Por: José Mendes Pereira
Vivia de pequenos furtos. Não deixava quieto o que via em sua frente. Quando criança Farinha com Sal admirava-se dos maus costumes que tem os ladrões. E para aprender, Farinha com Sal deu início a uma espécie de treino. Colocava a sua camisa em um lugar, e lá fazia o furto, tentando esconder da mãe a sua nova invenção. O tempo foi se passando, a prática foi aparecendo, e meses depois Farinha com Sal estava prontinho para começar a sua primeira profissão.
O nosso larápio residia em Mossoró, nas imediações do Bom Jardim, nos dias de hoje, a rua em que ele morava é a Pedro II, paralela com a Pedro I.
Farinha com Sal não era um larápio perigoso, apenas famoso pelas suas astúcias. Paciente, tranquilo, e se o sujeito o pegasse com roubo nas mãos, descaradamente o entregava com um sorriso meio tímido, e com isso se tornou um ladrão compadecido pela população, não o entregando a polícia.
Apesar do mal costume que garregava consigo tinha uma amizade ao coronel Vicente Sabóia, que mesmo ele sendo ladrão, frequentava a sua casa como qualquer outro cidadão. Mas Farinha com Sal sabia muito bem onde pisava.
Em conversa o coronel Vicente Sabóia o desafiou, que ele fazia roubos em outras casas, mas duvidava que ele chegasse a entrar em seu lá, com ele e o Bertoldo em casa. (Seu cão de estimação, valente ao extremo).
Farinha com Sal querendo provar que o roubaria com facilidade, fez-lhe a seguinte proposta:
- Coronel, se eu conseguir entrar na sua casa, e se o senhor acordar e me ver dentro de casa, o senhor não atirará em mim, e nem me prenderá?
- Garanto-lhe que não atirarei e nem chamarei a polícia. Mas isso não vai acontecer nunca! - continuava duvidando o coronel.
- Se o senhor garantir mesmo, eu vou lhe mostrar que eu entro com o senhor e o seu cão em casa.
- Concordado! - Confirmou o coronel Vicente Saboia.
Os dias se passaram, chegando a meses, mas Farinha com Sal não havia desistido da proposta que fizera ao coronel.
Certa noite, já passava de duas da madrugada, Farinha com Sal se escondeu bem próximo à casa do coronel, e em sua companhia conduzia uma cadela.
Esta dera o nome de Dardora (Das Dores), que criara desde pequena, e, a batizara com este nome; dizia que era uma homenagem a sua sogra, que segundo ele, ela era mais vadia do que mesmo a sua cadela.
Farinha com Sal foi até as laterais da casa, e por cima do muro, jogou a cadela.
Bertoldo muito lhe agradeceu e se entreteu com a cadela. Enquanto os dois se amavam, Farinha com Sal cuidava do arrombamento da porta do coronel. Abriu-a e ficou lá fora sentado pastorando a casa arrombada.
Como do costume, o coronel se levantava antes das cinco horas da manhã. Ia até o mercado público, batia um papo com os amigos e depois retornava para tomar um café reforçado.
Nessa manhã, ao se levantar, viu logo a sua porta aberta. Assutado, gritou para mulher que ainda cochilava.
- Mulher, roubaram a nossa casa!
Lá de fora Farinha com Sal disse-lhe:
- Coronel, não atire! Sou eu, Farinha com Sal. Mas pelo amor de Deus não chame a polícia.
Farinha com Sal provou que tinha jeito mesmo de um grande ladrão.
Isso aconteceu lá pelos anos quarenta. Nos anos sessenta tive a oportunidade de ser interno com um dos seus filhos, na Casa de Menores Mário Negócio. Nesse período eu tinha 14, 15 anos de idade. Ele era filho de desonesto, mas muito honesto.
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