Clerisvaldo B. Chagas, 17 de março de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.489
O poeta Chico Nunes, de Palmeira dos Índios, ficou imortalizado na memória de inúmeros apologistas, mas também no livro do ator e escritor Mário Lago. Era um cantador de pagode, embolador que assegurava o motivo do seu canto com um pandeiro na mão. O exímio e criativo poeta, porém, tinha a chamada boca suja. Era sempre convidado para duelar no chamado “Desafio”, com vários cantadores de outras localidades. Muitas passagens de “Chico Nunes das Alagoas” estão expostas e nuas no livro de Lago, desde suas putarias ao lirismo que explora a sensibilidade. Todavia, nem todas as aventuras do vate boêmio encontram-se no livro. Os apologistas ainda hoje transmitem de geração em geração episódios do canto chulo do repentista palmeirense.
O prazer de um cantador é aplicar uma surra de versos no oponente. Cantam coisas. Mas na hora que alguém pede um desafio que é cantado em qualquer gênero, aí a coisa muda. Cantar desafio é o cantador se exaltar e depreciar o adversário. Muitos desses poetas já têm boca suja ou boca porca de nascença, aí é quando aproveita o desafio para suas pornofonias. Algumas são tão bem feitas e criativas que mesmo sendo putaria não se nega o valor da estrofe. Em Alagoas eram mestres pornôs os poetas: Zezinho da Divisão e Chico Nunes. Explicada a coisa para quem não entende bem o desafio, voltemos a um episódio acontecido com o “Rouxinol da Palmeira”.
Chico Nunes fora chamado para a região de Major Izidoro, Sertão de Alagoas para duelar com outro vate chamado Zé Nicolau. A cantoria teve início e, o seu adversário tinha uma grande torcida. Chico ficou enciumado do prestígio do outro que recebia muitos aplausos, principalmente das moças que ocupavam o salão. Vez em quando um intervalo para beberem uma cachacinha. E foi em uma dessas paradas que as moças correram para a cozinha e trouxeram um bom pedaço de bacalhau como tira-gosto para o cantador José. Para Chico Nunes sobrara apenas uma pelanca com espinha. O cantador que vinha inchando de ciúmes, não perdeu tempo e estourou o seu chulo repertório, sem perder a oportunidade das rimas. Ergueu lentamente o tira-gosto ganho. Colocou-o com os dedos contra a luz da candeia e disse diante do silêncio profundo:
Da espinha do bacalhau
Vou fazer uma vareta
Pra futucar na buc....
Da mãe de Zé Nicolau.
“Escapou fedendo” de uma boa camada de madeira, mas foi expulso da casa, sem direito à volta.
Outros episódios semelhantes com o “Rouxinol”, ainda hoje são contados nos pés dos balcões sertanejos e agrestinos das Alagoas.
CHICO NUMES, O ROUXINOL DA PALMEIRA (FOTO: ZÉ MARCOLINO).
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