Por Gilvan de Melo Santos(1)
Em janeiro de 2002, de posse de uma filmadora amadora SVHS, entrei na pobre
casa de uma mulher que pertenceu ao bando de Lampião. Fascinado e curioso por
me deparar com uma representação viva do tempo e espaço do cangaço, fenômeno
por mim lido e visto até então apenas em livros, fotografias, filmes, jornais,
peças de barro, pintura, e tantas outras manifestações artísticas, entrevistei
a companheira do cangaceiro Canário, MARIA ADÍLIA.
Este artigo
apresenta trechos discursivos desta entrevista, a última de MARIA ADÍLIA(2).
Poderia chamar esta entrevista de conversa devido à liberdade concedida à
entrevistada de expressar sua própria experiência, pois, como bem adverte
Eduardo Coutinho, tentei esquecer que tinha uma câmera na mão, instrumento de
poder que muitas vezes inibe interlocutores a se expressarem livremente(3).
Devido também
à resistência de ADÍLIA em conversar “aquelas coisas” sobre cangaço (4), deixei
o comando indireto da conversa para o guia turístico e artista Beto Patriota; o
que justifica o entrecruzamento constante entre presente e passado na fala da
ex-cangaceira, bem como das vozes de entrevistador, entrevistada e
interlocutores durante o trabalho. A estratégia forçada tornou a sua fala menos
presa às exigências da pesquisa, porém mais próxima ao método de associação
livre proposto por Sigmund Freud no final do século XIX. Não querendo dizer que
diante do silêncio expectante da entrevistada, não perguntei sobre a sua entrada
no cangaço, Lampião, Maria Bonita ou outras questões de meu interesse.
O espaço para
a interlocução foi a casa da ex-cangaceira, localizada na periferia da cidade
de Poço Redondo, a cento e oitenta e quatro quilômetros de Aracaju,capital
sergipana, às margens do Rio São Francisco, com população de aproximadamente
vinte e seis mil habitantes e economia voltava para a agricultura e pecuária.
Faz parte deste município a grota de angico, local privilegiado historicamente
por ser palco de uma das maiores atrocidades realizadas pela polícia
nordestina: morte e exposição das cabeças cortadas de Lampião, Maria Bonita e
nove cangaceiros, na madrugada de 1938.
Foram
percebidos na prefeitura e na praça principal do município signos referentes a
um Lampião herói, através da construção de monumentos e placas em homenagem ao
famoso cangaceiro, bem como de agenciamentos discursivos manifestados nas falas
de seus artistas, o que traduz uma memória armazenada em suas instituições e
seus símbolos, formas de impregnação do mito do herói e da conseqüente imagem
midiática da cidade(5). Entrevistando os artesãos Beto Patriota e Tonho, por
exemplo, ambos afirmaram que as pessoas tinham mais medo da polícia do que dos
cangaceiros, e que Lampião e Antônio Conselheiro estão vivos hoje naqueles que
resistem às injustiças sociais6.
Segundo Costa
(7), Poço Redondo é a cidade brasileira com o maior número de cangaceiros
nascidos em seu chão. Conhecida como “a capital do cangaço”, teve mais de
trinta, dentre homens e mulheres. Nela nasceram Sila (companheira de Zé
Sereno), Diferente e Mergulhão (irmãos de Sila, sendo este último morto na
chacina de Angico(8), Canário (companheiro de Maria Adília), Penedinho
(cangaceiro que matou Canário e era primo-irmão de Adília)9 e Maria Adília.
Acrescente a estes, coiteiros como Cumpade Bel, Durval (dono da antiga fazenda
Angico), Mané Félix e o mais famoso, Pedro de Cândido, aquele que, torturado,
revelou à polícia o esconderijo dos cangaceiros no dia anterior à chacina.
Panelas de
alumínio na cozinha, retratos antigos, plantas e cadeira de balanço na sala,
facilitavam o trânsito entre o momento da entrevista e o passado através do
qual tinha interesse em mergulhar através das imagens produzidas pela memória
daquela mulher. Memória que faz dobrar o tempo e traz saudades enraizadas da
infância de quem experimentou os ares do sertão nordestino.
Como grande parte das mulheres que entraram no cangaço, Maria Adília, ainda adolescente, experimentou situações de perseguições e sofrimentos. Comparando o cangaço ao inferno, expõe na entrevista o amargor do preço de sua paixão. Ao ser questionada sobre o motivo que a levou a ingressar no cangaço, ela conta de uma proposta do seu namorado, Bernardino, futuro cangaceiro Canário.
