Por Sálvio Siqueira
Meus amigos,
para poderem manter-se ‘intocáveis’, vários chefes de grupos de cangaceiros
‘partilham’ amizades, conluios e troca de favores mútuos com grandes
latifundiários, os ‘coronéis’, dos sertões nordestinos.
Lampião
As perguntas
são inúmeras sobre o, ou ‘os’, por que (s), que Lampião demorou tanto tempo
para ser abatido, pondo fim ao seu reinado sangrento.
A sua maneira
de agir, sua habilidade com guerra de movimentos, é sem dúvida alguma, um
grande colaborador para tanto. Porém, a sua outra forma de agir, talvez muito
mais eficaz, eram os ‘acordos’ que fazia com grandes ‘coronéis’...
Coronel João Sá
Em terras baianas, precisamente no sertão daquele Estado, um dos maiores latifundiários existentes, e coiteiro de Lampião, foi, sem dúvida alguma, o coronel João Sá.
João de Sousa Lima
Em uma séria pesquisa,
o renomado pesquisador/historiador João de Sousa Lima, nos relata parte dessa
façanha do coronel. Em uma, das tantas, fazendas do coronel João Sá, a fazenda
Espaduada, o ilustre pesquisador encontra vasto material documental que nos
revela como agia esse latifundiário para obter, possuir, formar, seu império
territorial.
Relata o escritor:
“(...) No
vasto material documental colhido na Fazenda Espaduada, de propriedade do
Coronel João Sá, há vários registros de processos criminais, correspondências
entre políticos, pedidos e citações de políticos baianos famosos como Oliveira
Brito, General e político Renato Teixeira, tenente Zé Rufino, major Felipe
Borges de Castro, Pedro Calmon, João Borges, Petronilho de Alcântara Reis, João
Maria de Carvalho, Octávio Mangabeira, Josefa Marinho, Juracy Magalhães,
Antônio Balbino, Lafayete Coutinho, Manoel Novais, Jayme Ayres, Liberato de
Carvalho(...).” (“Lampião – O Cangaceiro”. LIMA, João De Sousa. Editora
Fonte Viva. 1ª edição, pg 156. 2015. Paulo Afonso, BA)
Como outros
‘maiorais’ donos de imensas e variadas propriedades, com poderes regionais,
fornecido, aceito e patrocinado pelas autoridades governamentais, o coronel
segue adquirindo seu monumental território, a custo de sangue, lágrimas e
sacrifícios daqueles que não tinham proteção alguma.
Coronel João Sá em Jeremoabo - Bahia, junto a população e
autoridade eclesiástica.
“(...) Muitos dos meus entrevistados citaram o Coronel João Sá como sendo uma
pessoa acostumada a invadir terrenos, roças e fazendas dos seus vizinhos e dos
municípios limítrofes a Jeremoabo. Há também várias correspondências que
mostram brigas entre o coronel e prefeitos, fazendeiros e políticos (...).”
(Ob. Ct.)
O pesquisador
encontra entre a documentação “inúmeras escrituras públicas de compra e venda
de terrenos, roças e fazendas”, todas com papel com marca d’água, além de citar
um maço de notas fiscais, referentes a compra de materiais que, segundo o
escritor, “são verdadeiras obras de arte”.
Abaixo, para os senhores terem uma ideia da quantidade de terras que o coronel João Sá possuía, citaremos os nome de alguns imóveis rurais, os quais sua documentação foi encontrada entre seus pertences:
“RELAÇÃO DAS
MINHAS PROPRIEDADES NOS MUNICÍPIOS DE JEREMOABO E GLORIA" (Além de outros
municípios)
Sede da Fazenda Caritá.
Quando pertencente ao coronel João Sá, era um constante e protegido coito de Lampião
e sua cabroeira.
“Bela Vista de Brotas(residência); Fazenda – Damasc. Com três soltas de criar gados e açude; Uma solta – Serra do Cavaleiro, uma dita solta, na fazenda Cana Bravinha; Fazenda Caritá; Fazenda Tingui; fazenda Rangel; Fazenda Cacimba de Pedra; Fazenda Bananeira de Feliciano; Fazenda Catuní; Fazenda Vasi Grande; Fazenda Barriguda; duas de nomes Fazenda Tamanduá, uma em Jeremoabo e outra no sertão, em Paulo Afonso, município de Glória; Duas no município de Nova Olinda; Fazenda Cametá, em Jeremoabo; Fazenda Lagoa do Mato; Fazenda de Dentro; Fazenda Riacho do Meio; Fazenda Poço do Angico; Fazenda Belo Horizonte; Fazenda Barro Branco; Fazenda Caraíba; Fazenda Engenho Velho, produtora de cana; Fazenda Novo Horizonte.”(Ob. Ct.)( Obs.: Transcrição obedecendo a grafia)
Esses relatos,
sérios por demais, só vem nos mostrar que não só quem pegou nas armas e atirou,
é culpado nas veredas do cangaço. Há relatos, na mesma obra literária, onde
vemos claramente a citação do cangaceiro Lampião.
“(...) No rico
acervo de cartas encontradas no casarão do coronel João Sá, muitas delas têm um
grande valor histórico e algumas fazem referências a Lampião e os cangaceiros
(...)”. (Ob. Ct.)
O Coronel João Sá, prestava ‘favores’ sobre processos onde, os réus, solicitavam sua ajuda. Segundo o historiador, esses favores eram repassados ao filho do coronel, o Sr João Gonçalves de Carvalho Sá, que fora Promotor de Justiça em Jeremoabo, BA.
João Gonçalves, “aos 23 anos de idade, inicia sua carreira pública na Magistratura. Em 1937 já é Promotor de Justiça da Bahia, depois, Subprocurador da Fazenda Estadual. Chega a ser Procurador da Prefeitura de Salvador”.
Componentes da família Sá
“(...) Em
vários processos, os réus pediam ajuda ao Coronel João Sá, pai do promotor João
Carvalho Sá, que politicamente devia favores aos seus correligionários (...)”.
(Ob. Ct.)
A História do
Cangaço tem que ser vista da maneira e forma que os fatos aconteceram. Não
podemos deixar de lado, fazer de conta que não ocorreram determinadas ações,
pois, corremos o risco de deixar uma imensa lacuna com um ‘buraco negro’.
Não podemos ‘criar’ fatos, no entanto, temos a obrigação de levarmos aos interessados em estudar o tema o que realmente aconteceu, sem puxação de saco, babamento, esgueiramento ou esconde esconde, na história... das quebradas do sertão, na época do cangaço.
Fonte “Lampião
– O Cangaceiro - Sua ligação com os Coronéis Baianos, Raso da Catarina e outras
histórias”. LIMA, João De Sousa. Editora Fonte Viva. 1ª edição. 2015. Paulo
Afonso, BA
Foto Benjamin Abrahão
Ob. Ct.
João De Sousa Lima
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