Como ainda não dispunha de recursos que pudessem sustentar seu pessoal, Lampião mandou
pedir certa quantia em dinheiro à Dona Joana Vieira de Siqueira Torres,
baronesa de Água Branca, para a compra de provisões. Feita a colaboração, ela
jamais seria incomodada novamente, nem por ele nem por qualquer um outro do
cangaço; teria mandado dizer-lhe.
A Senhora de Água Branca – município ao qual
pertencia a Vila de Piranhas – entretanto, não atendeu ao seu pedido e, pior:
mandou um recado desaforado pelo mesmo portador endereçado àquele que tentou
extorquir de suas posses:
“Diga a seu chefe que o dinheiro que
tenho é para compra de munição com a qual pretendo arrancar-lhe a cabeça”.
tenho é para compra de munição com a qual pretendo arrancar-lhe a cabeça”.
Depois, para se
prevenir, pediu ao Governo da Província que mandasse reforçar a guarda de seu
território com uma força policial mais equipada de homens e armas.
Ao ouvir do
mensageiro o recado da Baronesa, Lampião virou-se numa fera bravia, com vontade
de esganar. E logo quis dar o troco: mandou comprar algumas redes e as preparou
segundo os costumes locais de carregar mortos, onde um madeiro é colocado de um
punho a outro, sendo carregado nos ombros por dois homens robustos. Preparou
tudo com esmerado cuidado, seus homens vestindo-se como pessoas comuns do
lugar, com roupas simples e chapéu de palha, descalços, ou arrastando sandálias
leco-leco. Fuzis, punhais e cartucheiras eram carregados no lugar onde deviam
estar os mortos, enrolados em panos untados com groselha para aparentar sangue,
dentro das ditas redes. Dirigiram-se esses à porta da delegacia de polícia e,
aos berros, um dos cabras, disfarçado, gritou para o soldado de plantão:
“acuda, praça! Mande gente lá para as bandas do povoado da Várzea, que a
cabroeira de Lampião está acabando com tudo ali; mataram estes daqui e ainda há
mais gente morta aos montes. Ande depressa, homem de Deus!”
O despreparado
soldado chamou imediatamente o corneteiro, que tocou reunir. Foi o momento
propício para a execução do plano de Lampião: as armas foram retiradas das
redes e empunhadas contra o pelotão policial, que já estava perfilado, pronto
para sair à procura dos bandidos. Aí, enquanto a polícia era rendida, outra
parte do grupo já havia entrado na cidade e agia no saque à casa da Baronesa.
Irreverente, Lampião foi até ela e, fitando-a com severidade, soltou o
vozeirão:
- Então, Senhora Baronesa, vai arrancar-me a cabeça agora? Venha,
vamos dá um volta pela cidade para que vosmecê e todos daqui saibam qui cum o
capitão Virgulino não se brinca nem se manda recado desaforado”.
E fez a
respeitável senhora, dona de notório prestígio público, segurar seu braço e
andar assim com ele desfilando pela cidade. – (este foi o primeiro de um
sem-número de assaltos cometidos pelo bando de Lampião. Aconteceu em
28/06/1922, poucos dias depois que tinha assumido o comando do grupo de Sinhô
Pereira, jovem ainda, aos 25 anos de idade).
Lampião - virou mito e a sua fama de herói – ou bandido – é difícil de ser apagada da memória do povo. Continua um vulto que se eleva pela coragem de enfrentar o latifúndio dos “coronéis”, dos donos das cabeças. Borravam-se todos ante a ameaça de Lampião. Este cobrava por suas vidas e aqueles pagavam para continuar vivendo. Viravam coiteiros e de certa forma cúmplices das atrocidades que se vinham cometendo em nome do cangaço por esses sertões afora, numa área de 700 mil quilõmetros quadrados, compreendendo sete estados: Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba Rio Grande do Norte e Ceará. Lampião subverteu a ordem das coisas. Latifúndios, (leia-se: “coronéis”, grandes fazendeiros) que durante séculos traziam o povo aos seus pés, pisando-os em cima, de repente viraram covardes, vivendo pela vontade daquele que realmente imprimia respeito e medo: Virgulino Ferreira da Silva, vulgo “Lampião”, cuja palavra era lei. Ele comandava uma pequena legião de 50 cangaceiros, enfrentando forças policiais cujos contingentes suplantavam a casa de 4.000 soldados em todos os territórios por onde passava.Durante as décadas de 20 e 30 o Cangaço (etnologicamente, gênero de vida levada pelos cangaceiros), correu a ruidoso galope pelas brenhas e caatingas do Sertão nordestino.
3º
da esquerda pra direita com seta vermelha - Padre que batizou Lampião.
Causava espanto e medo entre as às populações
sertanejas, onde predominavam, de um lado, a aridez da terra, com suas
caatingas brabas, de espinhos e chão esturricado e, do outro, a pobreza e a
natureza rude do homem local, este já submetido a cruel sofrimento pelos rigores
da seca. Por onde passava o cangaço ia deixando marcas de mortes, numa onda de
violência tão brutal que causava desespero, tensão, angústia e medo; as pessoas
somente se valendo da proteção de Deus e do “Padim Cirço” para sua salvação.
http://amigosdeaguabranca-alagoas.blogspot.com.br/2009/04/capitao-virgulino-o-lampiao-em-agua.html
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