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terça-feira, 30 de maio de 2017

TRADUZINDO O MAIOR POETA ISRAELENSE MODERNO, YEHUDA AMICHAI, DIRETAMENTE DO ORIGINAL HEBRAICO.

Por Evandro da Nóbrega

TRADUZINDO O MAIOR POETA ISRAELENSE MODERNO, YEHUDA AMICHAI, DIRETAMENTE DO ORIGINAL HEBRAICO — Dedico à imensa legião de meus seis leitores o exercício de tradução abaixo, perpetrado a partir de um excelente poema do multipremiado autor judeu Yehuda Amichai (1924-2000), considerado o maior poeta moderno de Israel.
Seguinte: nos últimos tempos, tenho sido aplicado estudioso da língua hebraica, tanto a bíblica quanto a moderna, isto é, a forma reconstruída e falada em Israel. Para "não ficar pendendo para um lado só", dedico também uma hora diária aos estudos em torno do árabe (seja o árabe clássico, o do Corão, seja o árabe padrão moderno, compreendido, em suas vertentes escrita e falada, nos países árabes).
Nosso bom amigo, engenheiro, cronista, administrador e intelectual Carlos Pereira de Carvalho e Silva sempre disse que, "quando o Druzz começa a estudar um assunto, vai fundo, vai até dar na pedra". Pois bem, fiel a esse desiderato carlo-pereiriano é que o degas aqui procura enfrentar os desafios mais árduos, para ver se aprende REALMENTE os novos idiomas com que no momento luta...
VERTER, A MELHOR FORMA DE LER
Traduzir (ou melhor, verter, transpor para nossa própria língua) é a melhor forma de ler um poema ou outro texto qualquer, em profundidade. É o que tentamos com o presente exercício: trazer para nossa expressão a linguagem coloquial hebraica de Yehuda Amichai, que legou ao mundo grande número de obras, já traduzidas para mais de 40 idiomas.

Então, não pensem, please, que desejamos dar status de fina Literatura a esse mero exercício de tradução que se segue. Primeiro, vem o texto do poema inteiro, em hebraico moderno, sem os "pontos" vocálicos da tradição massorética; os créditos desse texto original devem ir para a Makon, a Agência Judaica para Israel; depois é que se segue nossa humilde tradução, versão, recriação ou que outro nome tenha.
TEXTO ORIGINAL EM HEBRAICO: HA-'YEHUDIM (OS JUDEUS)
היהודים
היהודים הם כמו תצלומים מוצגים בחלון ראוה
כולם יחדיו בגבהים שונים, חיים ומתים
חתנים וכלות נערי בר-מצווה עם תינוקות.
ויש תמונות משוחזרות מתצלומים ישנים
שהצהיבו.
ולפעמים באים ושוברים את החלון
ושורפים את התמונות. ואז מתחילים
לצלם מחדש ולפתח מחדש
ולהציג אותם שוב כואבים ומחייכים.
רמברנדט צייר אותם חבושי תרבושים
טורקיים ביפי זהב מועם.
שגאל צייר אותם מרחפים באוויר
ואני מצייר אותם כאבי וכאמי.
היהודים הם שמורת יער עד
שהעצים בה עומדים צפופים, ואפילו המתים
לא יוכלו לשכב. הם נשענים, עומדים, על החיים
ואין מבדיל ביניהם. רק האש
תשרוף את המתים מהר יותר.
ומה בדבר האלוהים? אלוהים נשאר
כמו בושם אישה יפה שעברה פעם
על פניהם ואת פניה לא ראו,
אך בשמה נשאר, מיני בשמים,
בורא מיני בשמים.
אדם יהודי זוכר את הסוכה בבית סבו.
והסוכה זוכרת במקומו
את ההליכה במדבר שזוכרת
את חסד הנעורים ואת אבני לוחות הברית
ואת זהב עגל הזהב ואת הצמא ואת הרעב
שזוכרים את מצרים.
ומה בדבר האלוהים? לפי הסכם
הגירושין מגן עדן ומבית המקדש
אלוהים רואה את בניו רק פעם
אחת בשנה, ביום הכיפורים.
היהודים הם לא עם היסטורי
ואפילו לא עם ארכיאולוגי, היהודים
הם עם גיאולוגי עם שברים
והתמוטטויות ושכבות וגעש לוהט.
את תולדותיהם צריכים למדוד
בסולם מדידה אחרת.
היהודים משויפי סבל ומלוטשי ייסורים,
כמו חלוקי אבן לחוף הים.
מותר היהודים רק במותם
כמותר חלוקי אבן על שאר האבנים:
כשהיד החזקה משליכה אותם
הם קופצים שתי פעמים או שלוש
על פני המים, לפני שהם טובעים.
לפני זמן מה פגשתי אישה יפה,
שסבה עשה לי ברית מילה
זמן רב לפני שנולדה. אמרתי לה,
את לא מכירה אותי ואני לא מכיר אותך,
אבל אנחנו העם היהודי,
סבך המת ואני הנימול ואת הנכדה היפה
זהובת השיער: אנחנו העם היהודי.
ומה בדבר האלוהים? פעם שרנו
"אין כאלוהינו" עכשיו אנו שרים, "אין
אלוהינו",
אבל אנו שרים, אנחנו עדין שרים.

