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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

CANGAÇO: Pesquisador resgata polêmica sobre estátua de Lampião

Por Paulo César

Em 07 de setembro de 1991, foi realizado em Serra Talhada-PE, um plebiscito para verificar se a população aprovava ou não a instalação de uma estátua de Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, em plena praça pública. O evento mobilizou a opinião pública e tornou-se um tema debatido em todo o país. Para se ter uma ideia da demissão que a discussão tomou, basta ler a revista Veja(28 graus), publicada em 28 de julho de 1991, com o título de “ O julgamento de Lampião 53 anos depois”.

Toda a polêmica tem a sua origem no surgimento de um fenômeno social chamado de “cangaço”, que iniciou no litoral em meados do século XIX e ganhou projeção histórica quando adentrou as caatingas nordestinas. O primeiro grande nome do cangaço foi o “Cabeleira”, que nasceu em 1751, em Glória do Goitá, cidade da zona da mata pernambucana, ele aterrorizou sua região, incluindo Recife. O primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo Calado, “Jesuíno Brilhante”, que agiu por volta de 1870. Mas foi somente no final do século XIX que o cangaço ganhou força e prestígio, principalmente com Antônio Silvino, Sinho Pereira e Corisco. Porém, o cangaceiro mais famoso foi Lampião, também denominado o “Senhor do Sertão” e “O Rei do Cangaço”.

Lampião atuou durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os estados do nordeste., construindo ao longo do tempo uma história de terror e de medo, pois, a violência patrocinada por cangaceiros, volantes e coronéis, era algo terrível. Somasse a esses elementos o fenômeno da “seca” e ausência de políticas públicas desenvolvidas pelo Estado. O cenário que envolvia os principais personagens dessas e de fomes, miséria, opressão e principalmente, sem lei.

O maior obstáculo para Lampião surgiu quando o então presidente, Getúlio Vargas, adotou o regime ditatorial  denominado Estado Novo, em 1937,  e que incluiu Virgolino e seus cangaceiros na categoria de extremistas. A sentença passou a ser matar todos os cangaceiros que não se rendessem. Lampião foi assassinado em 28 de julho de 1938 e logo depois,  em 25 de maio de 1940, Corisco também foi eliminado, decretando assim o fim do cangaço. Um dos fatos mais intrigantes, entre tantos que envolvem o cangaço e que é motivo de estudo de  historiadores, sociólogos e antropólogos, é fato de que nenhum ex-cangaceiro voltou a cometer qualquer atrocidade, em geral todos se socializaram, construindo famílias e trabalhando de forma digna, caso raro entre criminosos.

Passados quase  cinco décadas do fim do cangaço, o então vereador Expedito Eliodoro (1983-1888), o falecido Louro Eliodoro, apresenta uma proposta de se construir uma estátua de Lampião na estação ferroviária, a princípio a ideia não emplacou. No início dos anos noventa, a Fundação Casa Cultura retoma a discursão em torno da estátua, propondo que ela fosse colocada em praça pública.  Um modelo da estátua, em escala menor, foi desenvolvida pelo artista plástico Karoba. 


Iniciativa

A iniciativa ganhou força e recebeu o apoio da prefeitua municipal e dos movimentos culturais como MTP ( Movimento de Teatro Popular), CDP (Centro Dramátioc Pajeu) e Grupo de poetas “Desafio” (Jornal Desafio). Até a data do plebiscito o debate foi intenso, com uma ampla cobertura de jornais, revistas e emissoras de TV de alcance nacional.

Havia uma clara divisão na sociedade, os mais jovens se manifestavam pelo “sim” e os mais velhos, em sua maioria ex-soldados das volantes que combateram Lampião e contemporâneos do  congaceiro, pelo “não”. O grupo que liderava a campanha pelo “sim” adotou o slogan “Lampião: nem herói, nem bandido. É história!” , uma forma de fugir da ideia de transformar o plebiscito em um julgamento do “Rei do Cangaço”.  

Seguindo as regras traçadas pela Justiça Eleitoral de Serra Talhada-PE, sendo fiscalizado pelo Juiz de Direito e pelo Promotor de Justiça, foi realizado o plebiscito que apresentou o seguinte resultado: compareceram para votar 2.289 eleitores, 76 % acolheram o “SIM”, 22 % disseram “NÃO” e 0,8 % anularam a escolha. (Fonte: livro “Gota de sangue num mar de lama” de Gutemberg Costa).

Por questões políticas/financeiras a polêmica estátua de Lampião nunca saiu do papel, porém, a discussão proporcionou a cidade vários benefícios, tanto no aspecto cultural como no econômico. Hoje a cidade ostenta com orgulho o título de “A Capital do Xaxado” e a “Terra de Lampião”, vários são os eventos realizados sobre os temas relacionados ao cangaço, Lampião e ao xaxado, é bem verdade que muito se deve a persistência dos companheiros, os neo-canganceiros, da Fundação Cultural Cultural Cabras de Lampião, que levantam a bandeira de Lampião e do cangaço com muita dignidade. 

É importante ressaltar que a visão do serra talhada sobre Lampião não mudou, ele continua sendo um bandido, porém percebeu-se que ele é personagem extremamente atrativo, que mexe com o imaginário e a curiosidade dos turistas, o que torna a sua imagem  bastante comercial. Uma prova do poder de sedução que Lampião exerce sobre as pessoas é fato de que são vários os hotéis e pousadas na cidade com nomes relacionados ao fenômeno, também são encontradas inúmeras obras de artes e músicas que nos rementem ao tempo em que as caatingas nordestinas foram controladas por um rei, que mesmo com as controvérsias, entrou para galeria dos personagem mais importantes da história do Brasil.

*Paulo César é professor, pesquisador e especialista em História Geral
Outra matéria da Revista Veja
  

http://www.faroldenoticias.com.br/site/polemica-plebiscito-sobre-estatua-de-lampiao-entra-para-a-historia/

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Anônimo17:07:00

    Amigos de Serra Talhada: Não sou das Terras Pernambucanas - Terras de homens destemidos, contudo, (mesmo sem validade alguma a minha opinião), o monumento ao Rei do cangaço deve ser erguido, quanto ao local quem opina na realidade são os seus moradores.
    Não é que Lampião tenha sido herói ou bandido, e sim HISTÓRIA.
    Abraços e sucesso,
    Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista - Serrinha - Bahia.

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