Segue o
diálogo:
ADÍLIA: Eu fui
porque quis. O rapaz era daqui, de Poço Redondo. Ainda não tinha dezesseis
ainda, ainda ia interar. Eu namorava com ele. Nós dois quase menino comecemo a
namorar. Meus pais não queria e os pais dele não queria. Ele me falou que ia
pro sul, aí ele perguntou se eu ia pro sul e com dois anos ele vinha me buscar.
Aí eu disse: Se você for pro inferno e vier me buscar eu vou, quanto mais pro
sul (...) pensando outra coisa.
ENTREVISTADOR:
Aí não era pro sul, era pro cangaço?
ADÍLIA: Era
pro inferno.(10)
Ela não é a
única ex-cangaceira a lembrar com dor os tempos do cangaço. Em entrevista ao
jornal Diário de Pernambuco, o cangaceiro apelidado por “Vinte e Cinco”
comentou: “Sou José Alves de Matos, natural de Paripiranga, no Estado da Bahia.
Em Paripiranga começou a minha história triste que não quero recordar (...) foi
lá que saí para entrar no bando do Capitão Virgolino”(11). Também Benício Alves
dos Santos, o cangaceiro Saracura, pertencente por cinco a seis anos ao bando
de Lampião, questionado se sentia saudades do tempo do cangaço e se voltaria a
fazer parte do bando, responde: “Não, não, nada... eu odeio quando falam
daquele tempo”(12).
Entretanto,
como a memória é feita de fios trançados por múltiplas experiências, quer sejam
individuais ou coletivas, e dialoga com o contexto histórico, incluindo suas
exigências e interesses próprios, Sila e Dadá enalteceram aspectos nobres da
vida no cangaço. Ao falar sobre o cangaço, Dadá, companheira de Corisco, afirma
que foi a maior união que ela já viu na vida; uma espécie de “família de gente
grande”(13).
Para Sila,
“mulher no cangaço era como flor: se encostar numa delas, machuca”. Ainda no
mesmo depoimento, acrescenta que “todos os cangaceiros eram muito amorosos,
tinham tanto carinho que eram capazes de esquecerem das armas”(14). O que
justifica as divergências dos discursos das cangaceiras e dos cangaceiros acima
mencionados, além de questões puramente subjetivas, subtende-se que seja a
influência do contexto histórico no momento das enunciações. Construídos em
lugares e tempos diferentes, os discursos ficam entrincheirados por uma “bacia
semântica”(15), dentro da qual imagens e lembranças, bastante sincronizadas,
constituem o seu conteúdo.
Neste sentido,
o cangaceiro Vinte e Cinco, na época da enunciação do seu discurso (1959),
vivia o tempo do desenvolvimentismo nacionalista de Juscelino Kubitschek,
período marcado, sobretudo, pela busca da modernidade em detrimento da
tradição, industrialização efervescente, controle dos sindicatos e pelo medo
dos comunistas e suas representações imaginárias, incluindo o cangaço(17).
Basta lembrar que em 1935, posto no leque da tradição irrendentista do Brasil,
e alimentado tanto pelo governo Vargas quanto pelo Partido Comunista do Brasil
(PCB), Lampião foi vinculado à imagem de revolucionário, “defensor da liberdade e da vida do camponês”(18).
Ainda
mergulhado na “bacia semântica” do desenvolvimentismo nacionalista desde a era
getulista e adentrando nos meandros da ditadura militar, marcados
principalmente pela repressão radical a toda força política e todo discurso
contrário ao governo dos generais, a fala do cangaceiro Saracura revela a
tentativa de negar (“não, não, nada...”) um período de resistência à lei, não
mais permitido no tempo de sua enunciação.
Ao contrário,
Dadá e Sila, nas décadas de 80 e 90, experimentavam os primórdios da nova
abertura política representada, sobretudo,pela anistia aos exilados políticos e
pelo fim da ditadura, apesar da insistência do país em querer ascender à
categoria de país de primeiro mundo, redundância mítica do nacionalismo e
desenvolvimentismo outrora citados e ressignificados por governos civis. O que
chama a atenção na fala da ex-cangaceira é que, paradoxalmente, imbuído de um
realismo sensorial e, diria, na contramão de um discurso dominante na “capital
do cangaço” através do qual Lampião é um herói contra as forças da injustiça
social, Adília destaca: “a pessoa viver dois anos correndo pelo mato não é boa
coisa não né ?”(19).
É certo que
neste trecho nos é revelado o caráter nômade da vida dos cangaceiros de
Lampião, porém, ao destacar uma vida de perseguição constante, em detrimento do
romantismo expresso pelas suas companheiras Dadá e Sila, e por ainda lamentar a
vida “infernal” das mulheres grávidas nas caatingas nordestinas, Maria
amplifica mais dores que prazeres no cangaço, utilizando um discurso fora de
lugar, ao menos do lugar físico, Poço Redondo.
