POR: FRANCISCO DE
PAULA MELO AGUIAR
A distinção
entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.
Albert Einstein
O termo tem origem na língua grega “mouseion”, que significa o lugar consagrado
às Musas¹, deusas das artes. Assim podemos dizer que museu é todo e qualquer
estabelecimento concebido para valorizar, conservar e especialmente, para expor
com a finalidade principal de servir como meio de educação do povo, enquanto
público consumidor. É de suma importância expor coleções de objetos de
interesse artístico, social, cultural, histórico, técnico e cientifico na
expressão da palavra. Portanto, museu é um centro de estudos e pesquisas que
envolvem direta e indiretamente diversas atividades da criação humana e ou não,
dentre as quais enfocamos: exposições, conferências, bibliotecas públicas e ou
privadas especificas, etc., concorrendo assim, para a melhoria intelectual da
coletividade como um todo. É evidente de que o museu pode se dedicar ao
presente, através de museus específicos, como por exemplo, os museus de arte
moderna, bem como ao passado, através de museus de Arquiologia, por exemplo.
Pode ainda se dedicar a certo e determinado tema e ou vários temas em conjunto,
bem como ainda a história de certo e determinado povo e ou à vida de um
individuo, apenas. É importante mencionar de que o termo “mouseion”,
etimologicamente falando, teve uma grande representatividade e significou muito
na Antiguidade, enquanto templo dedicado exclusivamente as musas, recebendo
visitas ilustres de artistas que a ele visitavam para que os espíritos das
musas os inspirassem. Assim o museu passou a significar como sendo o local
apropriado para se praticar e se discutir a literatura e as artes. A história
registra que os museus com o passar dos tempos foram enriquecidos pelos
presentes ou oferendas, as mais diversas possíveis dos seus fiéis e até mesmo
pelos saques dos tempos de guerras do Estado, de modo que mais tarde, se
transformou nas chamadas câmaras de tesouros dos grandes santuários, como por
exemplo: Acrópolis de Atenas; Templo de Apolo, situado em Delfos; de Zeus,
localizado em Olímpia, dentre muitos outros de importância semelhante.
Enfocamos que Pausânias, que viveu no século II, descreveu os museus,
mencionando em seus relatos a existência de várias estatuas, quadros, objetos
preciosos feitos de outro ou prata, além de jóias raras, etc., estocados ou
expostos para visitação pública. Um fato curioso em tudo isso é que tal acervo,
não era exposto apenas nos templos, mas também eram expostos nas praças, nos
mercados, nos estádios, e até porque com o decorrer do tempo, passou a ser
considerado como um bem público e para o público, enquanto povo. E isso não foi
apenas privilegio da Grécia na Antiguidade, pois, o povo romano também teve
seus templos, suas câmaras de tesouros enriquecidos pelos saques das guerras de
conquista, feitas durante todo o longo Império, cujo domínio encontra-se
narrada na Bíblia Sagrada. Assim podemos mencionar, por exemplo, os Templos de
Castor e de Pólux, de Ísis e o de Serapis, como sendo os mais ricos por suas
riquezas. Os templos de Ísis e de Serapis, eram dedicados quase que
exclusivamente a arte egípcia. Existiam na Roma Antiga, coleções pertencentes
aos templos (tinha caráter público) e também existiam coleções particulares
(tinha caráter privado, donos). As coleções mais importantes deste período do
museu romano, foram: as coleções de Silas, que viveu em 136-78 a.C; de Verres,
que viveu de 119 a 43 a.C; de Asínio Pollon, que viveu de 76 a.C a 4 d.C,
dentre outras igualmente importantes. Ressaltamos que com a queda do Império
Romano, surgiram novas condições políticas, econômicas, religiosas e sociais.
