Era a noite de
27 para 28 de julho de 1938. Chovia muito e o tempo andava escuro como breu.
Desabou uma tempestade e as águas do São Francisco, encrespadas, rolavam
impetuosas. Os soldados, temendo um naufrágio, puseram-se nus, amontoado as
roupas a um canto da embarcação, que batia, vez por outra, de encontro às
pedras do leito,
De madrugada,
a canoa aportou à margem sergipana. Vestiram-se os soldados. Um deles foi
enviado ao pouso de um coiteiro, nas proximidades do rio, com ordem para
requisitar aguardente, a maior quantidade possível que encontrasse.
Voltou, mais
tarde, na companhia do homem.
Na escuridão,
o tenente passou a mão no rosto do coiteiro, para reconhece-lo.
“Cabra safado,
há dois anos que você vem me passando essa conversa”, rugiu, furioso, o
comandante da volante. “ Mas agora você vai contar a verdade ou não sai vivo
daqui.”
O homem
estremeceu diante das ameaças. Narrou o que sabia, com um sorriso amarelo na
cara.
A chuva
açoitava o mato, violentamente, ensopando os soldados, armas e munições.
Arrancada a
confissão do coiteiro, pôr-se o tenente em marcha outra vez, agora no rumo dos
Angicos, reembarcando a tropa nas canoas ligadas que perseguiram rio a fora
batendo sobre as pedras, enquanto os canoeiros, prevendo um encontro com os
bandidos, tremiam apavorados.
Era o início
da marcha sobre o bivaque do Capitão.
Mais adiante,
já nas proximidades do grotão, a volante desembarcou. Bezerra tomou as suas
decisões. O aspirante Ferreira de Melo, com quinze homens e uma metralhadora
belga de vinte tiros, marcharia sobre o riacho seco, junto ao coito, dividindo
aí o seu destacamento para a investida. O cabo Antonio Bertoldo da Silva, com
oito homens, avançaria à Ilharga do comandante. E o próprio Bezerra rumaria na
direção centro do acampamento, com Bertoldo à direita, cabo Justino (armado de
uma metralhadora hotkiss, de trinta e dois tiros), à esquerda, um pouco recuado
do aspirante Ferreira de Melo, que ia na frente. O sargento Aniceto, cujo nome
é omitido pelo chefe da volante, em suas memórias, durante esses preparativos
de combate, dispunha de dezesseis homens. A missão do cabo Justino era
atravessar o riacho da direita para a esquerda, completando o cerco.
CONTINUA...
Fonte: Capitão
Virgulino Ferreira: Lampião
Autor: Nertan
Macêdo
Edições O
Cruzeiro Rio de Janeiro
Ano: 1970
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
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