Por José
Romero Araújo Cardoso
Impressiona o
número de baixas dos militares paraibanos quando da guerra de Princesa em 1930,
pois em todos os combates registraram-se perdas consideráveis para os
“legalistas” a serviço do governo João Pessoa.
Indubitavelmente
a razão está no conhecimento apurado do meio ambiente, tendo em vista que ser
conhecedor profundo da região e dos aspectos naturais era condição sine qua non
para do sucesso de qualquer investida, seja guerrilheira ou militar
convencional.
Princesa está
localizada em área montanhosa, a qual perfaz continuidade do planalto da
Borborema, sendo caracterizada pelas formações rochosas que serviram de aliadas
em diversas tocaias que levaram morte, terror e pânico aos valentes soldados do
bravo Presidente.
Conhecimento
das condições naturais, incluindo vegetação extremamente útil ao mimetismo em
condições de guerrilha, caso do acontecido em Princesa, aliou-se à perspicácia
dos sertanejos comandados por Zé Pereira.
Estar
acostumados com trilhas e veredas outrora palmilhadas por Lourenço de Britto
Correia e por Dona Nathália do Espírito Santo era vantagem que o nativo do
sertão de Princesa desfrutava com relação aos seus adversários de luta.
Meio biótico e
abiótico interagiram formidavelmente no ensejo das batalhas travadas no ao
longo do Território Livre de Princesa, pois a sede mesma nunca foi ameaçada.
Transformou-se, no dizer de Rui Facó, em fortaleza inexpugnável, onde vacilavam
tropas regulares que intuíam adentrar o reino encantado de Dom José I, monarca
de Princesa, expressão armorial cunhada por Ariano Suassuna em seu romance da
Pedra do Reino.
Do alto das
serras que circundam Princesa tinha-se visão panorâmica que permitia vislumbrar
qualquer aproximação de tropas, tornando-se fácil preparar nos mínimos detalhes
tocaias fatais, como a que destroçou a Coluna da Vitória logo após Água Branca.
Os lances da
guerra de Princesa desenrolaram-se em época de seca violenta, a qual segundo
Orris Barbosa em Secca de 32 – Impressões (Rio de Janeiro, Adersen Editores,
1935; Mossoró, Fundação Vingt-un Rosado/Coleção Mossoroense, 1998)) sobre a
crise nordestina, teve início em 1926, com breve intervalo em 1929 e
intensificação nos anos seguintes, sendo 1933 marcado por inverno promissor.
A vegetação
estorricada pelo rigor da estiagem foi profusamente utilizada pelos sertanejos para
esconder-se, literalmente. Encourados, passavam despercebidos dos inexperientes
militares oriundos do litoral. Militares afeitos à luta contra o cangaço, como
Manuel Benício, Manuel Arruda de Assis, entre outros, sabiam os segredos da
ecologia do semiárido na ênfase ao disfarce dos Princesenses, equilibrando o
jogo de forças.
A ecologia do
sertão, onde os bravos e fortes tem consideravelmente mais chance de sobreviver
serviu de fundamento ao sucesso das escaramuças travadas na guerra de Princesa,
pois conhecer o meio ambiente revelou-se imprescindível para a definição das
vitórias naquelas eras turbulentas marcadas pelo rigor dos combates nas
alterosas de uma área de exceção do sertão paraibano.
José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso.
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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