Sendo o seu
discurso imerso no regime noturno da imagem, caracterizado principalmente pela
descida, pela inversão eufemizante, intimidade, religiosidade e por toda uma
simbologia mística (20), Maria Adília utiliza figuras de linguagem que, por
isomorfismo, garantem uma análise das imagens produzidas pela sua semântica.
Por exemplo,
ao utilizar a metáfora “inferno”, referindo-se ao cangaço, a imagem que
trazemos é de uma queda a uma região de sofrimento. “Inferno” que substituiu o
caminho proposto por Canário, de ir ao sul do Brasil. “Cangaço” que, semelhante
ao inferno, “quem entrava não podia mais sair”(21), local de morte, temática
recorrente no discurso da ex-cangaceira, preso à estrutura mística do
imaginário.
Posteriormente
analisarei essa “queda” como “descida”, pois da experiência do cangaço Maria
retirou lições necessárias para a sua vida.Maria Adília era espontânea,
sorridente, vocalidade por onde fluíam “causos”, histórias do passado
misturadas a fatos presentes. Usando um vestido verde cheio de bolas brancas e
se balançando numa cadeira, sua voz era uma expressão movida pela memória,
gravitando entre imagens de seu tempo de cangaço e seus desejos de mulher e de
mãe no tempo presente.
Num “discurso
de autoridade”(22), em contraposição ao seu aspecto frágil e aparentemente
inocente, enfatizava: “eu só digo o que eu sei”(23), revelando o aspecto
empírico e subjetivo de sua fala, uma das características de uma história
pautada na oralidade, onde, segundo Menezes, privilegia a “vivência subjetiva
dos fatos sociais e históricos”, uma “história do local, do comunitário, de
certos grupos e movimentos sociais”, além de uma percepção “vista de baixo”(24).
Reticente ao
falar de Lampião e Maria Bonita, sua voz silenciava ante as expressões
marcantes e enfáticas do sertanejo. No trecho abaixo vemos um exemplo:
ENTREVISTADOR:
Como eram Lampião e Maria Bonita?
ADÍLIA:
Lampião era boa pessoa. Ele não era brabo, só quem fizesse brabeza com ele,
quem tivesse a língua grande, mas quem era bom com ele, que via ele e não
conversava pra ninguém, aí era amigo dele. Agora conversou... não era amigo
dele não. Maria Bonita era boa pessoa, boa, boa pessoa também. Eu não tenho
queixa de Maria Bonita.
ENTREVISTADOR:
E era bonita mesmo?
ADÍLIA: Era
bonita, mas não era....(25)
Esta omissão
no discurso manifesto (“agora conversou...”, “mas não era...”) garante à sua
fala um subtexto de rara beleza linguística, onde as reticências ficam à espera
de imagens por onde ouvintes, agora leitores, podem completar o discurso que
não se evocou. No subtexto de Maria pode está escrito que morria aquele que conversava para a polícia onde Lampião estava. Sobre a beleza de Maria de Déia,
Adília talvez quisesse expressar que era exagero o epíteto atribuído ao seu
sobrenome: bonita. No entanto, essas imagens arquetípicas, ou seja, que cabem
em vários discursos, permitem unir pontos reticentes da fala da entrevistada a
outros registros de memória, bem como a múltiplas vozes e textos, abertas ainda ao devaneio poético e a interesses acadêmicos, artísticos, políticos ou outros quaisquer.
Vemos também
neste trecho uma eufemização (“Lampião era boa pessoa...”, “Maria Bonita era
boa pessoa também...”, “era bonita, mas não era...”), uma das características
do regime noturno, bem diferente da amplificação do heroísmo ou anti-heroísmo
dos cangaceiros, destacados na maioria das falas de personagens
(25) Neste instante muda de assunto e começa a conversar com o poeta Beto Patriota, tentando, na minha análise, esquivar-se das perguntas sobre Lampião e Maria Bonita. Entrevista com Maria Adília, históricos, de um e do outro lado da antinomia característica do regime diurno da imagem.
Voltando à
temática da morte, Maria relata o assassinato de seu companheiro Canário,
destacando o seu casamento “de verdade, na igreja”, uma espécie de “descida” -
não de queda - ao “inferno” que ela designou “cangaço”. A experiência religiosa
evidenciada em seu discurso a fez encontrar a realização do sacramento do matrimônio após a dor da perda do seu ente querido.
ENTREVISTADOR:
Por onde a senhora andou no tempo do cangaço?
