Virgulino Ferreira era bastante
impulsivo. Às vezes, passavam-se meses sem se ouvir falar nele, pensando-se,
inclusive, que tinha morrido. Mas, de repente, ele surgia do nada com o seu
bando, como um tremendo furacão, lutando contra as volantes, incendiando
fazendas, roubando e matando com a maior naturalidade. Em algumas ocasiões,
seus gestos eram generosos: confraternizava com as pessoas, organizava festas,
distribuía dinheiro, pagava bebida para todos.
Em uma de suas paradas para
descansar, perto da Cachoeira de Paulo Afonso, conheceu Maria Déia, filha de um
fazendeiro de Jeremoabo, na Bahia. Há cinco anos ela era casada com José de
Nenén - um comerciante da região - mas nutria uma paixão platônica por Lampião,
mesmo sem nunca tê-lo encontrado.
Alguns afirmam que foi a própria
mãe de Maria Déia que segredou a Lampião sobre essa paixão. Já outros dizem que
foi Luís Pedro - integrante do bando - que insistiu para o rei do cangaço
conhecê-la. Na realidade, o fato é que Virgulino caiu de amores ao vê-la. E,
impressionado com a sua beleza, passou a chamá-la de Maria
Bonita.
Em vez de três dias, ficou dez na
Fazenda Malhada da Caiçara. Com a concordância dos pais, que apoiavam o desejo
da filha, Maria Déia coloca as suas roupas em dois bornais, penteia os cabelos,
despede-se para sempre do marido, e parte com Lampião rumo à caatinga. Era o ano
1931 e ela tinha 20 anos.
Pouco tempo depois, Maria Bonita
engravida e sofre um aborto. Mas, em 1932, o casal de cangaceiros tem uma
filha. Chamam-na de Expedita. Maria Bonita dá à luz no meio da caatinga, à
sombra de um umbuzeiro, em Porto de Folha, no estado de Sergipe. Lampião foi o
seu próprio parteiro.
Como se tratava de um período de
intensas perseguições e confrontos, e a vida era bastante incerta, os pais não
tinham condições de criá-la dentro do cangaço. Os fatos que ocorreram viraram
um assunto polêmico porque uns diziam que Expedita tinha sido entregue ao tio
João, irmão de Lampião que nunca fez parte do cangaço; e outros testemunharam
que a criança foi deixada na casa do vaqueiro Manuel Severo, na Fazenda Jaçoba.
O Capitão Virgulino adora ser
fotografado e filmado. Neste sentido, consente que Benjamim Abraão, um
fotógrafo libanês, conviva durante meses com o seu bando e colete muito
material sobre o cangaço. Esse fotógrafo, contudo, é assassinado por um
coronel, e grande parte do seu acervo é destruída.
Maria Bonita sempre insistia
muito para que Lampião cuidasse do olho vazado. Diante dessa insistência, ele
se dirige a um hospital na cidade de Laranjeiras, em Sergipe, dizendo ser um
fazendeiro pernambucano. Virgulino tem o olho extraído pelo Dr. Bragança - um
conhecido oftalmologista de todo o sertão - e passa um mês internado para se
recuperar. Após pagar todas as despesas da internação, ele sai do hospital,
escondido, durante a madrugada, não sem antes deixar escrito, à carvão, na parede
do quarto:
Doutor, o senhor não operou
fazendeiro nenhum. O olho que o senhor arrancou foi o do Capitão Virgulino
Ferreira da Silva, Lampião.
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar./index.php?option=com_content&view=article&id=320&Itemid=1
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário