Por Paulo César
Em 07 de
setembro de 1991, foi realizado em Serra Talhada-PE, um plebiscito para
verificar se a população aprovava ou não a instalação de uma estátua de
Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, em plena praça pública. O evento
mobilizou a opinião pública e tornou-se um tema debatido em todo o país. Para
se ter uma ideia da demissão que a discussão tomou, basta ler a revista Veja(28
graus), publicada em 28 de julho de 1991, com o título de “ O julgamento de
Lampião 53 anos depois”.
Toda a
polêmica tem a sua origem no surgimento de um fenômeno social chamado de
“cangaço”, que iniciou no litoral em meados do século XIX e ganhou projeção
histórica quando adentrou as caatingas nordestinas. O primeiro grande nome do
cangaço foi o “Cabeleira”, que nasceu em 1751, em Glória do Goitá, cidade da zona da mata
pernambucana, ele aterrorizou sua região, incluindo Recife. O primeiro
bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo
Calado, “Jesuíno Brilhante”, que agiu por volta de 1870. Mas foi somente
no final do século XIX que o cangaço ganhou força e prestígio, principalmente
com Antônio Silvino, Sinho Pereira e Corisco. Porém, o
cangaceiro mais famoso foi Lampião, também denominado o “Senhor do Sertão” e “O
Rei do Cangaço”.
Lampião atuou
durante as décadas de 20 e 30 em
praticamente todos os estados do nordeste., construindo ao longo do tempo uma
história de terror e de medo, pois, a violência patrocinada por cangaceiros,
volantes e coronéis, era algo terrível. Somasse a esses elementos o fenômeno da
“seca” e ausência de políticas públicas desenvolvidas pelo Estado. O cenário
que envolvia os principais personagens dessas e de fomes, miséria, opressão e
principalmente, sem lei.
O maior obstáculo
para Lampião surgiu quando o então presidente, Getúlio Vargas, adotou o regime
ditatorial denominado Estado Novo, em 1937, e que incluiu
Virgolino e seus cangaceiros na categoria de extremistas. A sentença passou a
ser matar todos os cangaceiros que não se rendessem. Lampião foi assassinado em
28 de julho de 1938 e logo depois, em 25 de maio de 1940, Corisco também
foi eliminado, decretando assim o fim do cangaço. Um dos fatos mais intrigantes,
entre tantos que envolvem o cangaço e que é motivo de estudo de
historiadores, sociólogos e antropólogos, é fato de que nenhum ex-cangaceiro
voltou a cometer qualquer atrocidade, em geral todos se socializaram,
construindo famílias e trabalhando de forma digna, caso raro entre criminosos.
Passados
quase cinco décadas do fim do cangaço, o então vereador Expedito Eliodoro
(1983-1888), o falecido Louro Eliodoro, apresenta uma proposta de se construir
uma estátua de Lampião na estação ferroviária, a princípio a ideia não
emplacou. No início dos anos noventa, a Fundação Casa Cultura retoma a discursão
em torno da estátua, propondo que ela fosse colocada em praça pública. Um
modelo da estátua, em escala menor, foi desenvolvida pelo artista plástico
Karoba.
Iniciativa
A iniciativa
ganhou força e recebeu o apoio da prefeitua municipal e dos movimentos
culturais como MTP ( Movimento de Teatro Popular), CDP (Centro Dramátioc Pajeu)
e Grupo de poetas “Desafio” (Jornal Desafio). Até a data do plebiscito o debate
foi intenso, com uma ampla cobertura de jornais, revistas e emissoras de TV de
alcance nacional.
Havia uma
clara divisão na sociedade, os mais jovens se manifestavam pelo “sim” e os mais
velhos, em sua maioria ex-soldados das volantes que combateram Lampião e
contemporâneos do congaceiro, pelo “não”. O grupo que liderava a campanha
pelo “sim” adotou o slogan “Lampião: nem herói, nem bandido. É história!” , uma
forma de fugir da ideia de transformar o plebiscito em um julgamento do “Rei do
Cangaço”.
Seguindo as
regras traçadas pela Justiça Eleitoral de Serra Talhada-PE, sendo fiscalizado
pelo Juiz de Direito e pelo Promotor de Justiça, foi realizado o plebiscito que
apresentou o seguinte resultado: compareceram para votar 2.289 eleitores, 76 %
acolheram o “SIM”, 22 % disseram “NÃO” e 0,8 % anularam a escolha. (Fonte:
livro “Gota de sangue num mar de lama” de Gutemberg Costa).
Por questões
políticas/financeiras a polêmica estátua de Lampião nunca saiu do papel, porém,
a discussão proporcionou a cidade vários benefícios, tanto no aspecto
cultural como no econômico. Hoje a cidade ostenta com orgulho o título de “A
Capital do Xaxado” e a “Terra de Lampião”, vários são os eventos realizados
sobre os temas relacionados ao cangaço, Lampião e ao xaxado, é bem verdade que
muito se deve a persistência dos companheiros, os neo-canganceiros, da Fundação
Cultural Cultural Cabras de Lampião, que levantam a bandeira de Lampião e do
cangaço com muita dignidade.
É importante
ressaltar que a visão do serra talhada sobre Lampião não mudou, ele continua
sendo um bandido, porém percebeu-se que ele é personagem extremamente atrativo,
que mexe com o imaginário e a curiosidade dos turistas, o que torna a sua
imagem bastante comercial. Uma prova do poder de sedução que Lampião
exerce sobre as pessoas é fato de que são vários os hotéis e pousadas na cidade
com nomes relacionados ao fenômeno, também são encontradas inúmeras obras de
artes e músicas que nos rementem ao tempo em que as caatingas nordestinas foram
controladas por um rei, que mesmo com as controvérsias, entrou para galeria dos
personagem mais importantes da história do Brasil.
*Paulo César é
professor, pesquisador e especialista em História Geral
Outra matéria
da Revista Veja
http://www.faroldenoticias.com.br/site/polemica-plebiscito-sobre-estatua-de-lampiao-entra-para-a-historia/
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Amigos de Serra Talhada: Não sou das Terras Pernambucanas - Terras de homens destemidos, contudo, (mesmo sem validade alguma a minha opinião), o monumento ao Rei do cangaço deve ser erguido, quanto ao local quem opina na realidade são os seus moradores.
ResponderExcluirNão é que Lampião tenha sido herói ou bandido, e sim HISTÓRIA.
Abraços e sucesso,
Antonio José de Oliveira - Povoado Bela Vista - Serrinha - Bahia.