Por José Mendes Pereira
Vocês do meu sofrido nordeste brasileiro, sabem por que eu, Virgulino Ferreira da Silva, o verdadeiro Lampião, acanalhei um pouco o Brasil? É fácil. Na minha época, as leis que eram criadas no meu Brasil não eram cumpridas com rigor, e cumpria aquele que queria, e só quem saía perdendo, era o homem que andava na linha, que não se envolvia com malandragens, que não roubava, que não matava, que não depredava fazendas, que não estuprava, que não queimava animais, que não invadia vilas e vilarejos...
Lampião e seus comandados
No chão nordestino, de Norte ao Sul e de Leste ao Oeste, Antonio Ferreira da Silva, Livino Ferreira da Silva, Ezequiel Ferreira da Silva, minha cabroeira toda, e eu, fizemos o que bem pensamos fazer, e as autoridades, não sei por qual razão deixaram as nossas desordens acontecerem. E se estavam ganhando com isso, eu não sei. Mas a verdade é que a minha vida de bandoleiro foi um verdadeiro mar de rosas para muitos que não tinham empregos. Quem me perseguia em qualquer lugar, estava ganhando seu soldo dos governos. A minha "Empresa de Cangaceiros Lampiônica & Cia" deu emprego àquela gente do meu torrão sofrido, que vivia passando fome. Eu era perseguido, mas perseguia também, principalmente os policiais que me procuravam por todos os lugares. Eu, às vezes, quando encontrava um deles por aí sozinho, eu mandava um dos meus comandados dar apenas uma carreira nele, e lhe dizia que não o matasse, deixasse ir embora, era o trabalho dele procurar bandidos. Mas se fosse um grupo, aí, a coisa pegava. Aí o tiroteio começava mesmo com gosto de gás.
E durante o período de desordens, matamos, roubamos, cortamos língua de gente, capamos, ferramos mulheres inocentes, açoitamos indivíduos com chicotes,
decepamos orelhas e cabeças de autoridades ainda vivas, e eu, vivi 20 anos fazendo estas desordens, as quais eu as chamo de traquinagens de criança. Se no meu tempo as leis criadas no Brasil fossem cumpridas, eu, Lampião, não tinha feito tantas desordens por onde passei, e quem sabe, talvez nem tinha dado início à vida de cangaceiro.
Zé do papel ficou sem uma orelha
Agora você veja bem em outros países por aí, as leis são severas, e além do mais, são cumpridas. Não há choro de ninguém e pedido de clemência por autoridade nenhuma, que faça a lei não ser cumprida. É o caso da Indonésia. Não abre mão para aquele que tentar desrespeitar o seu chão, a sua autoridade, o seu governo.
Eu sei que eu gostava mesmo era não obedecer ninguém, ficar por cima da lei. Mas, hoje, vejo que não há nada melhor do que a paz, a tranquilidade, a união com todos, amando e sendo amado, sendo respeitado sem nenhum tipo de arma nas mãos, sorrindo ao lado dos amigos, da família, participando das festividades do lugar, sem ter que olhar para todos os lados, com medo que alguém vem em direção para vingar algo.
Eu, Virgulino Ferreira da Silva o incrível Lampião, aconselho a todos aqueles que pensam, ou já estão no mundo do crime: "saiam dessa imediatamente e cuidem de formar uma família, porque não existe nada melhor do que ser feliz, ser do bem, ser uma ovelha do rebanho de Deus. Ser cangaceiro do Diabo é a coisa pior que existe em todo o universo. Existem dois caminhos: O bem e o mal. Então o caminho do bem é mais fácil para seguir viagem em direção à casa do grande poderoso, que é Deus.
Eu, Virgulino Ferreira da Silva - o incrível Lampião.
Eu, Virgulino Ferreira da Silva - o incrível Lampião.
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http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com
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Mendes amigo: Gostei da sua crônica, falando em nome de Virgolino Ferreira. E, com certeza: Se as nossas leis fossem cumpridas literalmente, acredito que nem mesmo Virgolino fosse transformado em Lampião.
ResponderExcluirAntonio Oliveira - Serrinha