Clerisvaldo B. Chagas, 14 de outubro de 2022
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2783
Nada mais bonito de que um carro de boi carregado de palma forrageira gemendo pelas estradas do sertão. Muito mais bonito ainda e esperançosa, era uma carga de algodão no rumo das algodoeiras, sinônimo de esperança e progresso para o campo. Roçados enormes alvos e repletos de algodão fizeram feliz a área sertaneja do meu estado, por muitas e muitas décadas. Vi muito, morador de fazenda enchendo e socando sacas de algodão. Sacos enormes de estopa que em comprimento tomava toda a mesa do carro, eram pendurados nas linhas dos telhados dos armazéns, bocas abertas, escoradas por rodas finas de pneu e o agricultor ali dentro do saco, de pé, recebendo o algodão e o apiloando com os pés. Tempos depois, o saco era pesado em balança de peso de chumbo, empilhado para “ser levado à rua”.
E o carro de boi em frotas, seguia para a vila, para à cidade, onde era vendida a mercadoria nos armazéns ou diretamente às algodoeiras que transformavam o produto em capulho, retirando o caroço vendido como ração para matar a fome do gado leiteiro.
As máquinas complexas daquelas indústrias, Santana do Ipanema, Olho d’água das Flores, já deixavam o algodão preparado em fardo envolvido com fita de metal. Ali aguardavam os caminhões para o transporte aos grandes centros do País. Muito dinheiro circulando, fazendo enricar cada vez mais o chamado industrial do algodão e impulsionando para cima o homem do campo. O fechamento de todas as indústrias têxteis de Alagoas, depois o inseto “bicudo” que arrasou os algodoais Sertão/Agreste, deixou a grande região nordestina gemendo até hoje.
Verdade que não vínhamos tantos empregados assim nas algodoeiras, mas os campos formavam muita gente para a colheita; cada lote de 100 trabalhadores era chamado “batalhão”. Homens e mulheres protegidos do sol com chapéu de palha e/ou panos amarrados à cabeça, bisaco grande a tiracolo. Tempo depois das tragédias, inventaram o plantio de sorgo, mas não deu certo. Partiram para o incentivo à mamona para a indústria do biodiesel, mas não houve êxito. Naturalmente a mamona ou carrapateira prolifera por todos os quintais de Santana do Ipanema e até no leito seco do rio Ipanema, nos trechos urbanos mais poluídos. Usada como produto medicinal, era a mamona que, com a extração do seu óleo, azeitava o eixo do carro de boi, tornando-o cantador; ainda iluminava nas candeias e em postes de rua.
CARRO DE BOI, TRANSPORTE DO ALGODÃO (FOTO: COMUNIDADE COEP).
Nenhum comentário:
Postar um comentário