Este artigo foi publicado no dia 06 de Agosto de 2011
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Última das
mulheres que viviam próximo ao Padre Cícero no Horto, Luíza Maria dos Santos,
88, lembra a história da árvore que deu lugar à estátua do fundador de Juazeiro
do Norte.
Os passos
cansados de Luíza Maria dos Santos vão na contramão do que alcança a memória da
moradora oculta da colina do Horto, em Juazeiro do Norte. Escondida num pequeno
quarto do casarão que abriga o Museu Vivo, a divertida paraibana de 88 anos é a
única viva entre as “beatas” que se achegaram para morar na casa de descanso de
Padre Cícero.
Do pequeno
quarto a que lhe coube com o passar do tempo, Luíza se levanta devagar para
debulhar histórias do lugar e de agradecimentos por graças alcançadas:
- Você
veio mexer com as minhas dores, veio mexer com meus amores, reclama ela, sem
perceber que conta suas memórias sem qualquer esforço.
- Cheguei aqui
menina, com 12 anos, um ano depois da morte de Padre Cícero”, começa a conversa
à mesa, entrecortada pelos risos e pequenos assombros de Luíza – e um gole de
café adoçado.
De um tempo em
que muitas mulheres iam entregar seus filhos ao “Padim”, Luíza conta que
conheceu todo mundo. “Aqui era casa só com velhas. Tinha veeeeeelha para mandar
para o Crato. Morreram tudim e eu fiquei rolando”.
Da janela, se
via uma capelinha que deu lugar às obras da construção da Igreja do Horto.
“Vinte e cinco torres ia ser a igreja. Era uma igreja imensa”, lembra Luíza.
Mas o projeto do templo precisou ser adiado, em 1969, para abrigar a estátua do
padre Cícero. “Tu vai gostar da minha história”, adverte ela.
“Pé de tambor”
Além das
colunas da igreja, lembra Luíza, a estátua pediu espaço de um grande “pé de
tambor”, crescido ao lado de onde se construía a igreja do Horto. “Não tinha
homem que ‘abaicasse’. Era imenso de grosso, velho”, descreve Luíza.
A obra da
igreja precisou ser transferida para detrás do casarão, onde até hoje se
arrasta a construção. “O povo diz assim: ‘Casamento de fulano está demorando
que nem a igreja do Horto, que não termina’”, diverte-se ela.
Mas o “pé de
tambor”, querido pela sombra que oferecia aos devotos depois da subida à
colina, precisou ser derrubado. Conta Luíza: “Cavaram, cavaram, mas tem a raiz
mestra que desce, a raiz que é gerada. Colocaram uma bomba, encostada à raiz, e
quando estourou a bomba, o pé de tambor arreou, o bichim. Abaaaaaaaá! Era para
surgir a estátua”, relembra.
E o episódio
da queda da árvore considerada sagrada causou tanta comoção, que não faltaram
histórias. “Dizem que o pé de tambor chorou, que botou sangue. Eu não gosto disso
não (de mentira)”, detalha ela.
Nova vida
Luíza diz que
a estátua deu nova vida ao Horto, assim como o Casarão reformado pela
Prefeitura, em 1999. Ela conta que o escultor da obra, Armando Lacerda, “se
tornou um grande amigo nosso. Era de Recife. Ele fez uma (estátua) em Sousa, de
um padre, fez outra de Nossa Senhora, não sei onde, e assim por diante era
chamado. Bebia uma cerveja lascada”, detalha ela.
Mais detalhes,
sobre quanto tempo durou, se houve queixa dos padres em construir estátua do
padre não reconhecido como santo pela Igreja, Luíza é breve. “Nem sei, menino.
Sei não. A gente não sabia disso não porque pobre nem era besta de se meter em
conversa de padre”, desconversa.
Na despedida,
Luíza coloca a mão no queixo para as fotos, se assombra ao descobrir a idade do
fotógrafo – “Ui! Eu dava 23 anos para você” – e rejeita o título de beata. “Sou
devota de Deus, do Sagrado Coração de Jesus, e grande amiga do padre Cícero”.
Quem
ENTENDA A NOTÍCIA
Luíza Maria dos Santos chegou a Juazeiro do Norte, com os pais, vinda de Campina Grande (PB). Apesar de rejeitar o título de “beata”, ela é a única viva das mulheres que viviam na casa de descanso do padre Cícero
Quem
ENTENDA A NOTÍCIA
Luíza Maria dos Santos chegou a Juazeiro do Norte, com os pais, vinda de Campina Grande (PB). Apesar de rejeitar o título de “beata”, ela é a única viva das mulheres que viviam na casa de descanso do padre Cícero
SAIBA MAIS
A estátua de
padre Cícero, de 25 metros de altura, deve ser entregue restaurada nesta
quinta-feira, dia 21, a partir das 19 horas.
Preocupação de
muitos devotos, Luíza Maria dos Santos comenta sobre o processo de beatificação
de Padre Cícero. “Tá demorando a ser beatificado. Não tá demorando? E muito.
Outros que morreram mais (cedo) já está, como o papa, a irmã Dulce…”, comenta.
Luíza conta
que o “pé de tambor” também foi abrigo de muitos namoros. “Tinha uma mulher da
rua do Horto que arranjou um namorado debaixo desse ‘pé de tambor’ e se casou
com ele”, relata.
Sobre a
construção da igreja do Horto, no lugar onde hoje abriga a estátua de Padre
Cícero, Luíza lembra das dificuldades. “Era muito difícil, naquele tempo, no
tempo do preá, não tinha nem água”.
Ela conta ter
chegado ao Horto para morar, com 12 anos. “Era menina abestalhada. Naquele
tempo menina de 12 anos não conversava nada. Hoje, conversa que nem homem da
cobra”, compara.
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