Por Valdir José Nogueira de Moura
Tendo assassinado em plena feira de Vila Bela o seu parente Manoel Pereira Maranhão, Antônio Quelé de Carvalho e Sá foi preso e submetido a julgamento, sendo então absolvido. A absolvição de Quelé, sob a defesa magistral e espetacular do monsenhor Afonso Antero Pequeno, abalou os alicerces da família Pereira e demarcou o recomeço do secular conflito entre os dois tradicionais clãs no sertão do Pajeú nos albores do século passado.
Logo após esse fato voltou Quelé para a sua fazenda Santo André, onde passou a viver ali sem ser incomodado, quando surgiu outro incidente entre ele e Antônio Pereira de Araújo conhecido por Antônio Maroto, residente na fazenda Queimada Grande, vizinha a sua. É que Antônio Maroto mandou cortar um cedro, cujo colossal tronco foi deixado pelos trabalhadores na extrema das duas propriedades e aconteceu que os moradores de Quelé, não se sabe se por ordem deste, conduziram a sua fazenda o toro de madeira, cuja devolução foi reclamada por Antônio Maroto. Quelé, no entanto, mandou dizer a este que se o mesmo quisesse o cedro, colocasse a cangalha em siá Chiquinha e dona Francisca (mãe e esposa de Antônio Maroto) e fosse buscar. Com esse desaforo, Maroto julgou-se gravemente injuriado. E resolvendo tomar um desforço pessoal, comunicou a sua intenção ao tio, Manoel Pereira Jacobina (Padre Pereira), residente na fazenda Poço da Cerca, povoado de São Francisco em Vila Bela.
Padre Pereira, homem prudente, acatado por toda a família dirigiu-se a fazenda do sobrinho Antônio Maroto, onde procurou dissuadi-lo de trocar desforra, e julgando haver pacificado os ânimos, regressou para sua fazenda, com os parentes que o acompanharam.
Entretanto dias depois uns primos de Antônio Maroto mandaram um recado para Antônio Quelé dizendo que o mesmo se preparasse, pois no outro dia eles iriam ao Santo André por volta do meio dia jogar terra na comida dos trabalhadores. Pelo mesmo portador Quelé respondeu que estava pronto para receber-los; que viessem. Na hora marcada, conforme o avisado, a fazenda de Quelé foi cercada iniciando-se então grande tiroteio. Os cabras de Quelé dentro das trincheiras que haviam preparado no dia anterior sustentavam nutrido tiroteio. Em poucos instantes os primos e cabras de Antônio Maroto, resolveram bater em retirada, admirados alguns com a quantidade de gente de Quelé atirando ininterruptamente. Foram embora. Ao chegar à Queimada Grande, um cabra de Maroto comentou: “homem, lá no Santo André até as mulheres brigam, porque tinha uma mulher endiabrada, deitada dentro do chiqueiro de porco atirando e gritando, fí dessa, fí daquela outra, e a bala tinindo”...Na verdade quem estava dentro do chiqueiro era o cangaceiro Júlio Sabino, um dos destemidos cabras de Quelé que tinha a voz fina. Nisso, Siá Aninha, Irmã do dito cangaceiro, havia ido ao chiqueiro deixar a lavagem dos porcos, a velha saiu de lá correndo subindo uma ladeira, com as balas passando de raspão na rodilha da sua cabeça, ante os gritos do cabra Miguel Vareda: “se deita na barroca Siá Aninha, êita, a véa vai morrer...” Que barroca que nada, ela queria ficar longe dali, na sua desabalada carreira nenhuma bala lhe atingiu, apenas sua rodilha havia ficado totalmente chamuscada.
E era de se ver a cabroeira de Quelé, como umas feras no famigerado tiroteio, composta dos seus mais temidos comparsas entre eles Juriti, Vitorino Domingos, Zé Lourenço (Flor), Zé Nazário, Miguel Vareda, Júlio Sabino, João Chico e Manoel Môco, esse dizem que era muito perigoso, findou os seus dias na cadeia de Jardim (CE).
Capela do Santo André
Existem relatos que o toro de cedro era ferrado, tinha uma marca, e de quem era então essa marca?
Durante esse tiroteio apenas saiu ferido Vitorino Domingos, o mesmo que estivera envolvido no conflito de Vila Bela. Dali por diante as coisas começaram a se agravar dia a dia.
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