Por Manoel Severo
O Cariri Cangaço Serra Talhada - Calumbi - Bom Nome , se aproxima. Uma agenda intensa de visitas técnicas nos proporcionarão conhecer uma gênese importante do coronelismo e cangaço de nosso nordeste. O tradicional e emblemático distrito de Bom Nome no município de São José de Belmonte será nossa terceira Visita Técnica; em grande estilo; no dia 12 de novembro no final da manhã ; Bom Nome escreve sua historia com a força de sua tradição e de seu povo e recebe pesquisadores de todo o Brasil em mais uma grande festa do Cariri Cangaço.
Quem nos conta é o Conselheiro Cariri Cangaço, Valdir Nogueira: "Surgido em 1902, com a primitiva denominação de “Malhada do Bom Nome”, impulsionado com uma concorridíssima feira, dada a sua excelente localização, Bom Nome, 2º Distrito do município de São José do Belmonte, tem suas preliminares originadas no século XIX, surgido na antiga fazenda Sabonete, de propriedade de José Carlos Rodrigues, remanescente da Casa da Torre da Bahia, e onde foi estabelecido um dos grandes currais pertencente aos membros da família Pereira do Pajeú. Todavia, além dessa família, no início, seu principal contingente humano também se constituiu dos Rodrigues do Nascimento, Ferreira da Cunha, Bezerra, Gomes e Barbosa Leal, Ribeiro de Freitas, Araújo, dentre tantas outras.
Ora, quando foi criado o município de Belmonte em 02 de outubro de 1890, emancipado do município de Vila Bela, através de lei, o novo município foi dividido em três distritos com as respectivas denominações:1º Distrito: Belmonte (Sede); 2º Distrito: Boqueirão;3º Distrito: Santa Maria. Por portaria de 22 de dezembro de 1902, o 2° distrito de Boqueirão teve sua sede transferida para a fazenda Carnaúba, dada a influência política do seu proprietário o coronel Manoel Pereira Lins (Né da Carnaúba). No entanto, por portaria de 3 de julho de 1919, o povoado de Bom Nome se tornou então nesta data sede do 2º Distrito de São José do Belmonte.
A história é uma colcha de retalho onde cada pedaço se completa e dar novo espaço e nova tonalidade para aquilo que se quer construir. Pois bem, a história de Bom Nome está intrinsecamente ligada a lendária fazenda Carnaúba do coronel Manoel Pereira Linz, que também foi um dos doadores no ano de 1918 do Patrimônio de Santo Antônio de Bom Nome. Prefeito de Belmonte, figura importante no sertão do Pajeú, grande liderança política, este senhor vivenciou todo período do cangaço lampiônico e a última fase da luta entre os dois tradicionais clãs Pereira e Carvalho que por muitos anos se digladiaram no sertão do Pajeú, tendo participação ativamente nos eventos de defesa e ataque da sua família Pereira contra os Carvalhos. E foi justamente nesse momento agudo da questão Pereira e Carvalho que no distrito de Bom Nome foi instalado um comando com reforço de praças numa ferrenha perseguição a Sinhô Pereira e Luiz Padre, primos do coronel Né da Carnaúba, onde se destacaram nomes como o capitão José Caetano e o capitão Theófhanes Torres. A partir de então Bom Nome começou a fazer parte constante nos noticiários de jornais.
Na vila de Bom Nome, dentro da cronologia do cangaço alguns eventos importantes merecem serem lembrados: Em Bom Nome em 28 de janeiro de 1917 foi assassinado por forças policiais o cangaceiro Pedro Santa Fé, vulgo “Pedro Braquió”, do grupo de Manoel Pereira da Silva Filho (Né Dadu). Pedro Santa Fé foi um dos assassinos de Eustáquio de Carvalho, morto em 1907.
No dia 2 de setembro de 1919, por volta das 4 horas da tarde, depois de várias ameaças, o povoado de Bom Nome foi atacado pelo grupo de Sinhô Pereira e Luiz Padre. Após incendiar a propriedade do coronel Francisco Ramos Nogueira (avô de José Ramos, ex-governador de Pernambuco), da família Carvalho, o grupo atacou Bom Nome, havendo tiroteio com as praças que ali se achavam, chegando logo depois o capitão José Caetano com sua força, tiroteando com o referido grupo que conseguiu romper o cerco em que fora envolvido pela polícia.
