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segunda-feira, 19 de abril de 2021

O ADVOGADO PINHO PEREIRA ASSASSINA O COLEGA JOAQUIM VALENÇA EM 1927

Por Ticianeli em Eventos

Rua Boa Vista em Maceió, onde se situava o Cartório em que Joaquim Valença tombou sem vida

Joaquim de Oliveira Valença era filho do coronel João de Oliveira Valença, um sergipano e chefe político de São Bento (atual São Bento do Una), em Pernambuco, e de Joaquina Emília Valença. Nasceu em 12 de dezembro de 1886.

Em janeiro de 1906 conseguiu aprovação no preparatório do Liceu Alagoano em Maceió, como registrou o Evolucionista. Mas não há qualquer outro vínculo dele com Alagoas noticiado nos jornais da época.

Concluiu o curso de Direito na Faculdade de Direito de Recife em dezembro de 1910. Tinha 24 anos de idade.

O jovem advogado Joaquim de Oliveira Valença

No final de julho daquele ano teve seu nome anunciado como um dos fundadores do Partido Democrata em Pernambuco, um bloco oposicionista ao governo do Estado.

Era liderado pelo Barão de Lucena e por José Mariano. Um dos dirigentes desse grupo político, dr. Henrique Millet, montou o jornal Pernambuco, que tinha como redator-gerente o jovem Joaquim de Oliveira Valença.

Foi nessa função que se envolveu em um grave conflito com arma de fogo.

Diário de Pernambuco de 3 de janeiro de 1911 divulgou sob o título “Agressão a um desconhecido a tiros de pistola”, que dois dias antes, por volta das 17h30, transitava na rua 1º de Março, em Recife, Joaquim de Oliveira Valença e que este ao passar por um desconhecido deferiu-lhe dois tiros.

O desconhecido reagiu e revidou os disparos e diante da presença de populares, fugiu pela Rua 15 de Novembro sem ser capturado.

Joaquim Valença ainda atirou mais duas vezes, mas contra Antônio Bezerra Cavalcanti, um praça do regimento policial que dele se aproximara. Em seguida entrou no prédio de nº 13 da Rua 1º de Março e lá permaneceu por uns 15 minutos.

Pequeno Jornal de 3 de janeiro de 1911 relatou o episódio do dia anterior como tendo ocorrido após Joaquim Valença ter recebido uma paulada. Ferido, sacou de uma pistola Mauser e atirou contra o agressor, que “não se intimidou, fazendo uso de uma pistola Comblain”.

Houve troca de tiros, mas o único atingido levemente foi o transeunte sr. Napoleão Fernandes de Souza.

Diário de Pernambuco concluiu a matéria assim: “Eis pública mais uma façanha do temível Valença, já muito conhecido da polícia e da justiça deste Estado”, insinuando que o jovem já tivera problemas anteriores.

O jornal provavelmente se referia ao episódio noticiado pelo Pequeno Jornal de 16 de dezembro de 1910, que tornou público o tumulto criado pela presença na Rua 15 de Novembro do delegado do 1º Distrito da capital, dr. Leovigildo Maranhão, “ao pavimento térreo do prédio nº 43 da citada rua” para convidar “os srs. Arthur Lapa e dr. Joaquim Valença, que ali trabalham, a comparecerem à polícia para uma explicação”.

O delegado não foi atendido e mandou cercar o prédio, daí o ajuntamento de pessoas em frente ao jornal Pernambuco.

Segundo o jornal vespertino recifense, eles teriam agredido a João Batista do Espírito Santo, um desordeiro conhecido como Pingó, na madrugada daquele mesmo dia. A vítima relatou ao delegado que não sofreu males maiores que algumas bordoadas por ter conseguido escapar, devido a sua ligeireza.

Antes, em 4 de junho de 1910, Joaquim Valença e Nasiasino de Moraes agrediram o prefeito do município de Canhotinho, Antônio Domini, quando este percorria o trajeto entre a Estação e sua residência. Os agressores derrubaram o prefeito e lhe aplicaram várias punhaladas.