ADÍLIA: Isso
aí tudo era mato, era caatinga, sempre eu andava pro todo canto, Raso da
Catarina, pra Bahia, Santa Brígida. Eu saí ...eu tava pra ganhar neném, num
lugar chamado Saco Grande, aí mataram ele. Um primo-irmão meu que matou ele. Aí
eu fui e me entreguei. Passei três meses pro lado de Propriá e aí vim me embora
pra aqui. Aí eu ganhei o menino e no dia que o menino inteirou um ano eu me
casei. Aí eu me casei de verdades, fui casada mesmo, na igreja. Foi quando
mataram Canário, e já tinham matado Lampião. Todo mundo foi se entregando, aí
eu fui e me entreguei logo em Propriá. Não vou caminhar na frente de soldado,
Deus me livre!!(26)
Neste aspecto,
distanciando dos episódios relacionados às façanhas heróicas, anti-heróicas e
pícaras, principalmente de Lampião e Corisco, contadas pela maioria de seus
companheiros e contemporâneos do cangaço, além de cordelistas, Maria Adília
lembra também a sua condição de mãe e num processo de “inversão eufemizante”,
busca na queda do “inferno”, a “descida” em seu próprio ventre, “símbolo
hedônico da descida feliz”(27), representadas nas lembranças de seu filho tido
no cangaço, como se evidencia neste diálogo:
ENTREVISTADOR:
Quantos filhos você teve no cangaço?
ADÍLIA: Eu só
tive um. Eu não sei onde é que ele mora. Mora em São Paulo, mas não sei o
endereço dele. Agora eu tô com vontade de ir acolá para vê se ele me dá
notícia. Ele mora em São Paulo, mas eu não conheço.(28)
O registro de
sua memória apresenta a trajetória pessoal de uma mulher que entrega o seu
filho a algum coiteiro - ação comum das mulheres cangaceiras -, o que não exime
a sua fala da influência da memória coletiva e da recepção ali por nós
representada, costurando e movendo também as suas lembranças.
A vocalidade da entrevistada, de forma mais perceptível que o texto escrito, caracteriza-se por uma série de reticências, silêncios, redundâncias, omissões, falas movidas por interesses e desejos pessoais em harmonia ou conflito com interesses e desejos da recepção e que, não fossem amarradas por um fio narrativo, daria à evocação final uma aparente descontinuidade. Transformado em texto, a voz de Adília é, em termos linguísticos, característica de uma “oralidade mista”(29), onde voz e letra se misturam e marcam o tempo todo uma rítmica e repetições (“ele mora em São Paulo”), o que facilita a leitura dos significados linguísticos e o esclarecimento das imagens inconscientes produzidas pela enunciadora, “indicadores fabulosos do trabalho gestado pela memória e pelos desejos”(30) da entrevistada.
Neste aspecto,
um texto oral possivelmente fará o leitor acompanhar o corpo e a tonalidade da
voz do enunciador, absorver a sua cultura, representada principalmente pela sua
linguagem. Em medida semelhante ao texto poético, essa voz faz sentir o “peso
das palavras, sua estrutura acústica, a materialidade textual”(31). Um texto
não apenas lido, mas também imaginado pelo leitor e presentificado por uma voz
inseparável da performance de quem o enuncia. A voz de Adília é a própria “emanação
do seu corpo”(32), corpo desejante de mãe, antes de ser cangaceira.
Além disto, o
conteúdo latente da voz de Maria Adília - “eu não sei onde é que ele mora” ou
“agora eu tô com vontade de ir acolá” - expressa a oscilação entre a movência
da memória individual e as exigências da recepção, onde, em diálogo, dão
verossimilhança à narrativa. A vontade de Maria Adília é ir até onde está o seu
filho, no “São Paulo” da sua memória, aquele “São Paulo” primordial que a fez
fugir do seio da família para viver um grande amor. Não podendo sair do
“inferno” - “cangaço”, ao menos ela poderá, quiçá, ir ao sul encontrar o seu
filho, ainda vivo em seu ventre.Não sabendo onde ele mora (e sabendo!), ela
preenche o espaço do seu desejo (“agora eu tô com vontade de ir acolá...”) com
o desejo do entrevistador (“por onde a senhora andou no tempo do cangaço?”).
O subtexto dá
lugar a toda uma “rede de tensões e representações da realidade presente e
atuante na dinâmica da entrevista”33, produzindo assim um texto que ora se aproxima
e ora se distancia dos desejos da entrevistada. Na assertiva de Hallbwachs, ela
cobre a lacuna de sua memória individual com o discurso mais estável da memória
coletiva e recepção, por sua vez apoiada em “leis e pontos de referência”
aceitos socialmente (34).
A voz de
Adília, hoje transformada em texto, apresenta-se como imagem de uma memória. Um
“testis” mais que um “textum”, um documento de uma verdade, uma narrativa
enriquecida pela voz de quem viveu um tempo histórico construído por discursos
obtusos, românticos, fantasiosos, ideológicos ou ditos “verdadeiros”.