Cilene Pereira recebe Conselheiros do Cariri Cangaço nos preparativos do grande encontro em Bom Nome no dia 12 de novembro de 2022
Em Bom Nome foi assassinado José Gomes de Sá, primeiro nazareno vítima do banditismo. Primogênito do Sr. Manoel Gomes de Sá Ferraz, florestano e primo do Coronel Luiz Gonzaga Gomes Ferraz, José Gomes de Sá, do sítio Caneta onde residia, no dia 7 de novembro de 1920 se dirigiu para a feira de Bom Nome, onde foi vender uma carga de algodão e resolver outras questões atinentes aos seus negócios comerciais, todavia ao retornar para a sua residência foi cruelmente atacado próximo aquele vilarejo por cangaceiros do bando de Sinhô Pereira, que saquearam a carga de alimentos que trazia nos animais além de todo o dinheiro que foi levado. Seu corpo, varado por tiros e punhaladas foi ali abandonado.
Em 29 de julho de 1921 Bom Nome sofreu outro ataque por parte de cangaceiros do grupo de Sinhô Pereira. Mesmo com a resistência do capitão José Caetano, os bandidos conseguiram ainda incendiar uma bolandeira, de propriedade do comerciante Cícero Bezerra e cortaram também o fio telegráfico. Na tarde de 24 de agosto de 1921, depois de uma peleja na fazenda Carnaúba com a força do capitão José Caetano, onde travou-se renhido tiroteio que resultou na morte do bandido Luiz Macário, cabra de total confiança de Sinhô Pereira, seguiu este com seu grupo em direção a Bom Nome, porém no caminho, bem próximo à vila encontraram com o Sr. João Bezerra do Nascimento, no entanto, na ira em que estava possuído, em decorrência da morte de Luís Macário, desfechou Sebastião Pereira um tiro naquele inocente homem e o matou.
Em princípios de novembro de 1921, nas proximidade de Bom Nome a polícia travou mais um tiroteio com o grupo de Sinhô Pereira. O delegado de Belmonte, acompanhado de uma força policial, depois de minuciosas indagações, conseguiu descobrir o roteiro do grupo de cangaceiros chefiado por Sebastião Pereira. Tratou de emboscá-lo, o que, com efeito, realizou. Em seguida, rompeu fogo contra o grupo sendo correspondido. Com a força policial participou gente dos Carvalhos: o destemido Antônio Alves de Carvalho (Antônio Cipriano), Mariano Mendes de Moura (esse participou do assassinato de Padre Pereira) e Miguel Umbuzeiro. O tiroteio durou mais de uma hora, terminando com a debandada da polícia, em face do grupo ter se livrado da emboscada. Nesse fogo morreram dois policiais e dois outros saíram gravemente feridos. Outros desapareceram. Consta que os componentes do grupo de cangaceiros nada sofreram. O delegado de Belmonte temendo a derrota do resto da força, diante da audácia dos bandidos, recuou para o povoado de Bom Nome, onde ficou aguando o auxílio do capitão José Caetano, que ali chegou de Vila Bela acompanhado de um contingente de 60 praças.
Vista panorâmica do distrito de Bom Nome, São José do Belmonte, a partir do Monte de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro
De Bom Nome também saiu o famoso cangaceiro, o negro Vicente de Marina. Sua fama de bom atirador chegou aos ouvidos de Sebastião Pereira que o convidou a entrar no seu bando vingador. Vicente se tornou o homem de melhor pontaria do bando de Sinhô. Em Bom Nome ainda reside familiares seus. Contar a história do distrito do Bom Nome sem falar no pequeno santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro é impossível. Bem próximo da Vila, está localizado numa elevação, que por sinal, é a mais alta da redondeza, um bucólico morro conhecido como Monte de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que ao mais descuidado observador denota a devoção e a simplicidade do seu povo. É voz corrente no lugar que o bandoleiro Lampião sempre que por Bom Nome passava, subia o monte para rezar para sua madrinha e protetora Nossa Senhora. O Distrito de Bom Nome no município de São José de Belmonte é Cenário do Cariri Cangaço Serra Talhada 2022.
Valdir Nogueira, pesquisador e escritor, Conselheiro Cariri Cangaço
Cenários Cariri Cangaço Serra Talhada ; 22 de Outubro de 2022
https://cariricangaco.blogspot.com/2022/10/na-trilha-do-cangaco-em-bom-nome.html
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