RECRIANDO EM PORTUGUÊS O POEMA DE AMICHAI
Dedicamos esta versão (que vem abaixo, logo a seguir) a nossos amigos & amigas Milton Marques JúniorChico VianaLuiz Nunes NunesVerônica Lúcia R. LunaMaria Angela Sitonio WanderleyHannah VerheulEmmanuel PonceleonJoão Batista de BritoSérgio De Castro PintoDeunice Maria AndradeMapê Beiriz CarneiroAmanda Sabrina De SousaLinda KerbyLuiz Alberto X. A. Pinto, Palmari de Lucena, José Milton BandeiraMitslav De Luna NóbregaManuela Mariz-NóbregaAna Sofia, Nonato Guedes, Zé Euflávio HorácioAgnaldo AlmeidaGuy JosephMilu DuarteFrancisco PintoFlavio R Coutinho CoutinhoFlavio Satiro FernandesValmira Gonçalves FernandesEliane Dutra FernandesVirgolino De AlencarMaria Adette WanderleyJoaquim Osterne CarneiroMilu DuarteLynn Hirshman, Everaldo Dantas da Nóbrega, Edivaldo Dantas da NóbregaHeraldo NóbregaJoão Alfredo Guimarães Corrêa de OliveiraHumberto Cavalcanti de MelloHumberto de AlmeidaCloris SutmollerIrio Medeiros da NóbregaMaria Adette WanderleyMaria LimaFátima AraújoBraulio TavaresIrapuan Sobral Filho "et alii" que gostam destas coisas aparentemente abstrusas... ;-)

OS JUDEUS
poema de Yehuda Amichai (1924-2000)
(tradução/recriação de Evandro da Nóbrega)

Os judeus são como fotografias 
mostradas nas vitrines de uma loja,
todas juntas, mas de alturas diferentes,
algumas vivas, outras mortas,
noivos e noivas, garotos de Bar Mitzvah e crianças.

Há fotos restauradas a partir de retratos amarelados...
De quando em vez, chegam pessoas e quebram a janela
e queimam as fotos; e, então, começa-se novamente
a fotografar, a revelar muitas novíssimas fotos,
exibidas outras vezes, entre dores e sorrisos.

Rembrandt pintou judeus usando roupas turcas
e até turbantes com uma bela cor de ouro polido.
Chagall os pintou pairando misteriosamente no ar,
E eu os retrato como meu pai e como minha mãe...

Os judeus são uma eterna floresta preservada
onde as árvores se tornam muito densas 
e até mesmo os mortos não se podem deitar:
estão de pé, eretos, apoiando-se no que vive.

E você não pode distinguir um judeu de outro.
Só esse fogo queima os mortos mais rapidamente.
E quanto a Deus? Deus demorou muito,
como demorou o cheiro de uma mulher bonita 
que, uma vez, os enfrentou de passagem
— mas não viram o rosto dela; apenas permaneceu
a fragrância, o tipo do perfume, sua marca...
Abençoado seja quem criou os perfumes.

Um homem judeu se lembra da "sukkah"
— a cabana temporária erguida durante o festival
do Sukkot, que dura toda uma semana —
na casa do avô; e a "sukkah" recorda por ele
o antigo e inesquecível vagar no deserto.
a graça da juventude, as Tábuas dos Dez
Mandamentos e o ouro do Bezerro de Ouro,
a sede e a fome que nos remetem ao Egito.

E com relação a Deus? Segundo o acordo
da separação no Jardim do Éden e no Templo,
a divindade vê seus filhos só uma vez ao ano,
na Festa do Yom Kippur, o Dia do Perdão...

Os judeus não são um povo histórico;
nem mesmo um povo arqueológico...
São pessoas geológicas, com fendas
e falhas e colapsos e estratos e lava ardente.
Sua história deve ser medida em escala diferente.

Os judeus são polidos pelos tormentos
e também polidos como seixos na praia.
Distinguem-se tão somente em sua morte
como seixos existentes entre outras pedras:
quando uma mão poderosa os arremessa,
eles pulam duas ou três vezes na superfície
da água, antes de se afogarem...

Faz algum tempo, encontrei bela mulher,
cujo avô foi quem me fez a circuncisão,
muito tempo antes de ela nascer. Disse-lhe:
Você não me conhece, nem conheço Você.
mas nós dois somos do povo judeu...
Seu falecido avô e eu, o circuncidado,
e Você, a bela neta, de cabelos dourados,
todos somos do numeroso povo judeu...
E quanto a Deus? Houve um tempo em que cantamos:
"Não há Deus como o nosso"; e, agora, cantamos:
"Não há um Deus nosso" — mas cantamos,
nós ainda cantamos...

[Nota do tradutor: correções serão bem-vindas!]


Evandro da Nóbrega

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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