De modo que perseguidos diuturnamente, durante longo tempo, tendo em vista o
poderio político do referido império, onde os cristãos não podiam jamais
aceitar certos e determinados aspectos da chamada cultura clássica. Tomamos
conhecimento de que o ascetismo cristão primitivo concebeu os deuses pagãos
como sendo verdadeiros demônios, e bem assim a sua representação figurada
também. Gradativamente tal cenário foi modificado durante séculos, graças ao
trabalho desenvolvido pelos filhos de São Bento, assim chamados de monges
beneditinos na preservação da cultura clássica e posteriormente com a
estabilização da economia e da política, enquanto ciência do bem comum para os
povos. De modo que os grandes senhores feudais desejosos para agradar a Deus,
concorreram as suas custas para a construção de abadias², priorado³, templos e
claustros (aqui compreendido como sendo uma parte da arquitectura religiosa dos
mosteiros,
conventos,
catedrais
e abadias),
o que designava a chamada vida de claustro ou de clausura vivenciada ainda em
pleno século XXI pelos monges, frades e ou freiras, segundo os estatutos de
suas ordens religiosas. Sempre foi assim desde a antiguidade aos dias atuais.
Os senhores feudais também ofereciam relicários de ouro e prata incrustados com
pedras preciosas depositando neles as relíquias religiosas. A Catedral de São
Marcos e da Abadia de Saint-Denis, tinham os tesouros mais célebres até então.
E um fato histórico mencionar de que uma religião que não tivesse imagens só
seria compreendida como tal por uma minoria letrada, foi com esse argumento que
a Igreja Católica modificou o pensamento inicial para facilitar a parte lúdica
e ou de cognição da fé católica, aqui concebendo o termo católico como sendo de
crente universal ao pé da letra. Na Idade Média vivenciada por Roma, vamos
encontrar também colecionadores particulares, dentre os quais podemos destacar,
na França, o Duque de Berry (1340 – 1416); na Itália, os Faliere, século
XII-XIV, Tiépole (1693-1770), além de Michiel. Diante do exposto, estava
preparado o ambiente para a eclosão do Renascimento da cultura Greco-romana.
Enfocamos que graças as Repúblicas Italianas localizadas no norte da Itália,
ex-vi o caso de Veneza. Assim as esculturas e pinturas passam a decorar as
residências ricas, os palácios dos reis, os palacetes dos nobres, as abadias,
os templos e as bibliotecas dos conventos das ordens religiosas. Aqui passam a
ser compreendidas como obras de arte, o mobiliário e a tapeçaria. Os museus
daquela época eram bem diferentes dos museus atuais, pois, naquele tempo os
museus guardavam os objetos e visavam apenas o luxo e não ao estudo acadêmico,
de cunho cientifico e ou não. Mencionamos de que na Grécia e em Roma, tanto na
Idade Médio, quanto no Renascimento, jamais se chegou a ter a noção e ou
significado de museu como atualmente entendemos, pois, tal idéia começou a
aparecer nos séculos XVII e XVIII, justamente a partir do momento em que tais
bens particulares depositados e ou guardados nos museus, foram transformados em
bens públicos na expressão da palavra. É a partir deste momento histórico que
os museus italianos, especificamente tiveram, em quase sua totalidade, origem
das coleções particulares, dentre as quais: dos Médicis ( século XII – 1734),
dos Duques de Urbino, dos Gonzagas, de Isabel d’Este (1474-1539), dos Papas da
Igreja Católica Apostólica Romana: Paulo III ( ? - 1549) e Júlio II(1443-1513).
Registramos também o surgimentos de outra coleções fora da Itália, dentre os
quais podemos citar: as coleções de Habsburgos, com os museus de Munique e de
Dresde; as coleções de Carlo V (1500 – 1558) e a coleção de Felipe II
(1527-1598), dando assim origem ao Museu de Prado; com a coleção de Catarina II
(1729-1796) deu origem ao nascimento do Museu de Leningrado. Já na Inglaterra,
surgiram alguns museus, valendo destacar: a coleção de Duque de Marlborough
(1650-1722) e a de Georges Beaumont (1753-1827). Até os museus ainda eram
ambientes particulares que guardavam a sete chaves bens de terceiros a si
confiados. O primeiro museu público permanente na expressão da palavra surgiu
na França, o Museu de Louvre, fundado e instalado em 1793, tendo como marco
inicial, as coleções dos Bourbons, que foram incorporadas ao Estado Francês
pelo governo revolucionário. Posteriormente, outros países também fundaram seus
museus nos diversos continentes da Terra, através de compra, de doação e ou de
incorporação de suas diversas coleções, dentre estes países podemos destacar os
Estados Unidos da América, que teve como origem as coleções do seu
acervo, as de Altman (1840-19103), Rockfeller (1839-1937), Mellon (1855-1937),
Widenr, Guggenheim (1861 – 1949), dentre outras igualmente importantes do ponto
de vista histórico e social.
