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quinta-feira, 25 de março de 2021

O CALDEIRÃO DE SANTA CRUZ DO DESERTO.

 João Filho de Paula Pessoa

O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto foi um movimento popular que ocorreu no Ceará, na cidade do Crato, entre os anos de 1926 a 1937, liderado pelo Beato José Lourenço, um agricultor paraibano, filho de escravos alforriados, que aos vinte anos de idade migrou para Juazeiro do Norte, conheceu Pe. Cícero e se tornou beato. O Santo Padre lhe encarregou da missão de cuidar e albergar os flagelados da região. Para tanto, o Beato José Lourenço arrendou uma terra num sítio chamado Baixa Dantas, no Crato, por volta de 1894, onde desempenhou atividades agrícolas produzindo cereais e frutas, com divisão igualitária destes produtos entre a comunidade, que rapidamente se desenvolveu tendo ele como líder, pregando a religião e a caridade, o que enfureceu os fazendeiros da região. A comunidade apesar de ter sofrido ataques de jagunços, se manteve vivia e em constante crescimento, pois para lá eram enviados por Pe. Cícero, refugiados, miseráveis, flagelados e todos que precisavam de ajuda. Em 1921, Delmiro Golveia presenteou Pe. Cícero com um boi, chamado Mansinho, que foi entregue aos cuidados do Beato, os Fazendeiros e opositores de Padre Cícero e do Beato, se aproveitaram deste fato e espalharam boatos fantasiosos de que as pessoas daquela comunidade estariam adorando e venerando o boi como se o animal fosse um deus. Diante da boataria a Igreja católica que já estava sobressaltada com os fenômenos sobrenaturais ocorridos em Juazeiro, tidos pela população como milagres, exigiu providências urgente sobre aquela situação e para evitar problemas maiores, o boi Mansinho foi sacrificado e José Lourenço foi preso a mando de Floro Bartolomeu, mas foi solto dias depois a mando de Padre Cícero. Em 1926, o sítio da comunidade foi vendido pelo proprietário, sem nenhuma indenização a comunidade e o novo proprietário exigiu a saída do Beato e de seus seguidores da terra. Pe. Cícero então alojou a comunidade do Beato José Lourenço numa outra fazenda, chamada Caldeirão dos Jesuítas, também no Crato, onde recomeçaram e também prosperou rapidamente, com produção agrícola, que era dividida irmãmente e o excedente vendido para benfeitorias da comunidade, que construiu um cemitério, uma igreja, casas para todos e já contava com mais de mil habitantes, sendo batizada de Caldeirão de Santa Cruz do Deserto. Em 1932 houve uma grande seca no Nordeste e a comunidade cresceu ainda mais com a chegada dos flagelados da seca e de muitas pessoas deixaram seus trabalhos árduos e foram para o Caldeirão em busca de uma vida melhor, o que continuou enfurecendo os fazendeiros, políticos e poderosos da região. Em 1934, Pe. Cícero faleceu, restando a comunidade órfã de seu protetor. Em 1937, sem a proteção do Santo Padre, a comunidade foi atacada e destruída pelas forças do governo de Getúlio Vargas, sob a acusação de comunismo. Muitos sertanejos sobreviventes se reagruparam em outra localidade próxima para reiniciar uma nova comunidade, mas novamente foi atacada por terra e pelo ar, ocorrendo um grande massacre, com muitas mortes, num número inexato entre quatrocentos e mil vítimas fatais, que foram enterradas em vala comum, com localização até hoje não divulgada pelo exército ou pela polícia. O Beato José Lourenço conseguiu fugir e se refugiou em Exu/Pe, onde morreu em 1946, aos 74 anos, de peste bubônica, tendo sido levado por uma multidão para Juazeiro, onde foi enterrado no cemitério do Socorro. 

João Filho de Paula Pessoa, Fortaleza/Ce. 24/03/2021.

Assista o filme deste Conto: Clique na foto abaixo

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