Uma nota do Diário de Pernambuco de 2 de dezembro de 1910 identifica Joaquim Valença como alguém “aparecido nesta cidade nos últimos 15 dias” e já o denunciava por ter o nome citado “em dois processos por tentativa de morte no município de Canhotinho”.

Continua o Diário: “O homenzinho em vez de deixar no mato o punhal ou o trabuco de suas valentias, desde que veio meter-se a gerente de um jornaleco em uma capital, entendeu continuar aqui as suas façanhas de tranca rua”.

O jornal informa que Joaquim Valença havia solicitado ao governador licença para andar armado e garantias de vida, e que no dia anterior, na Faculdade de Direito, havia tentado agredir a João Domingues, repórter do Diário de Pernambuco.

“O sr. Valença desejava saber se João Domingues mandara segui-lo por capangas, caso confessasse, disse, apanharia ali mesmo. Gingou no passo da capoeiragem que aprendeu em Canhotinho, em Quipapá e em São Bento. João Domingues não sabia dessa história de capangas, mas prontificou-se a apanhar resolutamente. O Ferrabraz esfriou um pouco e achou prudente não realizar a sua ameaça. Antes assim”.

Sobre a troca de tiros entre Joaquim Valença e um, há a possibilidade de ter ocorrido como desdobramento dos desafios públicos estabelecidos pelo jovem advogado e o coronel Antônio Gonçalves Ferreira Júnior como registrou o mesmo Diário de Pernambuco de alguns dias antes (27 de novembro de 1910).

Em uma “Publicações a Pedido” dirigida “Ao pasquim dos leprosos”, o coronel Antônio Gonçalves Ferreira Júnior se dirige aos “leprosos que infeccionam Recife numa tipografia situada nos baixos do prédio nº 43 da rua 15 de Novembro”. Se referia ao jornal Pernambuco, do Partido Democrata e que tinha como redator-gerente Joaquim de Oliveira Valença.

Segundo ele, respondia a um “patife, com quem infelizmente estou [estava] gastando meu tempo…” e, ao concluir, dirige-se “ao sr. Joaquim de Oliveira Valença, ilustre desconhecido para mim e que vim a saber que existia pela sua quixotada de hoje no repto publicado e no qual confessa supor ser homem”.

E continua: “Devo dizer ao bravo autor do repto que não perde por esperar. Ando todas as noites pela cidade já adormecida, quando não podem aparecer obstáculos no bom êxito desses reptos. Aproxime-se de mim, diga-me o seu nome e a resposta será imediata. Assim faz que quer brigar de veras. O mais é figuração. Recife, 26 de novembro de 1910”.

Senador Antônio Gonçalves Ferreira Júnior, com quem Joaquim Valença se desentendeu

O repto referido pelo coronel Antônio Gonçalves Ferreira Júnior fora publicado e dirigido a ele no jornal A Província, de 26 de novembro de 1910, por Joaquim de Oliveira Valença:

“Estando, ontem, ausente de Pernambuco [o jornal], de cuja redação faço parte não ouvi, felizmente, os insultos dirigidos por v. s. aos redatores daquela folha. Mas, agora que sei do que verdadeiramente se passou e que, apesar de não ser uma vigésima parte do que v. s. anda propalando, não deixa de ser uma afronta aos nossos brios, venho dizer a v. s. que não tenho medo de caretas nem julgo o homem pela fama que, muitas vezes, imerecidamente goza e, que estou pronto a apanhar de tabica”.

“Outrossim, peço a v. s. que não faça nenhuma traição nem venha com capangas ou polícia. Venha só porque nos bateremos como homens que supostamente somos. Recife, 26 – 11 – 1910. Joaquim de Oliveira Valença”.