O Brasil enquanto Colônia de Portugal no período de 22 de abril de 1500 a 7 de
setembro de 1822, não lhe foi possível inicialmente possuir grandes coleções de
obras de artes para constituir um museu. Somente no inicio do século XVIII,
podemos destacar que alguns viajantes, anotaram, por exemplo, algumas coleções
de pinturas nas casas e conventos da Bahia. Assim o primeiro museu brasileiro
chamou-se: “Casa dos Pássaros”, que serviu de origem basilar para a
constituição do Museu Nacional. Posteriormente foi criada em 1816, por Dom João
VI a Academia Nacional de Belas-Artes, cujo acervo serviu para constituir o
núcleo da Escola Nacional de Belas-Artes, criada com o advento do regime
republicano. E até que em 1937, todos os objetos de arte e a pinoteca foram
separados da referida escola para formar o acervo do Museu Nacional do Rio de
Janeiro, então Capital do Brasil. No século XIX, o Brasil teve ainda o Museu
Naval, criado por Dom Pedro II, em 1868. No século XX, o Brasil fundou outros
museus, podemos destacar os Museus de Arte: na Bahia: Museu de Arte Sacra; no
então Estado da Guanabara: Museu Nacional de Belas-Artes e Museu de Arte
Moderna; em Minas Gerais: Museu de Arte Sacra (Belo Horizonte); em São Paulo:
Museu de Arte e Museu de Arte Moderna. Na área de ciências: Museu Nacional, na
Guanabara; e Museu Paranaense Emilio Goeldi, no Pará. Na área de História,
foram criados: Museu Histórico Nacional, no então Estado da Guanabara; Museu
Histórico da Cidade e Museu da República; Museu Mariano Procópio, e Museu do
Ouro, em Minas Gerais; e o Museu Imperial de Petrópolis, no Rio de Janeiro. O
Estado de São Paulo, em 1970, inaugurou o Museu de Arte Sacra, considerado o
maio museu da América Latina no gênero.
O Museu Nacional do Brasil foi criado pelo príncipe Dom João (1767-1826) e teve
como origem básica o acervo da “Casa de História Natural”, que era denominada
pelo povo como sendo “Casa dos Pássaros”, criada e em funcionamento desde a gestão
do Vice Rei Luiz de Vasconcelos (1779 – 1790), tendo como sede o local onde
funciona o Arquivo Nacional, na Praça da República no Rio de Janeiro. Dom João
VI, em 6 de junho de 1818, criou no Rio de Janeiro o Museu Real, tratava-se de
um museu com acervo cientifico e artístico, tendo o mesmo recebido diversas
coleções de particulares, dentre as quais a coleção mineralógica de José
Bonifácio de Andrada (1763-1838), bem como as coleções de zoologia de diversos
naturalistas que vieram fazer pesquisas no Brasil, dentre os quais: Langsdorff
(1774 – 1852), Natterer (1787 – 1843), e Von Sellow (1789 – 1831). O
Imperador Pedro I (1789 – 1834), em 1822, fez doação pessoal de quadros de sua
coleção particular, que se somou com o acervo do Tesouro Real e a coleção Le
Breton, juntando-se assim, as demais coleções doadas por Dom João VI. São Paulo
tem o MASP – Museu de Arte Moderna Assis Chateaubrian, bem como, o Museu da
Estação da Luz.
