Por Clerisvaldo B.
Chagas, 17 de fevereiro de 2017 - Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano - Crônica 1.637
Já disse
o poeta e repentista Sebastião da Silva:
“Carneiro do
meu sertão
Quando sua
orelha esquenta
Dá tacada em
baraúna
Que a casca
fica cinzenta
Sentindo o
gosto de sangue
Descendo no
pau da venta”.
Desde menino
que ouço no Sertão: “um carneiro pode matar um boi de repente. Basta agitar-se
e partir com uma cabeçada na barriga do touro para a vítima estrebuchar”. Na
verdade, dão a esse perigoso ataque o nome de “marrada”. O carneiro mostra ser
mais perigoso, eficiente e arisco do que o bode. Mas a marrada de um ou de
outro pode fazer grandes estragos no ser humano que vai desde a fratura de
ossos até o óbito instantâneo.
Seria cômico
se não tivesse sido trágico a teoria da Polícia Militar sobre a morte do
cidadão de Pariconha ─ município situado na zona serrana do Alto Sertão
alagoano.
José de Souza,
um agricultor de 79 anos, foi encontrado morto na sua propriedade no povoado
Corredores. O corpo com alguns ferimentos e rastros de sangue, levou a polícia a
desconfiar que o idoso tivesse sido morto por um bode. O corpo foi levado para
o IML de Arapiraca, informaram os policiais.
Bode. Imagem
divulgação.
A notícia é
muito simples, mas inusitada. Não é todo dia que um bode mata uma pessoa. E se
foi um bode mesmo que derrubou o agricultor o que foi que houve antes? Bem, se
somente estavam ali os dois, o homem e o bode, não é fácil saber. Defunto não
fala e bode bodeja.
Os
apresentadores de TVs confundem sempre burro com jumento e bode com carneiro. A
falta de informação é cruel. Chamar um carneiro de bode é uma afronta. Tira-se
um símbolo cristão, coloca-se a marca do diabo. E se o bode representa o que
não presta, deve ter vindo mesmo da farta invenção do homem, porque a buchada é
mais valiosa do que a do concorrente.
Ê cabra velho,
vamos navegar nesse sertão medonho e queimado, pois, quando um cantador rural o
elogia o outro citadino responde:
“Cala-te com
teu sertão
Teu sertão é
monturo
A água do teu
sertão
É mijo de
bode, puro”.
Dizer o que,
camarada? É mais um fim de semana para se conversar miolo de pote.
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