Proteção no Rio de Janeiro

Em fevereiro de 1911, o jornal Pernambuco foi cercado e atacado pelo comandante da força policial e por capangas de Tonico Ferreira.

Henrique Millet, em telegramas recebidos de Joaquim Valença e publicados no jornal A Imprensa do Rio de Janeiro, revelou que houve resistência e que os agressores recuaram. “Temendo novo ataque, escalamos os sobrados vizinhos e estamos foragidos”.

Millet havia recomendado fechar o jornal por falta de segurança e quando a tipografia montava um boletim para informar que deixaria de funcionar, “Tonico Ferreira, acompanhado de mais de cem capangas armados e protegidos pela polícia, cercou o edifício…”.

Vários tipógrafos foram presos ou espancados. O Coronel João Valença apelava a Millet que solicitasse providências urgentes ao governo federal.

Diante desta situação e aconselhado pelos amigos e familiares, que temiam o seu assassinato, Joaquim Valença e Oscar Brandão fugiram para Maceió, onde conseguiram imprimir o tal boletim que fora impedido de circular em Recife. A polícia alagoana, sabendo da proibição, apreendeu cerca de 500 exemplares.

Em seguida, a comitiva oposicionista embarcou para o Rio de Janeiro, refugiando-se na casa do dr. Henrique Millet, que já havia abandonado Recife pelos mesmos motivos.

Nesse período, Joaquim Valença registrou em carta à família:

“Quanto à política não tenham a menor esperança; o Hermes é um imbecil e seu governo tem de fraquejar; é censurado geralmente e é notório que teremos revolução – Deus a mande. No governo dele o Rosa [se referia ao líder político e senador pernambucano Francisco de Assis da Rosa e Silva] continuará com todo prestígio, porque tem dezessete deputados e o Hermes é um fracalhão de marca maior. Estou procurando me colocar, mas, aqui no sul não é uma coisa fácil. Uma vaga qualquer para cem candidatos. Penso que termino no Acre, entretanto, o Hermes prometeu colocar-nos e espero uma promotoria no Rio Grande do Sul ou Minas. Em ambos os Estados era muito fácil para ele por causa do dinheiro e do Wenceslau Braz – vamos ver – O Milet não voltará a Pernambuco: alugou casa e vai mandar embarcar a família.”

Em 1º de maio de 1911, o jornal A Província, de Recife, especulou que Joaquim Valença estaria “colocado na magistratura do Mato Grosso pelo deputado sr. Generoso Ponte”.

presidente Hermes da Fonseca terminou nomeando-o para o Acre.

Juiz no Acre

Voltou a Recife, de passagem, e de lá, numa segunda-feira, 5 de junho de 1911, seguiu “a bordo do paquete Maranhão“ para o Alto Purus, no território do Acre, como informou o jornal A Província.

Tomou posse como juiz de Direito da comarca de Senna Madureira. Era juiz preparador do 1º Termo, assumindo na ausência do juiz efetivo. Fora nomeado em 26 de abril de 1911 e assumiu em 30 de agosto.

Rua Amazonas em Sena Madureira no Acre em 1911

No final daquele ano, recebeu a informação da morte do seu pai, que faleceu em 20 de dezembro no município de São Bento, em Pernambuco, aos 61 anos de idade. Foi do Partido Conservador e ligado a Dantas Barreto.

Por decreto de 11 de dezembro de 1912, foi nomeado juiz municipal do 2º Termo da Comarca de Sena Madureira.

Em 26 de fevereiro de 1913, com 26 anos de idade, teve publicado os proclames para casamento com a cearense do Cariri Izabel Salles Gadelha (20 anos de idade), filha de Antônio da Costa Gadelha e Raymunda Salles Gadelha.

Izabel Salles Gadelha, esposa de Joaquim Valença

Izabel nasceu em 2 de março de 1892 e residia no então distrito Boca do Acre, Comarca de Floriano Peixoto, Estado do Amazonas.