Sua memória é um “arquivo imperfeito”, pois não epifaniza a verdade, nem sequer a sua verdade, mas a verossimilhança, agenciada pela narrativa do desejo e das amarras sociais, apesar da autoridade de seu discurso (35).
Adília
entendia bem o que era uma mulher cangaceira aguentar as perseguições da
polícia trazendo no ventre um filho, pois conduziu, juntamente com Maria
Bonita, a companheira Sila para um lugar distante da volante do tenente José
Rufino. Sua ajuda fez nascer, com “saudações de tiros”, “João do Mato”, o
primeiro filho de Sila (36).
Durante a
conversa tive também o objetivo de saber como os cangaceiros absorviam e
vivenciavam manifestações da cultura popular. Vejamos:
ENTREVISTADOR:
Quais são as boas recordações do cangaço, alguma festa ou outra coisa?
ADÍLIA: tinha
as festas de nós mesmos, o xaxado. Festa dos paisanos na rua não tinha não.
Tinha nas cidades: Prestes Domingos, Pedra D’água, Cururipe (37)
(ao citar a
cidade de Cururipe como um dos locais de festa, ela lembra que foi lá onde
mataram o seu companheiro Canário, retomando mais uma vez a temática da morte)
Importante acrescentar que Sila, pertencente ao mesmo sub-grupo de Adília,
relata que em um dos coitos eles dançaram ao som da “sanfona de Pé quebrado,
sanfoneiro dos bons.” Também comenta que o cangaceiro Pitombeira contava as
façanhas do Capitão Lampião em tom de narrativa, sorrindo e teatralizando cada
passagem 38, numa prova de que o cangaço escrevia o seu próprio texto
maravilhoso e fantástico, possivelmente em diálogo constante com a literatura
de cordel.
Diz: ADÍLIA:
Chegou um bando de menina. É a senhora que é Dona Adília?. Não sou Adília não.
Pula, pula. A senhora é aquela mulher que conversa as coisas. Eu converso
porque tenho boca pra conversar, ninguém me empata conversar... pula... as
meninas saíram aqui, viraram acolá...mas menino, eu vou dar crença a menino. É
certo que eu já fui menina e ninguém me dava crença. Sai pra lá. Sai pra lá
(todos sorrimos)...(39)
Adília não
ficou tão famosa quanto Sila, Maria Bonita e Dadá. No entanto, a sua aparente
imparcialidade discursiva - característica também destacada pelo pesquisador
Frederico Pernambucano de Mello (40) contribuiu na construção de um imaginário
do cangaço menos baseado nas estruturas heróicas. Sila e Adília ficaram
aproximadamente dois anos no cangaço; Maria Bonita oito, e Dadá doze anos.
Maria Bonita morreu em 1938 aos 27 anos, Dadá em 1994 aos 79 anos e Sila em
2005 aos 86 anos.
Em 1937, o
Diário de Pernambuco destacou a presença das mulheres no cangaço, dentre elas,
a entrevistada Maria Adília: Pela ordem, foram mulheres de destaque no cangaço:
Dadá, Maria Bonita, Sila, Durvinha, Neném, Mariquinha e Maria Juvina, seguidas,
sem ordem, de Enedina, Rosinha, Dulce, Otília, Lili, Lídia, Adília, Sebastiana,
Maria de Azulão, Veronquinha, Inacinha, Eleonora, Cristina, Moça (Joana Gomes),
Quitéria e outras mais. Por suposição de adultério, Lídia e Lili foram mortas
por seus amantes, José Baiano e Moita Braba (...) Maria Bonita, Nenem,
Mariquinha, Eleonora, Maria de Azulão e Enedina são mortas pela volante, com
seus corpos vilipendiados de mil maneiras. Dadá, Sila, Maria Juvina, Dulce,
Otília, Inacinha, Adília, Quitéria, Sebastiana e Moça, presas pela volante, vêm
a ser poupadas e se reincorporam à sociedade...(41):
Ao final de
março do mesmo ano (em 2002), Beto Patriota me telefonou comunicando a morte de
Adília, aos 82 anos, dois meses após conceder esta entrevista, pedindo-me
aquelas que seriam as últimas imagens de um pedaço da memória do cangaço.
Lembro que ao ir embora no dia da entrevista, levava comigo uma sensação de
despedida, além do registro fílmico, e fiquei a observar atentamente aquela
senhora magra acenando para nós da porta de sua humilde casa. “Cangaceira sim,
e valente; mas mulher, sempre e antes de tudo”(42).
