Por Misherlany Gouthier
Na literatura mossoroense muitos são os pseudo-historiadores que tentam engendrar descuidados textos superficiais como obra que valha mérito ou coisa do tipo, tecendo comentários já então por demais imprecisos e sem nenhum embasamento sólido que lhe permita destaque nas letras provincianas. Desnudos de técnicas, de impressões que traga à luz novidades inerentes à pesquisa, poucos sãos os que conseguem enxergar um palmo além do nariz, na tentativa de esboçar um texto enxuto e real, tornando-se fracassados escrevinhadores de folhetins.
A gravidade é tanta que os livros publicados nos últimos anos dão conta disso. Assim é que me esforço para resgatar da oralidade nomes que já estão soterrados pelas areias do esquecimento. A história dos grandes homens não é senão a sua própria história, disse Carlyle. Valho-me desta filosofia para fazer justiça a algumas figuras do passado que por ironia do destino ou por falta de iniciativa dos pesquisadores oficiais da província não tiveram o merecido reconhecimento.
José Fernandes Gurjão nasceu a 19 de fevereiro de 1896, na fazenda Três Lagoas, em Pau dos Ferros/RN. Foi batizado pelo Pe. Campos. Sendo seus padrinhos Hermógenes e Joana Fernandes. De crisma Raimundo Rubira da Luz.
Formou-se em Medicina a 22 de dezembro de 1920. Casou-se aos 09 de setembro de 1921 com Nila Xavier de Queiroz. Enviuvando em 1922. Faleceu aos 06 de dezembro de 1927, no Rio. Após o falecimento de Nila José Gurjão contraiu núpcias com Seize, cuja união não duraria muito…
Lente da Escola Normal de Mossoró, intelectual disseminador de uma cultura ímpar nos dias que se seguem; gente que está intimamente ligada ao passado como ao presente representados por alguns descendentes, cujo reconhecimento pelo desvelo ao trabalho realizado em prol da sociedade de outrora não tivesse valor algum. Eternizar a memória daqueles que nos antecederam é o mínimo que os estudiosos podem fazer…
José Gurjão Fernandes uma das figuras de proa da educação em Mossoró na década de 20-30 não teve um biógrafo que pudesse retratar-lhe a personalidade, a inteligência, o denodo ao ensino do magistério. Um homem que deixou as marcas de sua cultura; um ser de pensamento vivaz, inquiridor. Raimundo Nonato da Silva, seu contemporâneo, somente ele, escreveu uma página de recordação sobre o grande mestre do ensino de Mossoró. Antes, ninguém mais.
Filho do comerciante pauferrense Abílio Fernandes Gurjão e de dona Maria Urcicina Fernandes, era irmão dentre outros do ex-governador Rafael Fernandes Gurjão, nome emblemático na história política do Estado.
Jovem ainda, vindo de uma família tradicional – os Fernandes – era dotado de uma cultura universal. Foi um dos primeiros médicos a operar em Mossoró. Era um homem irreverente. Espírito alegre, irrequieto, dono de uma inteligência brilhante e vivaz.
Lia todos os clássicos. Montesquieu, Verlaine, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Hermes Fontes, Gonçalves Dias, Casemiro de Abreu e outros. “Homem culto, de idéias arejadas, não admitia preconceitos nem intolerância de convicções”. José Gurjão foi a inteligência mais fulgurante, mais extraordinária que Mossoró possuiu até hoje. Rápido no argumento, ferino na resposta, tinha uma enorme cultura, escreveu sobre ele certa vez o jornalista Rafael Negreiros, seu sobrinho.
José Gurjão soube tirar da leitura a essência para suas aulas no curso Normal da escola fundada por seus pares, dentre os quais destaco a professora Celina Guimarães — tão esquecida na história do magistério –, Eliseu Viana e Manoel Quintela Júnior, este último tendo publicado trabalhos versando sobre abolição dos escravos, além de ter sido crítico literário economicamente.
Dono se um senso crítico aguçadíssimo, não poupava quem o molestasse com “tiradas filosóficas”, dando demonstração eficaz de sua cultura vasta e do seu refinado estilo lingüístico, um dos marcos da educação de antanho quando a cultura pedagógica ganhava contornos de verdadeiras academias.
Elizabeth Fernandes de Negreiros, sobrinha do professor-mestre contou-me várias histórias a despeito da vida do professor Gurjão. Era uma inteligência fora do comum, disse. Ela guarda consigo bilhetes do então governador do estado Rafael Fernandes Gurjão, agradecendo ao pai da mesma – Solon Negreiros, a gentileza de atender tão bem as necessidades do prestimoso professor, seu cunhado.
Apesar de sublevada inteligência o Dr. José Gurjão não deixou obra que pudesse ser levada ao conhecimento de quantos teriam a oportunidade de provar do seu acurado saber literário. Volto à máxima “Nem tudo está perdido”, num átimo de justiça resgatando do olvido a figura incandescente que muito trouxe para as gerações que o seguiram.
Extraído do blog "o santo ofício"
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