Por José Mendes Pereira
Dia de vacinação contra a febre
aftosa. Seu Galdino e seu Leodoro juntaram o gado que estava no campo e o
tangeram em busca do curral da fazenda do seu Galdino. Os técnicos do governo
estadual já estavam à espera. Queriam bater Record naquele ano, porque em anos
passados morreram muitos animais em todas as propriedades, e foi por falta de
cuidado do governo, tardou com o fornecimento das vacinas contra a febre aftosa.
Além dos funcionários Estadual seu Galdino convidou 8 homens dispostos na
segurada dos animais para a vacinação, e tudo ocorreu muito bem. Nenhum
imprevisto. Finalmente, o gado dos dois pequenos fazendeiros ficou são e salvo
de uma possível epidemia da doença que tanto assola este sertão brasileiro.
Após os trabalhos concluídos
todos foram à mesa na sala única da casa grande para fazerem um café reforçado,
com leite, queijo, carne assada, e como sobremesa do homem camponês espécie
feita de gergelim pisado com rapadura preta do cariri e farinha. Terminado o
café cada um tomou rumo às suas casas e o pessoal do governo dirigiu-se para o
carro e pé na estrada, porque outros fazendeiros estavam à sua espera para
cumprir a vacinação.
Sob o alpendre da casa ficaram
apenas os dois fazendeiros seu Galdino e seu Leodoro orgulhosos e crentes que a
aftosa naquele ano não visitaria os seus rebanhos. Dona Dionísia serviu-os com
café, em seguida seu Galdino falou sobre os assaltos que por último vinham
acontecendo nas propriedades de outros fazendeiros, que por felicidade, os
larápios ainda não tinham os visitados para subtraírem os seus animais.
Principiou falando sobre tornozeleiras:
- Compadre Leodoro, tem muita
gente por aí diz que essa tal de tornozeleira eletrônica usada nas canelas de
ladrões, inventada recentemente para monitorar preso não tem nenhum valor. Mas
se todos soubessem o seu enorme valor não conversavam besteiras...
- O que me diz compadre Galdino?
O senhor também acredita que ela tem utilidade mesmo?
- Sim senhor...!
- Pois me diga para que ela
serve, compadre Galdino. No meu entender não tem valor o que o gato enterra...
Eu até fiquei suspenso, porque o senhor é um homem entendido e de repente surge
com uma dessa dizendo que a tornozeleira serve...
- Eu tenho a resposta aqui na
ponta da língua compadre, e tenho certeza que o senhor irá concordar comigo...,
pois sim, imagina quanto ganha pela venda delas o sujeito que a inventou,
recebe uma valiosa quantia paga pelo direito dos seus direitos autorais e pela
patente. A fábrica ganha milhões para fabricar a tornozeleira. O político que a
negocia com o fabricante ganha propina em torno de 10%, e, além disto, recebe
uma porção de tornozeleiras grátis e com notas fiscais falsificadas para vender
ao governo, que ele também está envolvido nessa desonestidade. Ela só não serve
mesmo é para monitorar preso, que com facilidade, tira da sua canela e põe num
jumento, numa égua qualquer e vai trabalhar a noite nas suas atividades de
bandidagens.
- Compadre Galdino, o senhor está
quase me convencendo...
- Verdade, dizia seu Galdino.
Outro dia eu cheguei a uma casa e vi uma senhora de muita idade com uma
tornozeleira atacando à sua canela fina. Perguntei por que ela estava usando
aquele troço em sua perna e ela me disse que tinha sido o seu neto que havia
comprado em uma farmácia, e que era muito bom para regular pressão alta e
diabete.
- Pois diga compadre Galdino, o neto enganou a pobre da velhinha.
- E ainda tem gente que diz que a
tornozeleira não serve pra nada.
- O senhor me convenceu compadre
Galdino. Eu vi o quanto ela serve depois das suas explicações. Só não serve
para monitorar preso...
- Oh, sim! – Atalhou seu Galdino
em risos
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário