomar posse e morreu no dia 16 de janeiro de 1919. Os médicos, também alarmados, não sabiam o que receitar e indicavam canja de galinha. O resultado foram saques aos armazéns atrás de frangos. Os jornais afirmavam que o tratamento deveria ser feito à base de pinga com limão ou uísque com gengibre.
No Rio, o sanitarista Carlos Chagas comandou o combate à enfermidade. Em Porto Alegre, foi criado um cemitério especialmente para as vítimas da gripe espanhola. Em todo o país foram cerca de 300 mil mortos.
Em Mossoró, logo após os primeiros casos, o Prefeito mobilizasse todos os recursos de assistência disponíveis, quer improvisando isolamento de doentes, quer pessoalmente dirigindo socorros médicos em remédios e alimentos aos pobres abandonados. Dessa forma, salvaram-se vítimas. A quantidade de mortos não foi tão grande, mas muitos dos que escaparam ficaram com seqüelas.
Foi a maior epidemia da história, uma pandemia. Ao passo que a Primeira Guerra Mundial, de 1914-1918, matou, aproximadamente, 8 milhões de pessoas, a gripe espanhola foi fatal para mais de 20 milhões de seres humanos em todo o mundo. Nada matou tanto em tão pouco tempo. O vírus mutante da gripe assumiu características tão singulares em 1918, que a chamada influenza espanhola, até hoje, apavora quem procura entender o que aconteceu naquele ano.
Geraldo Maia do Nascimento
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