Por Rostand Medeiros
- Dedicado ao
amigo José Mendes Pereira, organizador do site http://blogdomendesemendes.blogspot.com/ e
um orgulhoso mossoroense.
Há poucos dias
neste “Tok de História”, publiquei uma informação sobre o lançamento do
interessante livro “Quem Matou Delmiro Gouveia”, do amigo Gilmar Teixeira
Santos, competente historiador baiano (Ver –http://tokdehistoria.wordpress.com/2011/10/26/novo-livro-sobre-delmiro-gouveia-e-a-sua-morte/).
Motivado por
este lançamento, andei cascavilhando meus alfarrábios e encontrei em antigas
páginas do jornal “O Mossoroense”, de 1917, pouco antes do assassinato de
Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, a propaganda do seu empreendimento mais
famoso, a “Fábrica da Pedra”.
Localizada na
Vila da Pedra, atual município de Delmiro Gouveia, as margens do Rio São
Francisco, foi aqui que este industrial, nascido em Ipu, Ceará, em 5 de junho
de 1863, com sua inigualável visão empresarial, criou o que os estudiosos
definem como o primeiro polo industrial do Nordeste brasileiro, através da
criação da primeira fábrica voltada para a indústria têxtil em pleno sertão
alagoano.
Jornal "O
Mossoroense"
Denominada
Companhia Agro Fabril Mercantil, iniciou sua produção em junho de 1914. O
lugarejo logo prosperou, tendo sido criados o telégrafo, realizada a abertura
de 520 quilômetros de estradas para escoar a sua produção, isenção de impostos
para a futura fábrica, permissão para captar energia da cachoeira de Paulo
Afonso, construção de 200 casas de alvenaria na Vila Operária da Pedra e outros
benefícios para seus trabalhadores. Segundo dados existentes, nesta fábrica
chegaram a serem produzidos, em 1916, mais de 500.000 carretéis de linhas para
costura.
O negócio
chegou ao ponto de exportar sua produção para a outras nações, como Argentina,
Chile, Peru e Bolívia.
O Rio Grande
do Norte teve uma larga participação neste negócio. Se no início Delmiro
mportou algodão do Egito como matéria prima, logo estava utilizando o algodão
de fibra longa, vindos do nosso Seridó. Já tive oportunidade de ler notícias do
embarque de fardos desta malvácea, via navio, em direção a Vila da Pedra.
Propaganda da
fábrica da Pedra no Rio Grande do Norte
Nesta relação
com nosso estado, chama atenção a divulgação de seus produtos em jornais
potiguares, tanto de Natal como de Mossoró.
Nesta última
cidade o representante era a firma S. Gurgel, onde a propaganda nos jornais
locais da Companhia Agro Fabril Mercantil enaltecia a marca “Estrella”, vendida
em território nacional e a marca e “Barrilejo” para o resto da América Latina.
A divulgação
era realizada de forma agressiva, onde escancaradamente o produto da Fábrica da
Pedra era anunciado como “Melhor que a afamada marca estrangeira Corrente, esta
vendida a preços elevadíssimos e a nossa a preços baratíssimos”.
Outro ponto
enaltecido era que o carretel de linha estaria por “500 réis ou mais”, se não
fosse a fabricação das linhas “Estrella”. Delmiro fazia questão de mostrar o
benefício para a população da quebra do monopólio de fabricação de linhas de
costura, então um negócio dominado pela fábrica inglesa Machine Cotton,
produtora dos carretéis da marca Corrente.
Segundo o site
Wikipédia (http://pt.wikipedia.org), a
empresa Machine Coats ou Coats Corrente, Coats PLC, ou simplesmente Coats, foi
fundada em 1755, na cidade de Paisley, na Escócia, com a fusão das empresas
pertencentes aos industriais James Coats e James Clark. Esta é considerada até
hoje a maior empresa multinacional de materiais têxteis e de costura para uso
doméstico e industrial. Possui mais de 25.000 empregados, com linhas de
produção em 65 nações nos cinco continentes e seus produtos são vendidos em
mais de 150 países.
No Brasil a
Coats se estabeleceu inicialmente em São Paulo, no dia 18 de junho de 1907, no
bairro do Ipiranga, com o nome comercial de Linhas Corrente. Atualmente a
empresa tem quatro filiais em nosso país.
Não sei se de
forma exagerada, ou não, mas a propaganda afirmava que a fábrica da Vila da
Pedra empregava “2.000 pessoas”.
A destacada
propaganda da Companhia Agro Fabril Mercantil, publicada no jornal “O
Mossoroense” de 1917, mostra como a empresa estava atuante no mercado nacional
e sua propaganda enaltecia fortemente o seu progresso e um caráter tipicamente
nacionalista, muito comum naquela época.
Mas naquele
mesmo ano, como mostra o livro “Quem Matou Delmiro Gouveia”, do amigo Gilmar
Teixeira Santos, o preogressista industrial foi brutalmente assassinado. Consta
que por pressão da Machine Coats, os herdeiros de Delmiro venderam a fábrica à
esta empresa inglesa. Em uma atitude típica de capitalistas detentores de
monopólios e com espirito tipicamente de colonizadores, os ingleses mandaram
destruir as máquinas de Delmiro, demolir os prédios, e lançar tudo no Rio São
Francisco, buscando apagar uma incômoda concorrência e retirar da memória local
qualquer ideia de empreendedorismo.
Em minha
opinião, apesar de tudo que aconteceu, Delmiro Gouveia não possui o merecido
reconhecimento quando o assunto é a história do Nordeste brasileiro.
Autor –
Rostand Medeiros
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Rostand Medeiros é historiógrafo,pesquisador do cangaço, sócio da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço e administrador do blog: http://tokdehistoria.com.br/2011/11/01/a-propaganda-da-fabrica-de-delmiro-gouveia-em-mossoro/
Nobre Historiógrafo Rostand Medeiros: O meu bom dia
ResponderExcluirNão tratando de bajulação - uma vez que você não faz parte da aceitação desse gênero -, não poderia deixar de apresentar-lhe os meus parabéns pela maneira desprendida como você trata as coisas. Primeiro, você permite que nós, seus leitores reproduzamos seus excelentes textos, chamando atenção apenas para citarmos a fonte e o autor, o que é correto.
Segundo: Suas matérias são escritas, usando uma didática fácil de compreensão.
Por último, o cuidado que você teve em dedicar um texto tão importante ao dileto pesquisador José Mendes Pereira, coisa que ele merece mesmo tal dedicatória, devido ao seu extremo devotamento pela História do nosso Nordeste.
Portanto, caro Escritor Medeiros: As minhas felicitações, afirmando: CONTINUE ASSIM COM ESSE SEU DESPRENDIMENTO, E QUE NÓS LHE AGRADECEMOS E O ARQUITETO DO UNIVERSO POR CERTO IRÁ LHE RECOMPENSAR.
Grato companheiro Mendes,
Antonio Oliveira, desta nossa Serrinha da Bahia.