Lampião tinha
a astúcia de dar voltas em torno das localidades. Ziguezagueava de rotas para
rotas misturando seus rastros. Com isso confundia muito os
"rastejadores", peça principal na caça aos bandoleiros.
Essa tática
usada pelo rei dos cangaceiros foi primordial para sua sobrevivência... não foi
por acaso que durou quase duas décadas infernizando as quebradas do sertão
nordestino.
Em termos de
táticas de guerra de movimentos, Lampião serve de exemplo para muitos generais.
No ocaso da
segunda metade do ano de 1925, o "rei vesgo", rasga as entranhas da
caatinga em busca de um local para descansar. Vindo das bandas do Estado
cearense, passa muito perto da cidade de Vila Bela, segue rumo ao Cipó, vai até
próximo a Betânia e volta por outro caminho para junto de Vila Bela, fazendo
parada nas terras da fazenda Abóboras.
Há pouco mais
de uma légua de Vila Bela, num 'pedaço' da Serra do Saco, mais precisamente
conhecido como Serra do Xiquexique, ele e sua 'cabroeira' estavam pegando a 'boia'
escondidos dentro do curral do gado. A comida tinha sido preparada e servida
pelo coiteiro Isaías Viera, que depois vem a torna-se o cangaceiro "Zabelê",
igual alcunha de outro que fora preso no embate do Serrote Preto. Antes de
findarem de comer, escutam a voz do coiteiro e demais familiares, responderem
com uma negativa.
A volante dos
bravos "nazerenos", incansáveis perseguidores do rei, composta, na
ocasião, por 21 guerreiros adolescentes de Nazaré. Tendo como comandante o
aspençada João Gomes de Sá Ferraz. Faziam parte da coluna os jovens Euclides Flor,
Manoel Flor e Idelfonso Flor, que eram irmãos, Davi Gomes Jurubeba, João Jurubeba,
Hercílio Nogueira e Lero de Chico dentre outros. E, em sua vanguarda, contava
com os serviços do esperto e bravo rastejador Antônio Joaquim dos Santos,
conhecido pela alcunha de 'Batoque'.
E é justamente
o rastejador que estranha o tom alto das respostas dos moradores da casa,
quando perguntado se tinham visto algum cangaceiro por aquelas bandas. Seu
sexto sentido investigador o leva a começar a examinar em volta, no oitão da
casa e dentro do curral.
Notando
naquele momento a fuga desesperada dos cabras de Lampião adentrando na mata. Dá
o alarma imediatamente e a pipoqueira começa. Tiro, tiro e mais tiros são
trocados em poucos minutos. Devido a munição ser carregada com pólvora preta, a
fumaceira toma conta do mundo.
Mesmo tendo
notado o aviso dos coiteiros, e caindo, as pressas na lasca das brenhas, a
formação natural de uma das laterais do curral, os impede de uma fuga rápida. O
grupo de bandoleiros teve várias baixas. A cabroeira, nessa ocasião era
composta por 15 cangaceiros mais o chefe. O cangaceiro "Juriti",
tomba morto dentro do curral, outros baleados estão, mas, a luta pela vida os
faz manter o fogo e a fuga. O cangaceiro "Jurema" morre logo em seguida
e, dois ou três dias depois do combate, é encontrado o corpo do cangaceiro
"Morcego".
A volante, dos
valentes de Nazaré, também teve baixa. O jovem Ildefonso Flor, Ildefonso de Sousa
Ferraz, com uma bravura descomunal, mas, com expressa inexperiência, parte para
cima do inimigo acostumado as trocas de tiros. Tentando de todo jeito dar cabo
da horda, entra no curral atirando feito louco. É atingido por um projétil bem
no meio da testa. Contava na ocasião com apenas "16 anos de idade".
Fonte: "Memórias
de um Soldado de Volante", Lira, João Gomes.
"Lampião - a Raposa das Caatingas", irmão, José B. Lima.
Foto:
"roçado" do amigo kiko monteiro - lampiaoaceso.blogspot.com
Ildefonso de Sousa
Ferraz - Ildefonso Flor
Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira OFÍCIO DAS
ESPINGARDAS
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