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sábado, 14 de março de 2015

A ecologia enquanto aliada dos Princesenses na guerra de 1930

Por José Romero Araújo Cardoso

Impressiona o número de baixas dos militares paraibanos quando da guerra de Princesa em 1930, pois em todos os combates registraram-se perdas consideráveis para os “legalistas” a serviço do governo João Pessoa.

Indubitavelmente a razão está no conhecimento apurado do meio ambiente, tendo em vista que ser conhecedor profundo da região e dos aspectos naturais era condição sine qua non para do sucesso de qualquer investida, seja guerrilheira ou militar convencional.

Princesa está localizada em área montanhosa, a qual perfaz continuidade do planalto da Borborema, sendo caracterizada pelas formações rochosas que serviram de aliadas em diversas tocaias que levaram morte, terror e pânico aos valentes soldados do bravo Presidente.

Conhecimento das condições naturais, incluindo vegetação extremamente útil ao mimetismo em condições de guerrilha, caso do acontecido em Princesa, aliou-se à perspicácia dos sertanejos comandados por Zé Pereira.

Estar acostumados com trilhas e veredas outrora palmilhadas por Lourenço de Britto Correia e por Dona Nathália do Espírito Santo era vantagem que o nativo do sertão de Princesa desfrutava com relação aos seus adversários de luta.

Meio biótico e abiótico interagiram formidavelmente no ensejo das batalhas travadas no ao longo do Território Livre de Princesa, pois a sede mesma nunca foi ameaçada. Transformou-se, no dizer de Rui Facó, em fortaleza inexpugnável, onde vacilavam tropas regulares que intuíam adentrar o reino encantado de Dom José I, monarca de Princesa, expressão armorial cunhada por Ariano Suassuna em seu romance da Pedra do Reino.

Do alto das serras que circundam Princesa tinha-se visão panorâmica que permitia vislumbrar qualquer aproximação de tropas, tornando-se fácil preparar nos mínimos detalhes tocaias fatais, como a que destroçou a Coluna da Vitória logo após Água Branca.

Os lances da guerra de Princesa desenrolaram-se em época de seca violenta, a qual segundo Orris Barbosa em Secca de 32 – Impressões (Rio de Janeiro, Adersen Editores, 1935; Mossoró, Fundação Vingt-un Rosado/Coleção Mossoroense, 1998)) sobre a crise nordestina, teve início em 1926, com breve intervalo em 1929 e intensificação nos anos seguintes, sendo 1933 marcado por inverno promissor.

A vegetação estorricada pelo rigor da estiagem foi profusamente utilizada pelos sertanejos para esconder-se, literalmente. Encourados, passavam despercebidos dos inexperientes militares oriundos do litoral. Militares afeitos à luta contra o cangaço, como Manuel Benício, Manuel Arruda de Assis, entre outros, sabiam os segredos da ecologia do semiárido na ênfase ao disfarce dos Princesenses, equilibrando o jogo de forças.

A ecologia do sertão, onde os bravos e fortes tem consideravelmente mais chance de sobreviver serviu de fundamento ao sucesso das escaramuças travadas na guerra de Princesa, pois conhecer o meio ambiente revelou-se imprescindível para a definição das vitórias naquelas eras turbulentas marcadas pelo rigor dos combates nas alterosas de uma área de exceção do sertão paraibano.

José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Enviado pelo professor, escritor e pesquisador do cangaço José Romero Araújo Cardoso.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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