Este artigo
não deixa de ser uma homenagem a todas as mulheres que desafiaram o seu tempo e
escreveram páginas de sofrimento, sangue, tiros, dores, crimes. Mas também,
sonhos, fantasias, filhos ausentes, choros e silêncios. Como Maria Adília,
tantas mulheres tiveram a coragem de dizer o não-dito no lugar do já dito pela
história oficial.
NOTAS E REFERENCIAS:
NOTAS E REFERENCIAS:
1 Professor do
Departamento de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba. Doutorando em
Lingüística pela Universidade Federal da Paraíba.
2 Parte desta entrevista foi publicada no filme documentário, intitulado Sonhos de Maria: a ex-cangaceira do bando de Lampião, em 2005, como pré-requisito para a minha conclusão junto ao Curso de Bacharelado em Arte e Mídia da Universidade Federal de Campina Grande. Segundo informações do poeta e facilitador da entrevista, Beto Patriota, esta foi a última que Maria Adília concedeu.
3 COUTINHO, Eduardo. “O cinema documentário e a escuta sensível da alteridade”. Projeto História, São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1981.
4 Entrevista com Maria Adília. Poço Redondo-SE, jan. 2002. 2 fitas SVHS (20 min). Concedida a Gilvan de Melo Santos.
5 DURAND, Gilbert. “Método arquetipológico: da mitocrítica à mitoanálise”. In:. Campos do imaginário. Tradução de Maria João Batalha Reis. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.
6 Entrevista com Beto Patriota e Tonho Artesão. Poço Redondo-SE, jan. 2002. 1 fita SVHS (15 min).
Concedida a Gilvan de Melo Santos.
7 COSTA, Alcino Alves. O sertão de Lampião. Aracaju: s.r., 2004, p. 203.
8 SILA, Ilda Ribeiro de Souza. Angicos, eu sobrevivi: confissões de uma guerreira do cangaço. São Paulo: Oficina Cultural Mônica Buonfiglio, 1997, p. 30 e p. 70.
9 Sobre a morte de Canário, leia-se: COSTA, O sertão..., p. 275-283.
10 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
11 Diário de Pernambuco, Recife, 10 mai. 1959, p. 6. 144 [17]; João Pessoa, jul./ dez. 2007.
12 SOARES, Paulo Gil (dir.). Memória do cangaço: entrevista com Saracura. Pernambuco: s.r., 1965, 1 DVD.
13 HUMBERTO, José (dir). A musa do cangaço. Entrevista com Dadá. Salvador: s.r., 1983, 1 DVD.
14 SILA, Angicos: eu sobrevivi..., p. 49.
15 Segundo Durand, bacia semântica equivale ao “conjunto sociocultural identificado por regimes imaginários específicos e mitos privilegiados”. DURAND, Gilbert. Campos do imaginário. Tradução de Maria João Batalha Reis. Lisboa: Piaget, 1989, p. 165.
16 Foto da Coleção Antônio Amaury Corrêa de Araújo. Publicada em Superinteressante, ano 11, n. 6,
jul. 1997.
17 SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a castelo (1930-1964). 13 ed. Apresentação de Francisco de Assis Barbosa. Tradução de Ismênia Tunes Dantas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003, p. 203-231.
18 Leia-se: Discurso de “Miranda” apud VIANNA, Marly de Almeida G. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucila de Almeida Neves (orgs.). O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 76-79.
19 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
2 Parte desta entrevista foi publicada no filme documentário, intitulado Sonhos de Maria: a ex-cangaceira do bando de Lampião, em 2005, como pré-requisito para a minha conclusão junto ao Curso de Bacharelado em Arte e Mídia da Universidade Federal de Campina Grande. Segundo informações do poeta e facilitador da entrevista, Beto Patriota, esta foi a última que Maria Adília concedeu.
3 COUTINHO, Eduardo. “O cinema documentário e a escuta sensível da alteridade”. Projeto História, São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1981.
4 Entrevista com Maria Adília. Poço Redondo-SE, jan. 2002. 2 fitas SVHS (20 min). Concedida a Gilvan de Melo Santos.
5 DURAND, Gilbert. “Método arquetipológico: da mitocrítica à mitoanálise”. In:. Campos do imaginário. Tradução de Maria João Batalha Reis. Lisboa: Instituto Piaget, 1998.
6 Entrevista com Beto Patriota e Tonho Artesão. Poço Redondo-SE, jan. 2002. 1 fita SVHS (15 min).
Concedida a Gilvan de Melo Santos.
7 COSTA, Alcino Alves. O sertão de Lampião. Aracaju: s.r., 2004, p. 203.
8 SILA, Ilda Ribeiro de Souza. Angicos, eu sobrevivi: confissões de uma guerreira do cangaço. São Paulo: Oficina Cultural Mônica Buonfiglio, 1997, p. 30 e p. 70.
