Por Susi Ribeiro Campos
Meu grande
amigo José Mendes Pereira
Boa tarde!
Como o
prometido escrevo aqui mais algumas lembranças de relatos que ouvi de meus
sogros Sila e Zé Sereno.
O ex-cangaceiro Zé Sereno
Como quando
conheci seu Zé eu ainda era apenas uma criança, muitos relatos do que ele viu e
ouviu na época do massacre de Angico eu somente ouvi em "fita
cassete" com sua própria voz é claro, quando meu esposo Wilson ligava para
que ouvíssemos.
Casamento de Susi e Wilson Ribeiro
Apesar da voz
vir de uma gravação, a emoção em sua voz me emocionava muito, me recordava
daquele vozinho que havia conhecido ainda criança e ficava imaginando o quanto
ele havia sofrido..., quantas dúvidas, quantas decisões ele deve ter tomado com
dores na consciência apenas para sobreviver!
Ouvi seu
relato sobre o dia 28 de Julho de 1938, quando ele e outros cangaceiros
procuraram se esconder até que as metralhadoras dessem trégua.
Segundo relato
de Zé Sereno, ele se arrastou e se escondeu atrás de uma planta nativa, grande,
de onde, sem nada poder fazer (pois seria morto) assistiu ao assassinato de
Maria de Lampião.
Lampião e Maria Bonita
Ela caiu com
um tiro no baixo abdômen e outro na perna esquerda, sendo, que tentou rastejar
para debaixo de umas pedras.
Imediatamente
foi vista e sob os gritos de: "Pega a bandida, a bandida está
fugindo", foi cercada por volantes que a torturaram de todas as formas.
Ele relata
detalhadamente, ela chegou a implorar por sua vida, para que pudesse viver e
criar sua filha.
Já com braços
e pernas "piparados"(termo usado por Zé Sereno) o que Wilson me
explicou que ela foi golpeada com seu próprio punhal nos braços e pernas, teve
suas partes íntimas violadas com um galho de árvore, já sangrando muito ainda
vivia, seus intestinos estavam para fora, mesmo assim implorou novamente para
que pudesse viver para criar sua filha.
Os homens que,
segundo seu relato, estavam longe dos oficiais maiores, se aproveitando do
barulho e da bebedeira, aproveitaram da situação.
Sua cabeça foi
cortada, ouvia-se as batidas para quebrar o osso do pescoço, ela estava viva!
Segundo
sabemos Maria de Lampião, conhecida pela volante como Maria Bonita, não tinha um
gênio fácil, xingava e esbravejava, mas nunca matou nem feriu ninguém, em seu
íntimo diziam alguns que ela mais se parecia com uma criança grande e era muito
brincalhona.
Desculpe o
triste relato, mas como após o falecimento de meu esposo Wilson, tudo entreguei
a minha cunhada Gila, e o material ficou por muitos anos guardado em sua
garagem não sei se essa fita ainda tem condições de ser ouvida.
Gila filha de Zé Sereno e Sila
Outro relato é
sobre como depois, na entrega, conseguiram a liberdade sem serem presos.
Zé Sereno e
muitos outros passaram a ajudar a polícia a capturar os remanescentes,
indicando coitos, coiteiros e até mesmo rastreando.
Sei o quanto
deve ter sido difícil para ele, mas não o julgo, pois acredito que os que
agiram dessa forma o fizeram para sobreviver.
Sei o quanto
de tristeza esse senhorzinho carregava em seu coração e o quanto chorava
sozinho.
Bom meu amigo,
deixo à sua disposição qualquer correção no texto e agradeço-lhe pela
oportunidade de deixar aqui mais um relato sobre meu sogro Zé Sereno.
Em breve,
voltarei a lhe escrever.
Agradeço por
tudo, pela atenção e peço desculpas pelos erros.
Atenciosamente
Susi Ribeiro
Campos.
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