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sexta-feira, 28 de julho de 2017

LOUCOS DAS RUAS DE POMBAL, DÉCADA DE 1970. NONATO DOIDO.

 Por Jerdivan Nóbrega de Araújo

Loucos Das ruas de Pombal, década de 1970.

Eu trago em mim a loucura de todos os loucos das ruas da Pombal da minha insana infância.

NONATO DOIDO


Nonato era filho de Custódio Santana, que foi um dos maiores seresteiros e boêmios de Pombal, e de Elvira de Paiva, que já era uma solteirona de idade avançada quando teve esse romance passageiro com o boêmio, que resultou em uma gravidez inesperada. Custodio era irmão de Zezinho Sapateiro e nunca reconheceu Nonato como filho.


Na nossa maldade de menino, o chamávamos de Nonato Doido. Mas, ele era uma criança crescida, não era violento, não fazia medo ou agredia a ninguém e era muito religioso. Nonato andava apressado, quase correndo, como se estivesse sempre atrasado para chegar em algum lugar. Outras vezes seguia pelos trilhos do trem contando os dormentes.

Era frequente vê-lo na mercearia de Terezinha de Natan, na rua do Guindaste, para quem levava e trazia recados, os quais, ao ouvi-los, saia repetindo pelas ruas de Pombal até o destinatário, para não esquecer. Não era confiável para levar algum tipo de comida, já que frequentemente abria o pacote, comia e voltava para a pessoa que enviou com a desculpa seguinte:

- Eu comi tudo: fiz bem ou fiz mal? 

Também era frequentador da casa de Eudócia, minha tia, aonde chegava sempre na hora do almoço ou jantar. Chamava minhas tias por Madrinha Dora e madrinha Doça. (Eudócia). 

Todo mundo que ele gostava era “padrinho” ou “madrinha”. Chamava Padrinho Toinho (da Bodega) e Madrinha Dulce.

Conta Paulo Sergio de Zé de enfermeiro que certa vez Dona Alice, mãe de Toinho da bodega, pediu para Nonato ir entregar o almoço do seu marido do outro lado do rio, mas recomendou, que tivesse cuidado e não comesse o pirão. Ele então saiu e atravessou o rio, mas como não resistia a comida, depois que atravessou, parou debaixo de uma oiticica, sentou-se e comeu todo o pirão, depois pegou o alguidar de barro lavou-o, arreou as calças e banhou a bunda dentro. Após a travessura, ele regressou para a casa de Alice, deixando o homem sem comida no roçado. Quando foi indagado devido à demora na entrega do almoço, ele contou a dona Alice tudo que aprontara e, ao final perguntou:

“Fiz bem ou fiz mal? ”

Ainda jovem quando a loucura não ainda não era tão evidente, Nonato fazia grelha de ferro para fogão de lenha, as quais sua avó negociava nas ruas e feiras de Pombal. 

Dizem que Nonato herdou de custodio a voz: era um bom cantor de músicas religiosas, e popular, só que nunca conseguia decorar as letras, trocando certas palavras, o que fazia o povo gargalhar dentro da igreja.
Nonato ou Raimundo Nonato de Paiva viveu por 81 anos: nasceu no dia 20 de fevereiro de 1920 e faleceu no dia 11 de agosto de 2001.


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


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