9 Sobre a morte de Canário, leia-se: COSTA, O sertão..., p. 275-283.
10 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
11 Diário de Pernambuco, Recife, 10 mai. 1959, p. 6. 144 [17]; João Pessoa, jul./ dez. 2007.
12 SOARES, Paulo Gil (dir.). Memória do cangaço: entrevista com Saracura. Pernambuco: s.r., 1965, 1 DVD.
13 HUMBERTO, José (dir). A musa do cangaço. Entrevista com Dadá. Salvador: s.r., 1983, 1 DVD.
14 SILA, Angicos: eu sobrevivi..., p. 49.
15 Segundo Durand, bacia semântica equivale ao “conjunto sociocultural identificado por regimes imaginários específicos e mitos privilegiados”. DURAND, Gilbert. Campos do imaginário. Tradução de Maria João Batalha Reis. Lisboa: Piaget, 1989, p. 165.
16 Foto da Coleção Antônio Amaury Corrêa de Araújo. Publicada em Superinteressante, ano 11, n. 6,
jul. 1997.
17 SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a castelo (1930-1964). 13 ed. Apresentação de Francisco de Assis Barbosa. Tradução de Ismênia Tunes Dantas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003, p. 203-231.
18 Leia-se: Discurso de “Miranda” apud VIANNA, Marly de Almeida G. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucila de Almeida Neves (orgs.). O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 76-79.
19 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
20 Destas
categorias apresentadas me remeterei a algumas delas, pontuando o que for
necessário. No entanto, para aprofundá-las, leia-se: DURAND, Gilbert. “O regime
noturno da imagem”. In: As estruturas antropológicas do imaginário: introdução
à arquetipologia geral. 3. ed. Tradução de Hélder Coutinho. São Paulo: Martins
Fontes, 2002, p. 191-281.
21 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
22 Segundo Bourdieu, o reconhecimento do “discurso de autoridade” é o suficiente para provocar o efeito persuasivo necessário. A autoridade do discurso de Maria Adília provém da sua condição de ex-cangaceira. Para aprofundar tal questão, leia-se: BOURDIEU, Pierre. “Linguagem e poder simbólico”. In: A economia das trocas lingüísticas: o que falar quer dizer. São Paulo: Edusp, 1998, p. 91.
23 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
24 Numa mesa redonda pude dialogar com a professora aspectos de meu primeiro vídeo-documentário,
intitulado “Lampião: uma história contada pela arte”. Para maiores detalhes, ver: MENEZES, Marilda.
Conferência: Lampião vive: memória e linguagens (comentário do vídeo: Lampião: uma história contada pela arte). Campina Grande: Departamento de Psicologia, projeto aula-extra, em 8 ago. 2002. Sobre os pressupostos da História Oral, recomendo o recente artigo: VELOSO, Thelma Maria Grisi. “Pesquisando fontes orais em busca da subjetividade. In: WHITAKWE, Dulce Consuelo Andreatta & VELOSO, Thelma Maria Grisi (orgs.). Oralidade e subjetividade: os meandros infinitos da memória. Campina Grande: EDUEPB, 2005, p. 17-42.
21 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
22 Segundo Bourdieu, o reconhecimento do “discurso de autoridade” é o suficiente para provocar o efeito persuasivo necessário. A autoridade do discurso de Maria Adília provém da sua condição de ex-cangaceira. Para aprofundar tal questão, leia-se: BOURDIEU, Pierre. “Linguagem e poder simbólico”. In: A economia das trocas lingüísticas: o que falar quer dizer. São Paulo: Edusp, 1998, p. 91.
23 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
24 Numa mesa redonda pude dialogar com a professora aspectos de meu primeiro vídeo-documentário,
intitulado “Lampião: uma história contada pela arte”. Para maiores detalhes, ver: MENEZES, Marilda.
Conferência: Lampião vive: memória e linguagens (comentário do vídeo: Lampião: uma história contada pela arte). Campina Grande: Departamento de Psicologia, projeto aula-extra, em 8 ago. 2002. Sobre os pressupostos da História Oral, recomendo o recente artigo: VELOSO, Thelma Maria Grisi. “Pesquisando fontes orais em busca da subjetividade. In: WHITAKWE, Dulce Consuelo Andreatta & VELOSO, Thelma Maria Grisi (orgs.). Oralidade e subjetividade: os meandros infinitos da memória. Campina Grande: EDUEPB, 2005, p. 17-42.