Joaquim a conheceu por acaso. Viajava em um barco para Sena Madureira pelo Rio Purus e na passagem pela Boca do Acre a embarcação teve que parar para não encalhar. Os passageiros foram recebidos na casa sede da propriedade de Antônio da Costa Gadelha, um dos “barões da borracha” da região.

Foi nesta hospedagem forçada que Joaquim manteve contato com a jovem que meses depois seria a sua esposa. Ele tinha 1.80m de altura e ela 1.50m, segundo os familiares. Tiveram nove filhos.

Yvette nasceu em 1914 na casa do avô, no Acre. Casou-se quando morava em Maceió. Depois separou-se e foi morar no Rio de Janeiro.

Yole (1916) e Yelva (1918) nasceram em Quipapá.

Yole Gadelha Valença viveu por muito tempo em Viçosa, Alagoas, onde se casou com Divaldo Falcão de Holanda Padilha, passando a assinar Yole Valença Padilha. Em Viçosa era professora de Educação Física da Escola Normal. Já em Maceió foi professora do Instituto de Educação, da Escola Moreira e Silva e da UFAL desde sua fundação. Faleceu em 1999.

Foi o engenheiro Huayna Padilha, que trabalhou nas empresas de eletricidade na Bahia e Alagoas, filho de Yole, quem forneceu importantes informações aqui publicadas.

Divaldo Falcão de Holanda Padilha e Yole Valença Padilha, Gadelha Valença, quando solteira

Yelva Gadelha Valença permaneceu em Viçosa como professora pública. Faleceu em 1991.

Yaldo Gadelha Valença nasceu em Quebrangulo, mas viveu em Recife até falecer em fevereiro de 1966.

Seu irmão Yêdo Gadelha Valença nasceu em Viçosa e após ser aprovado em concurso para o Banco do Brasil, viveu em Minas Gerais e na Bahia.

Casada com José Figueiredo de Carvalho Gama, a viçosense Yone Gadelha Valença morou em Maceió até maio de 1949, quando perdeu tudo após o deslizamento da barreira no Poço. Mudou-se para São Paulo e lá permaneceu até sua morte em 2008.

O filho mais novo, Yalu Gadelha Valença, nasceu em Maceió em 1927, mas viveu em São Paulo e depois em Recife.

Contra a escravidão no Acre

Uma carta de 24 de novembro de 1913 assinada por J, publicada no jornal O Alto Purus de 30 de novembro, denunciava a “maneira de proceder pouco digna do dr. Joaquim de Oliveira Valença, juiz municipal do 2º Termo desta Comarca”.

O reclamante informava que ele estava “insuflando todos os seringueiros do mesmo Termo a não entregarem a seus patrões a borracha que fazem, dizendo-lhes que são donos do produto que fabricam, e que como tal, podem dispor dos mesmos, lesando assim, os interesses dos patrões, que lhes adiantam durante o ano a mercadoria necessária para a fabricação desses mesmos produtos”. Era a escravidão por dívida.

A carta explicava que os seringueiros pobres não conheciam os seus direitos e julgavam que tudo que diz um juiz é verdadeiro, “embora, no fundo, só existam maldade e exploração perversas da boa-fé e simpleza dessa rude gente”.

Diante dos problemas surgidos entre seringueiros e patrões nos seringais São Sebastião e São Pedro do Icó e como o dr. Valença já tinha anunciado que “se algum embargo lhe for requerido, não despachará senão favoravelmente ao seringueiro”, o denunciante alertava que se as autoridades não o retirassem do cargo, os proprietários teriam que usarem dos meios que dispunham para “não mais consentirem na permanência desse juiz no Termo, sob pena de verem seus interesses ameaçados”.

No início de janeiro de 1914 foi substituído pelo major Octaviano Cordeiro, 1º suplente de juiz preparador. Joaquim Valença entrou em gozo de licença concedida pelo desembargador presidente do Tribunal de Apelação.

