Desde a sua morte, ocorrida em julho de 1938, o mito Lampião continua sendo objeto de análise.
Virgolino Ferreira da Silva, O Lampião, volta em forma de mito, despertando paixões, ódio e fantasias. Dia 28 de julho é o seu aniversário de morte. Lampião foi assassinado no ano de 1938, na Grota de Angico, Estado de Sergipe.
A mais importante informação é um relatório sigiloso feito pelo então gerente do Banco do Brasil de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Jaime Fernandes Guedes, repassando para a superintendência do banco, informações sobre o ataque de Mossoró, em 1927.
O gerente faz uma análise sociológica do cangaço, denuncia os "coronéis do sertão" que, como afirma, eram piores do que os cangaceiros e denuncia o apoio que as autoridades cearenses da época davam ao banditismo.
Bandido ou herói, anjo ou demônio, é dentro desta visão maniqueísta que Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, está sendo analisado no âmbito das comemorações do seu aniversário de nascimento. Para uns, ele foi uma espécie de Robin Hood do Nordeste que tomava dos ricos para dar aos pobres. Para outros, ele foi um assassino cruel que não defendeu nenhuma causa social. Foi no contexto desta dicotomia que separa o bem do mal que Lampião viveu entre a cruz e a espada. De pistola em punho, ele enfrentava a polícia nas mais sangrentas batalhas. De rosário na mão, ele se ajoelhava nos pés do padre Cícero, mendigando uma bênção.
Na verdade,Lampião foi as duas coisas: bandido e herói. E não poderia ser diferente, vítima de uma sociedade injusta, ele teve a coragem de se rebelar contra o regime de escravidão da época. E nesta jornada de atrocidades, ele praticou gestos nobres e heroicos que conquistaram a simpatia popular. Esta foi a conclusão de um debate realizado na Rádio Educadora do Cariri com a presença de Vera Ferreira da Silva, neta de Lampião e Maria Bonita, Sandra Ferreira da Silva, sobrinha-neta de Lampião e os escritores Magérbio Lucena, Hilário Luceti e Antonio Amaury Correa, este último apontado como o maior conhecedor do cangaço e da vida de Lampião.
Repórter cinematográfica, Vera Ferreira da Silva neta de Lampião, transformou-se num cavaleiro errante à procura de informações sobre o seu avô. Em parceria com o escritor Antonio Amaury Correia, ela vai lançar (já lançou) um livro sobre Lampião fundamento em depoimentos de pessoas que conviveram com o cangaço, entre os quais, os ex-cangaceiros e os policiais. Foi com este objetivo que ela veio a Juazeiro participar do Simpósio sobre o Centenário de Nascimento de Lampião. Vera estranhou o fato de alguns pesquisadores negar o envolvimento de padre Cícero com Lampião. "Este é um acontecimento histórico irrefutável. Está documentado", reclama.
A convite de Padre Cícero e de Floro Bartolomeu, Lampião esteve no Juazeiro, em 1926, onde recebeu a patente de capitão, a fim de combater a Coluna Prestes. O escritor Antonio Amaury Correia informa que a patente de capitão foi dada pelo padre Cícero que ditou as palavras, enquanto o funcionário federal, Pedro Uchoa, agrônomo do ministério da Agricultura, escrevia. Esta afirmação confirmada por outros historiadores é contestada pela escritora juazeirense Fátima Menezes que atribuiu a entrega da patente a Lampião a Benjamin Abraão.
Outro assunto levantado na entrevista foi o suposto filho de Lampião, João Índio, conhecido com João Peitudo, que conseguiu uma certidão de nascimento, segundo a qual, ele é filho de Lampião com Maria Bonita. João tem a seu favor um exame de DNA. O médico Margébio Lucena autor do livro " Lampião e o Estado Maior do Cangaço", diz que esta filiação é uma farsa. Não existe possibilidade do ponto de vista histórico, afirma. O parentesco é também contestado por Vera,neta de Lampião. Ela considera absurda a ideia. "Por que aproximação com a família?", pergunta. Essa conversa de dizer que nós não o aceitamos como irmão porque ele é pobre não tem fundamento. A família de Lampião é pobre. justifica.
Apesar de uma convivência fraterna mesmo com aqueles que criticam Lampião e não vêem nenhuma qualidade positiva no rei do Cangaço, Vera Ferreira defende com intransigência aquilo que ela considera verdade e repudia o que ela classifica de mentiras. Um exemplo disso é a sua posição quanto à nova versão do filme, O Cangaceiro, rodado no Ceará. O film, segundo Vera, distorce a verdade, deturpa a imagem do cangaço, levanta suspeitas de traição. "Este filme não deve ser assistido por quem desejar saber a verdade", adverte a neta de Lampião.
Outra presença que despertou curiosidade durante a entrevista concedida à Rádio Educadora foi da sobrinha-neta de Lampião, Sandra Ferreira da Silva. Policial civil, lotada na secretaria de Segurança de Pernambuco, Sandra cresceu ouvindo críticas e elogios a seu tio-avô. Ela diz que está na polícia em razão da mesma sede de Justiça defendida por Lampião. Muita gente costuma fazer referências a ela como sendo parente do rei do cangaço, lembrando que ela é tão valente quanto o tio. Sandra faz questão de afastar este estigma de valentona. Bonita e educada, ela diz que sente orgulho de ser parente de Lampião e dá um conselho aos estudiosos do assunto para que escutem os dois lados para depois fazerem um juízo sobre Lampião. "Analisem a época em que ele viveu", recomenda. "Existe muita mentira e fantasia sobre Lampião". Muita gente diz ter sido vítima de Virgolino. Quando a gente vai pesquisar, Lampião nunca passou naquele lugar onde a pessoa disse que ele esteve". O comentário é do escritor Antonio Amaury, esclarecendo que rudo de ruim que acontecia no sertão era atribuído a lampião, que por isso chegou a pagar por muitos crimes que não cometeu. "Essa história de jogar criança para cima e aparar na ponta do punhal é mentira. Nunca aconteceu este tipo de crueldade praticada por Lampião. Ele não era um santo. Ao contrário, cometeu muitos crimes hediondos, mas a polícia era muito violenta", diz o escritor. Acrescentou que conheceu muitos cangaceiros reintegrados à sociedade. Eram pessoas dóceis, afáveis, exemplares pais de família, modelos de cidadão.
Fonte: Jornal "DIÁRIO DO NORDESTE"
Cidade: Fortaleza-CE
Data: 26 de julho de 1997
Ano: ?
Número: ?
Este jornal foi a mim presenteado pelo pesquisador do cangaço e sócio da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço Francisco das Nascimento (Chagas Nascimento).
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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