Na Paraíba temos o Museu da Igreja de São Francisco, onde guarda a história do
nosso Estado e de sua gente, envolvendo os períodos: colonial, imperial e
republicano, até os nossos dias, dentre outros, relativamente importantes. É
digno de ser lembrado o museu a céu aberto do sitio arquiológico das Pedras do
Ingá/PB., o Memorial Augusto dos Anjos, localizado na extinta Usina Santa
Helena (ex- Engenho Pau D`Arco, Município de Sapé/PB) e as instalações da casa
grande e do Engenho Corredor, berço do escritor José Lins do Rego Cavalcanti,
em Pilar, pertencente a particulares.
Em Santa Rita, várzea do Estado da Paraíba, apesar de ter o inicio de sua
ocupação e colonização, a partir de 5 de agosto de 1585, no século XVI, não tem
ainda um museu para guardar a história de nossa gente, apesar da existência da
Lei Municipal nº 533, de 25 de fevereiro de 1977, que criou o “Museu do Açúcar”
de Santa Rita, aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pelo então prefeito
Marcus Odilon Ribeiro Coutinho, membro do Instituto Histórico e Geográfico
Paraibano.
Em síntese, um museu por menor que seja o seu acervo, representa por analogia o
que pensa a escritora Cecília Meireles em seu poema “Retrato”:
Eu não tinha
este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Assim indagamos, por onde anda o Museu do Açúcar, de Santa Rita/PB,
criado pela Lei Municipal nº 533, de 25 de Fevereiro de 1977?
¹ As musas
eram entidades mitológicas a quem era atribuída, na Grécia Antiga, a capacidade
de inspirar a criação artística ou científica. Na mitologia grega, eram as nove filhas de Mnemosine
e Zeus.
O templo das musas era o Museion, termo que deu origem à palavra museu nas
diversas línguas indo-europeias como local de cultivo e preservação das artes e
ciências.
² Abadia (do latim
abbatia, que deriva do aramaico abba, "pai") é uma
comunidade monástica cristã, originalmente católica ("casa regular formada"), sob a tutela
de um abade
ou de uma abadessa, que a dirige com a dignidade de pai (ou madre) espiritual
da comunidade. Deve apresentar no mínimo doze monges professos solenes em seus
quadros, e cuja ereção canônica tenha sido
decretada formalmente pela Santa Sé. O termo é ainda utilizado para
se referir a igrejas que pertenceram a abadias hoje extintas, caso da Abadia de Westminster ou da de São Galo. Em Portugal,
também se designava como abadia algumas freguesias
cujo pároco era designado como abade, mas tal designação não mais é utilizada.
³ Um priorado
apenas difere de uma abadia pelo fato de o seu superior se intitular prior,
em vez de abade. Difere dos conventos ou mosteiros
em geral, já que estes últimos podem referir-se a comunidades monásticas não
cristãs. Os priorados eram, originalmente, casas subsidiárias de uma abadia
principal, a cujo abade estavam subordinados. Tal distinção desapareceu
praticamente a partir do Renascimento.
REFERÊNCIAS
ÁVILA, Pe
Fernando Bastos de. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. 2ª Ed. Rio de
Janeiro: MEC/FENAME, 1976.
ESTAÇÃO DA LUZ
E SEUS MUSEUS – São Paulo – site: http://www.revistamaioridade.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=173:estacao-da-luz-e-seus-museus&catid=44:agenda&Itemid=50
– Acessado em: 17/09/2013.
MASP – Museu
de Arte Moderna Assis Chateaubriand. São Paulo – site: http://masp.art.br/masp2010/
- Acessado em: 17/09/2013.
MUSEU SÃO
FRANCISCO – João Pessoa – site: http://www.de.ufpb.br/~ronei/JoaoPessoa/sfrancisco.htm
- Acessado em: 17/09/2013.
MUSEUS DO
ESTADO DA PARAIBA – CASA DA CULTURA POPULAR – Site: <http://culturapopular2.blogspot.com.br/2010/05/museus-do-estado.html>
- Acessado em: 17/09/2013.
SANTA
RITA/PARAIBA – Lei Municipal nº 533, 25 de fevereiro de 1977 – Cria o Museu do
Açúcar e dá outras providências. Jornal A Tribuna. Março de 1977, p. 7.
Enviado pelo escritor Francisco de Pauala Melo Aguiar
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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