Em março, assumiu a função de juiz de direito da Comarca em substituição ao dr. João Virgolino de Alencar, que havia sido convocado para o Tribunal de Apelação.

No dia 9 de agosto de 1915, teve fim o quatriênio e sua nomeação não foi renovada. Para o seu lugar o presidente da República Wenceslau Braz nomeou o dr. Durval Castello Branco, até então promotor de Justiça do 2º Termo.

De volta a Pernambuco

De volta a Quipapá, foi citado no Diário de Pernambuco de 8 de maio de 1916 como tendo assumido isoladamente a firma Valença & Matutino, que dividia até então com Júlio Matutino de Assumpção. Ampliou seus negócios em 13 de fevereiro de 1918 ao adquirir a casa comercial de David Kemffman.

Nesse período era promotor adjunto em Pesqueira, Pernambuco.

Em Quipapá foi juiz até junho de 1920. Deixou Pernambuco após ser indicado juiz substituto em Viçosa em Alagoas.

Antiga Igreja de N. S. da Conceição e a Praça Dr. Fernando Pessoa de Melo em Quipapá

Permaneceu por lá até setembro de 1923, quando foi removido para Quebrangulo.

Dias antes, em 20 de agosto de 1923, o Jornal do Commercio do Amazonas publicou uma nota informando que “Odon Galvão, revisor do Jornal do Commercio, do Recife, agrediu a bengaladas Joaquim Valença. Passados dias foi Odon alvejado a tiros por membros da família Valença, vindo a falecer pouco depois”.

Licenciado do cargo de juiz, passou a morar em Maceió, onde voltou a advogar. Foi nessa condição que patrocinou a defesa do deputado estadual Fernandes Lima Filho, acusado de ser o mandante da tentativa de assassinato do governador Costa Rego em dezembro de 1926.

Assassinado no Cartório em Maceió

No sábado, dia 16 de julho de 1927, por volta das 15h30, no Cartório do Tabelião Heitor Martins na Rua Boa Vista, advogados acertavam com o escrivão Severino Albuquerque os últimos trâmites sobre as decisões judiciárias tomadas poucos minutos antes na assembleia de falência da Farmácia Oswaldo Cruz, da firma Ferreira Machado. A dita assembleia fora presidida pelo dr. Mário Guimarães, juiz substituto da 1ª Vara da Capital.

Foi nesse ambiente que Joaquim Valença ficou frente a frente com o português e também advogado José Rebello de Pinho Ferreira Júnior, com quem havia se desentendido anteriormente.

Pinho Ferreira tinha escritório na Rua 1º de Março, atual Av. Moreira Lima, no pavimento superior à Loja Stella.

Trocaram alguns insultos e Joaquim Valença esmurrou seu adversário, como noticiou O Jornal de 28 de agosto de 1927: “o dr. Joaquim Valença, que de há muito havia tido uma desinteligência irreconciliável com o dr. Pinho Ferreira, resultante de uma penhora judiciária que aquele fizera contra este, a fim de salvaguardar os interesses da Casa Pratt, da qual era advogado, defrontando-se, face à face com o seu desafeto, irrefletidamente, após trocar com este algumas palavras, vibra-lhe um soco”.

Continua o jornal: “Ato contínuo, o desafeto alveja o seu agressor com três tiros de pistola “Colt”, que o prostraram ao solo, exalando o último suspiro”. Pinho Pereira foi preso em flagrante pelo próprio juiz, dr. Mário Guimarães.

Um quarto tiro foi disparado, mas feriu levemente o sr. Manoel Pontes de Miranda Filho, que tentou impedir o crime e foi atingido na coxa esquerda. O ferimento não foi grave graças “a algumas pratas de dois mil réis que se achavam no bolso de sua calça”.

O enterro de Joaquim Valença foi concorrido e, à beira do túmulo, o dr. Guedes Miranda falou em homenagem ao colega e prometeu auxiliar na acusação do criminoso.

