Por Geraldo Maia do Nascimento
Em 10 de maio de 1927 o cangaceiro Macilon e seu bando atacaram a cidade de Apodi, no Oeste potiguar. Chegaram de mansinho, do Ceará, pelas três horas da madrugada, cortando os fios do telégrafo e destruindo os aparelhos transmissores para que não fosse dado o alarme. Trancaram na cadeia pública os poucos soldados que ali se encontravam, tomaram-lhes as armas e soltaram os presos. Prenderam também o Prefeito e vários comerciantes, exigindo quantias elevadas para não mata-los.
Ao
que tudo indica, esse assalto foi encomendado por um coiteiro do Ceará. Era uma
vingança de ressentimentos políticos. Os cangaceiros levavam uma lista de
tarefas que deveriam executar: O capitão Jacinto Tavares e o Prefeito Francisco
Pinto deveriam ser executados; o cidadão Luiz Leite deveria ser surrado e ter
uma orelha cortada; Luiz Supino e Benvenuto Laurindo açoitados e as suas
fazendas saqueadas. Mas, por felicidade, nada disso aconteceu. Apenas uma morte
foi registrada e assim mesmo por vingança. O cidadão Manoel Rodrigues perdeu a
vida nas mãos do seu desafeto, o cangaceiro Cajazeiras, cabra com várias
entradas na justiça.
Com
relação ao Prefeito Francisco Pinto e o comerciante Luiz Leite, esses tiveram
um anjo protetor na figura do padre Benedito Basílio Alves, vigário da
Freguesia. Ao serem agarrados pelos bandidos, ouviram, de pronto, as sentenças,
o vigário, em rogativas patéticas, nas palavras do escritor Raul Fernandes,
pediu clemência aos bandidos, exortando-os a se absterem do nefasto crime. E
evocando os santos venerados do lugar, consegue fazer com que os cangaceiros
poupe as vidas dos dois infelizes.
Um
fato interessante é que embora não fosse comum os cangaceiros usar máscaras,
parte dos bandidos que atacaram Apodi estavam mascarados. Mas isso não impediu
que alguns fossem identificados como antigos residentes do lugar.
Para
os cangaceiros, o ataque foi um sucesso. Extorquiram Francisco Pinto em bens e
dinheiro, no montante de cinco contos de réis; o fazendeiro Luiz Sulpino em um
conto; Benvenuto Holanda em vinte contos; João Paizinho em cento e oitenta e
sete mil rés; Antônio de Souza em seiscentos; Lucas Pinto em seiscentos e
quarenta contos; João Pinto em um conto de réis; Elpídio Câmara em quatrocentos
mil réis; João de Deus em trezentos e outros em quantias menores, além de selas
e animais, conforme noticiado no jornal Correio do Povo, de Mossoró, em sua
edição de 15 de maio de 1927.
Foi
um dia de “Juízo Final”, como diziam os antigos moradores do lugar. Os
cangaceiros, em completo estado de embriaguez, atearam fogo aos prédios da
Coletoria Federal e Estadual, e à firma Jázimo & Pinto. As chamas ameaçavam
devorar a cidade. Os habitantes, imobilizados, não podiam sustar o alastramento
do incêndio. Esse pesadelo perdurou por quase oito horas.
Já
quase no fim da manhá que os cangaceiros resolveram ir embora. Durante esse
período foram senhores absolutos da cidade, não havendo quem os perturbassem.
Os vinte bandidos, segundo Raul Fernandes, passaram a arrumar os produtos dos
saques nas caronas e amarravam, no arção das selas, as mercadorias maiores.
Montaram a cavalo e partiram álacres, com as algibeiras recheadas de notas e
joias.
Depois
do ataque a Apodi, o bando ainda pilhou o paupérrimo vilarejo de Gavião, atual
cidade de Umarizal e o vilarejo de Itaú, no município de Apodi.
Após
essa série de ataques, o bando voltou para o coito do Ceará e depois subiram o
vale jaguaribano para o encontro marcado com Lampião, na Serra do Mato. O
motivo desse encontro foi para planejar o ataque do bando de Lampião a Mossoró,
fato esse ocorrido em 13 de junho daquele mesmo ano. Macilon, que antes de ser
cangaceiro tinha sido tropeiro e que conhecia muito bem Mossoró e seus
caminhos, como também todos os grandes negociantes, foi peça chave para o
planejamento desse ataque, já que Lampião não conhecia nada do Rio Grande do
Norte. Nesse ataque que pretendiam fazer a Mossoró, se juntaram ao grupo de
Lampião outros pequenos grupos como o de Macilon, já que se tratava de um
ataque a uma cidade que já contava com mais de vinte mil habitantes, o que era
uma coisa inédita para um bando de cangaceiro, cujos alvos principais eram as
pequenas vilas por esse Sertão afora.
Geraldo
Maia do Nascimento
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Incansável Pesquisador Mendes: Excelente matéria do Professor Geraldo Maia. Eu conhecia parte da história de Macilon, porém, não tão bem relatada como neste texto. Muito grato Pesquisador MAIA.
ResponderExcluirAntonio Oliveira - Serrinha