Os
versos abaixo são atribuídos a Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Segundo
o chefe de volante Optato Gueiros, estes versos foram abandonados em um
embornal, quando de um ataque policial ao bando do famigerado capitão.
“Leitores
sendo possível,
Leiam
com toda atenção,
Este
pequeno fascículo,
Que
nos dá explicação,
Quem
foi, quem é Virguliho,
Pela
alcunha Lampião.”
“Fui
nascido no Pajeú,
Por
Lampião apelidado,
No
município de Vila Bela,
No
lugar denominado,
Riacho
de São Domingos,
De
Pernambuco no Estado.”
“Gado
bravo pra mim,
Não
estando mal montado,
Sendo
em cavalo bom,
Julgava
o bicho amarrado,
Ou
vinha pra o curral sadio,
Ou
com um quarto quebrado.”
“Até
aos 17 anos,
Vivia
calmo e sossegado,
Até
todos me conheciam,
Por
lutador honrado,
E
nessa idade os retrocessos,
Fizeram-me
mau e desgraçado.”
“Porém
já sabem os leitores,
Do
mais antigo ditado,
Que
não se julgue feliz,
O
que vive em bom estado,
Que
vem a naufragação,
E
acaba em mau resultado.”
“Se
reunimos os três irmãos,
Cada
qual mais animado,
Disse
eu ao pai já velho,
Bote
a questão para um lado,
E
deixe estar que o meu rifle,
É
um bom advogado.”
“Eu
bem que disse ao meu pai,
Desta
vez acreditei,
Que
advogado bom é o rifle,
Que
com ele deportei,
Todos
os nossos inimigos,
Agora
sim descansei.”
“Seus
nomes estão anotados,
Suas
casas já queimei,
Não
poupei nem mesmo o gado,
Nesta
luta me empenhei,
Para
a qual fui empurrado.”
“Estou
bem certo do meu fim,
Que
me importa de morrer?
Mato
João Pedro ou Matim,
E
onde vou comparecer?
Já
fiz tudo que queria,
Que
me importar de morrer?”
“Para
minha infelicidade,
Entrei
nesta triste vida,
Não
gosto nem de contar,
A
minha história sentida,
A
desgraça enche o meu rosto,
Em
minha alma entre o desgosto,
Meu
peito é uma ferida.”
“Quando
me lembro senhores,
Do
meu tempo de inocente,
Que
brincava nos cerrados,
Do
meu sertão sorridente,
Sinto
que meu coração,
Magoado
de paixão,
Bate
e chora amargamente.”
“Meu
pai e minha mãe querida,
Quiseram-me
ensinar,
No
colo carinhoso,
E
ela ensinou-me a rezar,
E
a todos bem respeitar,
E
ele ensinou-me nos campos,
E
eu menino a trabalhar.”
“Cresci
na casa paterna,
Quis
ser homem de bem,
Viver
de meus trabalhos,
Sem
ser pesado a ninguém,
Fui
almocreve na estrada,
Fui
até bom camarada,
E
tive amigos também.”
“Tive
também meus amores,
Cultivei
a minha paixão,
Amei
uma flor mimosa,
Filha
lá do meu sertão,
Sonhei
de gozar a vida,
Bem
junto à prenda querida,
A
quem dei meu coração.”
“Hoje
sei que sou bandido,
Como
todo mundo diz,
Porém
já fui venturoso,
Passei
meu tempo feliz,
Quando
no colo materno,
Gozei
o carinho terno,
De
quem tanto bem eu quis.”
“Meu
rifle atira cantando,
Em
compasso assustador,
Faz
gosto brigar comigo,
Por
que sou bom cantador,
Enquanto
o rifle trabalha,
Minha
voz longe se espalha,
Zombando
do próprio horror.”
“Nunca
pensei que na vida,
Fosse
preciso brigar,
Apesar
de ter intrigas,
Gostava
de trabalhar,
Mas
hoje sou cangaceiro,
Enfrentarei
o balseiro,
Até
alguém me matar.”
“Quando
pensei que podia,
O
caso estava sem jeito,
Vou
dar trabalho ao governo,
Enfrentar
agora de peito,
E
trocar bala sem receio,
Morrendo
num tiroteio,
Sei
que morro satisfeito.”
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