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quinta-feira, 28 de maio de 2015

ANGICOS 1938 – PARTE III

 
Era a noite de 27 para 28 de julho de 1938. Chovia muito e o tempo andava escuro como breu. Desabou uma tempestade e as águas do São Francisco, encrespadas, rolavam impetuosas. Os soldados, temendo um naufrágio, puseram-se nus, amontoado as roupas a um canto da embarcação, que batia, vez por outra, de encontro às pedras do leito,
De madrugada, a canoa aportou à margem sergipana. Vestiram-se os soldados. Um deles foi enviado ao pouso de um coiteiro, nas proximidades do rio, com ordem para requisitar aguardente, a maior quantidade possível que encontrasse.
Voltou, mais tarde, na companhia do homem.
Na escuridão, o tenente passou a mão no rosto do coiteiro, para reconhece-lo.
“Cabra safado, há dois anos que você vem me passando essa conversa”, rugiu, furioso, o comandante da volante. “ Mas agora você vai contar a verdade ou não sai vivo daqui.”
O homem estremeceu diante das ameaças. Narrou o que sabia, com um sorriso amarelo na cara.
A chuva açoitava o mato, violentamente, ensopando os soldados, armas e munições.
Arrancada a confissão do coiteiro, pôr-se o tenente em marcha outra vez, agora no rumo dos Angicos, reembarcando a tropa nas canoas ligadas que perseguiram rio a fora batendo sobre as pedras, enquanto os canoeiros, prevendo um encontro com os bandidos, tremiam apavorados.
Era o início da marcha sobre o bivaque do Capitão.
Mais adiante, já nas proximidades do grotão, a volante desembarcou. Bezerra tomou as suas decisões. O aspirante Ferreira de Melo, com quinze homens e uma metralhadora belga de vinte tiros, marcharia sobre o riacho seco, junto ao coito, dividindo aí o seu destacamento para a investida. O cabo Antonio Bertoldo da Silva, com oito homens, avançaria à Ilharga do comandante. E o próprio Bezerra rumaria na direção centro do acampamento, com Bertoldo à direita, cabo Justino (armado de uma metralhadora hotkiss, de trinta e dois tiros), à esquerda, um pouco recuado do aspirante Ferreira de Melo, que ia na frente. O sargento Aniceto, cujo nome é omitido pelo chefe da volante, em suas memórias, durante esses preparativos de combate, dispunha de dezesseis homens. A missão do cabo Justino era atravessar o riacho da direita para a esquerda, completando o cerco.
CONTINUA...
Fonte: Capitão Virgulino Ferreira: Lampião
Autor: Nertan Macêdo
Edições O Cruzeiro Rio de Janeiro
Ano: 1970
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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