Logo após o crime, familiares de Joaquim Valença em São Bento, Pernambuco, movidos pela intenção de vingança enviaram alguns “cabras“. Quando a viúva Izabel Salles soube, em Maceió, da chegada desta “delegação”, foi dura com eles e proibiu qualquer ação criminosa.

Julgamento e morte

A denúncia contra Pinho Pereira foi apresentada no dia 16 de agosto e somente em meados de outubro foi que o juiz de Direito da 1ª Vara da Capital a confirmou. Segundo o Diário de Pernambuco de 23 de outubro de 1927, o português foi enquadrado no artigo 294 do Código Penal. O inquérito informava que o crime se deu após Joaquim Valença agredir a murros o colega Pinho Ferreira, “que em represália, lhe disparou três tiros mortais”.

Pinho Ferreira foi julgado no dia 7 de dezembro de 1927 e absolvido pelo júri, como noticiou o jornal Gazeta de Notícias de 27 de dezembro de 1927 e o Diário de Pernambuco de 8 de dezembro de 1927.

Deve ter havido algum recurso, pois em fevereiro de 1928 ele ainda estava na Casa de Detenção e teve sua representação contra o juiz de Direito da 1ª Vara rejeitada pelo Superior Tribunal de Justiça de Alagoas.

O jornal o Paiz (RJ) em sua edição de 16 de maio de 1928 informa que “o Tribunal de Justiça julgou a apelação criminal em que é apelante a Justiça e apelado o Dr. Pinho Ferreira, confirmando a decisão que absolveu o mesmo advogado. Este assassinara, em julho passado, o advogado Joaquim Valença, em legítima defesa”.

Não foi possível conhecer a data em que o advogado foi posto em liberdade, mas ainda em 1928 há registro da sua atuação como advogado na Justiça Federal no Rio de Janeiro.

Também não foi possível identificar os detalhes da sua morte, assassinado em uma briga de bar na então capital do país.

O seu último trabalho divulgado em jornais foi em meados de 1929. Em 15 de janeiro do ano seguinte uma nota publicada no jornal, sem assinatura, convidava para uma missa em que ele era citado como falecido, indicativo que não tinha família no Rio de Janeiro ou estava muito afastado dela.

Essa situação se comprovou em 1935, quando a administração do cemitério onde ele estava enterrado cobrou pelo jornal dos familiares as taxas para manter os restos mortais por lá.

Órfãos de Joaquim Valença

Segundo informações fornecidas por Huayna Padilha, foi Sátyro de Oliveira Valença, irmão de Joaquim Valença, quem ajudou a manter Izabel e a criar seus filhos.

Sátyro casou-se com Adalgisa Salles Albert em meados de dezembro de 1918, mas não tiveram filhos. Ela era filha de Ernesto Albert, funcionário da Great Western, em Ribeirão, Pernambuco.

Sátyro de Oliveira Valença, o mais jovem do quarteto, no Tiro de Guerra de Quipapá. Foto de O Malho de 23 de março de 1912

Trabalhando como escrivão na Coletoria Federal, Sátyro foi ainda prefeito de Viçosa (de 21 de janeiro de 1936 a 31 de agosto de 1940) e professor de matemática da Escola Normal do município.

Em novembro de 1940 foi promovido de escrivão a coletor em Pedregulho, São Paulo.

No início de maio de 1942, já estava de volta a Alagoas, transferido para União dos Palmares e depois para São Miguel dos Campos onde instalou e consolidou a Coletoria Federal e foi exator até a sua aposentadoria.

Faleceu em Maceió, na Rua Coronel Cahet, na Levada, no dia 8 de janeiro de 1976. Está sepultado no Cemitério Nossa Senhora da Piedade.

https://www.historiadealagoas.com.br/o-advogado-pinho-pereira-assassina-o-colega-joaquim-valenca-em-1927.html

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