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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Ademar ou Benjamim ?

Por: Ricardo Albuquerque
Ricardo Albuquerque em noite de Cariri Cangaço na Saraiva MegaStore

Caros Aderbal e Nirez evitei por um tempo fazer qualquer consideração sobre a entrevista realizada pelo Nirez com o meu pai Chico Albuquerque. Mas lendo alguns comentários, resolvi que seria hora de colocar alguns esclarecimentos neste assunto.

1) Meu avô Adhemar nunca foi um fotografo e cineasta profissional. Ele sempre trabalhou como caixa do London Bank em Fortaleza.

2) Fotografar e filmar era um hobby que ele exercia com tamanha paixão, que além de ter os melhores equipamentos à época de 20 e 30, ele foi o precursor da produção cinematográfica no Ceará, tendo realizado mais de 20 documentários.

3) Conforme consta na filmografia da Cinemateca Brasileira é de sua autoria o filme "O Juazeiro do Padre Cicero" de 1925 e "Os Funerais de Padre Cicero" em 1934.

4) Durante a realização do filme "Os Funerais de Padre Cicero" manteve contato com Benjamin Abrahão, que encontrava-se sem função após a morte de Padre Cicero. Deste contato surgiu a ideia de filmarem e fotografarem o bando e sub-bandos de Lampião com finalidade comercial.

5) Benjamin, que já havia mantido contato com Lampião em 1926, durante sua visita à Juazeiro, ficou encarregado de propor tal empreitada à Lampião.

6) Com o consentimento de Lampião, conforme documento de próprio punho e assinado pelo Capitão Lampião, Benjamin veio a Fortaleza procurar meu avô.

7) Nesta parceria, meu avô forneceu os equipamentos e filmes, além de ensinar ao Benjamin como manuseá-los.

8) Na primeira tentativa de Benjamin em 1936, os filmes fotográficos vieram totalmente velados, o que obrigou ao meu avô soldar a objetiva e a dar-lhe novas orientações em relação à luz.

9) Benjamin esteve mais 2 vezes com o bando de Lampião nos anos de 36 e 37, dando então por encerrado as tomadas.

10) Meu avô editou o filme e ainda em 37 anunciou a primeira exibição no Cine Moderno em Fortaleza. Esta exibição, por exigência do DIP, tornou-se verdade uma sessão fechada ao publico, sendo considerada uma sessão de censura.

11) A exibição publica foi proibida e o filme apreendido pelo DIP.

12) Somente em 1954, uma edição realizada por Al Ghiu do que restou do filme, foi apresentada numa sala de projeção do Rio de Janeiro.

Ricardo Albuquerque e Ângelo Osmiro

Antes de manifestar-me sobre a entrevista de meu pai Chico Albuquerque ao grande memorialista Nirez, preferi checar algumas duvidas com a minha família: netos de Adhemar Albuquerque. Como eu já supunha, o meu avô, que já havia realizado dois documentários com o Padre Cicero, deslocou-se à Juazeiro em 1934 (e não em 1930) para realizar o terceiro documentário denominado "Os funerais de Padre Cicero" Foi neste momento, apos a morte de Padre Cicero, que em conversa com Benjamin Abrahão, meu avô propôs a realização do projeto Lampião. Nunca houve qualquer intermediação do Padre Cicero nesta empreitada. Benjamin Abrahão, que se encontrava sem uma função após a morte do Padre Cicero e, que já tinha tido contato com Lampião em 1926 no Juazeiro, prontificou-se a procurar Lampião e solicitar a devida autorização, como atesta documento do próprio punho de Lampião. Com este documento em mãos, Benjamin veio à Fortaleza procurar meu avô, que lhe ensinou a fotografar e filmar, além de fornecer-lhe todo o equipamento e filmes necessários. Esta foi a origem do trabalho realizado durante os anos de 1936 e 1937. Espero ter colaborado para dirimir tantas duvidas sobre esta questão.
Espero ter colocado um pouco de luz sobre este trabalho.
Abraço,

Ricardo Albuquerque

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2011/02/ademar-ou-benjamim-por-ricardo.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


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