Jornal "O Mossoroense" - Especial - 17 de Outubro de 2012
“A nossa pena
de jornalista treme, ao fazermos divulgar na presente notícia, os dias de horror,
infortúnio e apreensões de que foi teatro Mossoró, por ocasião da incursão do
famigerado grupo sinistro capitaneado pela mais audaz e miserável de todos os
bandidos que tem infestado o Nordeste brasileiro e o pacato território do Rio
Grande do Norte, Virgulino Lampião, esta majestade do crime e do terror, alma diabólica de pervertido
tarado cujo rastilho de misérias vem desassombradamente espalhando em todos os
recantos onde passa com o seu cortejo macabro e facinoroso.
Assim, logo às primeiras horas de domingo
último, 12 de Junho, correu célebre por toda a nossa cidade, a notícia
alarmante de que o grupo famanaz desses hunos da nova espécie tentara atacar e
saquear a vizinha cidade do Apodi, tendo sido obrigado a recuar em vista da
resistência heroica que encontroaram por parte dos habitantes da pequena
cidade, e que desesperado por este fracasso, rumara o mesmo para a povoação de
São Sebastião, deste município, e dali viria a Mossoró com o intento de locupletar as algibeiras do sinistro chefe
– Lampião, em seguida incendiado a cidade, prosseguindo, então, vitorioso, a
trajetória infame do seu traçado hediondo
de toda a sorte de crimes” Foram essas as primeiras palavras publicadas pelo jornal O
Mossoroense após a invasão do bando do cangaceiro Lampião a Mossoró, em 13 de
Junho de 1927.
A edição de 19
de de Junho, documento histórico que comprova o fato até hoje questionado por
parte da população, relata com riqueza de detalhes todas as etapas do ataque, caracterizado como
a única derrota do bando, repercutido nacionalmente naquele período, e lembrado
até hoje como um dos principais feitos do povo mossoroense.
As primeiras
notícias relacionadas ao ataque de cangaceiros à região datam de 15 de maio de
1927. Nessa data, o jornal publicou que da noite do dia 10 para o dia 11 de
maio, a cidade de Apodi havia sido assaltada, por um grupo de aproximadamente
17 cangaceiros. Na edição seguinte, em 22 de Maio, na seção “Telegramas”, é
destaque que o bandido Lampião estava internado com o seu grupo no Estado do
Ceará.
O ataque
Em um dos
trechos da edição de 19 de Junho, o jornal noticia como o combate ocorreu.
Leia
a seguir a transcrição da notícia:
“O famigerado
bando não nos encontrou desprevenidos... Sabendo dos nossos hábitos pacíficos,
desse vagarosamente e ao meio dia de 13 começa a ser avistado. A uma légua
desta cidade, manda uma intimativa ao Cel. Rodolfo Fernandes, para que lhe
envie 400 contos de réis, sob pena de nos invadir.
Cel Rodolfo Fernandes - Prefeito de Mossoró na época da invasão de Lampião
A tal ultimatum, respondido
negativamente, segue-se outro que não teve melhor sorte, e o celerado e seus
adeptos entram em contato conosco, pouco antes das 16h. Divididos, aparecem em
diversos pontos. O sino da matriz repica, alertando o posto da torre que se
prepara para a luta. Ao troar dos fuzis, casa-se ribombo do trovão, pois que
pouco antes começara a chover. Se o céu nos mandava lágrimas, também saudava,
abafando o som dos disparos. Era comovente o espetáculo. Investem os bandidos as
primeiras trincheiras, ladeiam, cortam caminho, surgem ao lado da
http://telescope.zip.net
Estação da
Estrada de Ferro, onde entram no prédio da União de Artistas e se entrincheiram;
aparecem a margem direita do rio, defendida pela trincheira da barragem; o
Telegrafo Nacional, ao lado da matriz., acha-se também defendido. Onde chegam,
aí está o fogo.
Catedral de Santa Luzia e o Zepelim sobrevoando Mossoró-RN
...As torres
da Matriz e da capela de São Vicente, as trincheiras atacadas diretamente, as
de retaguarda, mantém nutrido tiroteio.
Igreja de São Vicente em Mossoró-RN
Os bandidos recuam, voltam a carga e
repelidos novamente se retiram para o seu acampamento, deixando o bandido
Colchete e vários feridos. De nossa parte, nenhuma morte nem ferimento se verificou.”
Matéria extraída do jornal "O Mossoroense" - do acervo de Kydelmir Dantas
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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