Por volta de 1939, fugindo de Tacaratu, em Pernambuco, os cangaceiros Moreno (Antônio Inácio da Silva), sua companheira Durvinha (Durvalina Gomes de Sá) e o cabra João Garrincha, depois de uma estafante caminhada, chegaram a Brejo Santo, onde esperaram o anoitecer para poderem se aproximar da casa do pai de Moreno, localizada na Rua do Juá (Rua Tiburtino Inácio), o trecho, na altura do Clube das Mães, temendo uma emboscada. Com o escurecer, Moreno se dirigiu a casa do progenitor e bateu na porta. De dentro da residência soou uma indagada voz:
- Quem é que está batendo na porta?
- É Antônio, pai!
O velho Manoel Inácio da Silva abriu a porta, se abraçou com o filho, o abençoando. Depois de conversarem por alguns minutos os cangaceiros se dirigiram para outro local onde foram procurar uma dormida, longe dos casebres, na solidão da mata, na segurança do cobertor negro espalhado pela noite fria.
Um dos amigos de Moreno, um rapaz chamado Francisco, morador da famosa Rua da Lama, pediu pra acompanhar Moreno. O cangaceiro armou o rapaz, com um mosquetão e o jovem sumiu antes do amanhecer, levando a arma.
No período de tempo em que Moreno permaneceu em Brejo Santo, cometeu uma série de atrocidades, destacando-se a mais infanda, aquela em que um homem e uma mulher, moradores do Sítio “Imbuzeiro”, acusados de delação, foram, em represália, seviciados com requintes de perversidade. A mulher tivera a ponta da língua cortada com punhal, enquanto o homem fora castrado.
Enquanto isso, o então Interventor Municipal, José Matias Sampaio, recebera comunicado do Governo Estadual, o interventor Menezes Pimentel, orientando-o a construir um campo de aviação para receber o Chefe de Polícia e Segurança Publica.
O “aeroporto” fora construído no Sítio Capoeiro, região entre os Sítios Pau D’arco e Malhada do Boi. Para a terraplanagem daquele “aeroporto” foram contratados centenas de trabalhadores, tarefa executada em tempo recorde, tendo sido toda custeada pelos cofres municipais.
O Secretário de Polícia e Segurança Publica o capitão Cordeiro Neto viria supervisionar os trabalhos do Comandante da tropa dos duzentos soldados, que para cá vieram para capturar o cangaceiro Moreno.
O comandante Cel. Antônio de Oliveira, conhecido por Antônio das Coans, contava com a atuação policial competente do subtenente Alfredo Dias que, por sua vez, tinha para executar tarefas, no sentido do aprisionamento de Moreno, e de sua total confiança, os sargentos Germano e Arnou.
O sargento Arnou consegue chegar ao Sr. Pedro Antônio, portador de uma carta de Moreno a um fazendeiro, em cuja carta solicitava ajuda financeira, mas jamais aqueles soldados, sargentos, tenente, comandante conseguiriam prender Moreno, que conseguiu fugir para outras terras.
Toda perseguição a Moreno se dava apenas na zona leste da cidade, hoje o Bairro São Francisco, naturalmente, por aquela parte da cidade residir os pais e tios de Moreno.
Pois bem, o delegado da cidade soube rápido da chegada dos cangaceiros e enviou alguns soldados para a captura de Moreno. Os combatentes cercaram a casa de Manoel Inácio. Um dos guarnecedores se aproximou e foi dar uma volta nos arredores da residência, na intenção de ver se encontrava com Moreno. Ofuscado pela escuridão, outro soldado que fazia o cerco, viu na hora em que uma figura armada se aproximou da frente da casa e imaginando ser Moreno, disparou o mosquetão. O homem caiu. Atordoado pelo barulho do tiro, Manoel Inácio acordou, acendeu a lamparina e saiu gritando:
No meio da confusão, pela claridade difusa da lamparina, Manoel Inácio constatou que o morto não era seu filho. O soldado que havia realizado o disparo correu para averiguar a presa abatida e tamanha surpresa, chorou a tragédia onde tombara um dos amigos de farda e por esse crime, na ânsia de tornar-se herói, teria que prestar contas como afoito e bisonho, ofuscado pela noite, sendo traído por seus reflexos de guerrilheiro.
O policial morto pelo “fogo amigo” tratava-se do soldado Oliveira e este namorava Geralda Simplício, Professora da cidade.
Ao amanhecer,
Moreno se dirigiu a cidade, encontrando no caminho, com um colega que havia
estudado com ele. O amigo relatou o que tinha acontecido na noite anterior,
pedindo para que ele não seguisse na direção da casa do pai, pois corria o
risco de ser morto ou preso e, ainda, por seu pai já ter saído da cidade,
temendo represálias por parte da polícia. Moreno então agradeceu a informação e
ganhou as caatingas, retornando “pras Alagoas”.
ASSISTA O DOCUMENTÁRIO OS ÚLTIMOS CANGACEIROS
Dedicamos esse artigo aos filhos e demais descendentes de Moreno e Durvinha, em
especial a querida amiga Nely Maria da Conceição (Lili) e aos parentes em Brejo
Santo.
O Brejo é Isso!
Bruno Yacub Sampaio Cabral
Referência Bibliográfica
- LIMA, João de Sousa; Moreno e Durvinha, Sangue, amor e fuga no cangaço; Editora Fonte Viva; Paulo Afonso – BA; 2007;
MACÊDO, Lenira; Juarez: Questão de honra, coragem e missão; Expressão Gráfica Editora; Brejo Santo – CE; 2009;
- ARAÚJO, Francisco Alves; Veredas do chão nativo; Brejo Santo – CE; 2003;
- SILVA, Otacílio Anselmo; Esboço Histórico do Município de Brejo Santo; em Itaytera, N° 2; Crato – CE; 1956;
- Jornal Diário de Notícias; Anno X; N° 5114; Rio de Janeiro (RJ), 30 de junho de 1939; pág. 2.
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