25 Neste
instante muda de assunto e começa a conversar com o poeta Beto Patriota,
tentando, na
minha análise, esquivar-se das perguntas sobre Lampião e Maria Bonita. Entrevista com Maria
Adília, Concedida a Gilvan..., grifos nossos.
minha análise, esquivar-se das perguntas sobre Lampião e Maria Bonita. Entrevista com Maria
Adília, Concedida a Gilvan..., grifos nossos.
26 Entrev.
Maria Adília, Concedida a Gilvan..., grifos nossos.
27 DURAND, As estruturas..., p. 203.
28 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan..., grifos nossos.
29 ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: a literatura medieval. Tradução de Amalio Pinheiro e Jerusa Pires Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 18.30 VELOSO, “Pesquisando fontes...”, p. 29.
31 ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: EDUC, 2000, p. 64.
32 O conceito de performance aqui desenvolvido advém da teoria de Paul Zumthor. Segundo ele, “é o ato pelo qual um discurso poético é comunicado por meio da voz e, portanto, percebido pelo ouvido”. Ver: ZUMTHOR, Paul. Escritura e nomadismo. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Sônia Queiroz. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005, p. 87. Sobre relação da voz com o corpo, ver: ZUMTHOR, Performance..., p. 71-86 e p. 99.
33 AUGRAS, Monique. “História e subjetividade”. In: SINSOM, O.R.M.V. (org.). Os desafios contemporâneos da história oral. Campinas: CMU/ UNICAMP, 1997, p. 30.
34 HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice Editora; Revista dos Tribunais, 1990, p. 57-58.
35 Sobre a idéia de arquivos imperfeitos, leia-se: COLOMBO, Fausto. Os arquivos imperfeitos: memória social e cultura eletrônica. São Paulo: Perspectiva, 1991.
36 SILA, Angicos, eu sobrevivi..., p. 77-80.
37 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
38 SILA, Angicos, eu sobrevivi..., p. 42 e p. 54.
39 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
40 Numa conversa pessoal comigo, em abril de 2007, Frederico Pernambucano de Mello acrescentou que Maria Adília, ao contrário de Dadá e Sila, não foi influenciada por teorias marxistas, através das quais afirmava que Lampião era um herói injustiçado pela classe dominante.
41 Diário de Pernambuco, Recife, 18 abr. 1937, apud MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem foi Lampião. Recife: Stahli, 1993, p. 113, grifos nossos.
42 SILA, eu sobrevivi...,p. 75.
27 DURAND, As estruturas..., p. 203.
28 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan..., grifos nossos.
29 ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: a literatura medieval. Tradução de Amalio Pinheiro e Jerusa Pires Ferreira. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 18.30 VELOSO, “Pesquisando fontes...”, p. 29.
31 ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: EDUC, 2000, p. 64.
32 O conceito de performance aqui desenvolvido advém da teoria de Paul Zumthor. Segundo ele, “é o ato pelo qual um discurso poético é comunicado por meio da voz e, portanto, percebido pelo ouvido”. Ver: ZUMTHOR, Paul. Escritura e nomadismo. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Sônia Queiroz. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005, p. 87. Sobre relação da voz com o corpo, ver: ZUMTHOR, Performance..., p. 71-86 e p. 99.
33 AUGRAS, Monique. “História e subjetividade”. In: SINSOM, O.R.M.V. (org.). Os desafios contemporâneos da história oral. Campinas: CMU/ UNICAMP, 1997, p. 30.
34 HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice Editora; Revista dos Tribunais, 1990, p. 57-58.
35 Sobre a idéia de arquivos imperfeitos, leia-se: COLOMBO, Fausto. Os arquivos imperfeitos: memória social e cultura eletrônica. São Paulo: Perspectiva, 1991.
36 SILA, Angicos, eu sobrevivi..., p. 77-80.
37 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
38 SILA, Angicos, eu sobrevivi..., p. 42 e p. 54.
39 Entrevista com Maria Adília, Concedida a Gilvan...
40 Numa conversa pessoal comigo, em abril de 2007, Frederico Pernambucano de Mello acrescentou que Maria Adília, ao contrário de Dadá e Sila, não foi influenciada por teorias marxistas, através das quais afirmava que Lampião era um herói injustiçado pela classe dominante.
41 Diário de Pernambuco, Recife, 18 abr. 1937, apud MELLO, Frederico Pernambucano de. Quem foi Lampião. Recife: Stahli, 1993, p. 113, grifos nossos.
42 SILA, eu sobrevivi...,p. 75.
RESUMO:
Este artigo
apresenta trechos discursivos da última entrevista da ex-cangaceira do bando de
Lampião, Maria Adília. A voz de Adília, hoje transformada em texto,
apresenta-se como imagem de uma memória. Um “testis”mais que um “textum”, um documento de amplo valor histórico, que faz mover o
imaginário do cangaço.
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