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domingo, 15 de novembro de 2015

MAIS ALGUMAS LEMBRANÇAS DOS RELATOS DE SILA E ZÉ SERENO

Por Susi Ribeiro Campos

Meu grande amigo José Mendes Pereira
Boa tarde!

Como o prometido escrevo aqui mais algumas lembranças de relatos que ouvi de meus sogros Sila e Zé Sereno.

O ex-cangaceiro Zé Sereno

Como quando conheci seu Zé eu ainda era apenas uma criança, muitos relatos do que ele viu e ouviu na época do massacre de Angico eu somente ouvi em "fita cassete" com sua própria voz é claro, quando meu esposo Wilson ligava para que ouvíssemos.

Casamento de Susi e Wilson Ribeiro

Apesar da voz vir de uma gravação, a emoção em sua voz me emocionava muito, me recordava daquele vozinho que havia conhecido ainda criança e ficava imaginando o quanto ele havia sofrido..., quantas dúvidas, quantas decisões ele deve ter tomado com dores na consciência apenas para sobreviver!

Ouvi seu relato sobre o dia 28 de Julho de 1938, quando ele e outros cangaceiros procuraram se esconder até que as metralhadoras dessem trégua.

Segundo relato de Zé Sereno, ele se arrastou e se escondeu atrás de uma planta nativa, grande, de onde, sem nada poder fazer (pois seria morto) assistiu ao assassinato de Maria de Lampião.

Lampião e Maria Bonita

Ela caiu com um tiro no baixo abdômen e outro na perna esquerda, sendo, que tentou rastejar para debaixo de umas pedras.

Imediatamente foi vista e sob os gritos de: "Pega a bandida, a bandida está fugindo", foi cercada por volantes que a torturaram de todas as formas.

Ele relata detalhadamente, ela chegou a implorar por sua vida, para que pudesse viver e criar sua filha.

Já com braços e pernas "piparados"(termo usado por Zé Sereno) o que Wilson me explicou que ela foi golpeada com seu próprio punhal nos braços e pernas, teve suas partes íntimas violadas com um galho de árvore, já sangrando muito ainda vivia, seus intestinos estavam para fora, mesmo assim implorou novamente para que pudesse viver para criar sua filha.

Os homens que, segundo seu relato, estavam longe dos oficiais maiores, se aproveitando do barulho e da bebedeira, aproveitaram da situação.

Sua cabeça foi cortada, ouvia-se as batidas para quebrar o osso do pescoço, ela estava viva!

Segundo sabemos Maria de Lampião, conhecida pela volante como Maria Bonita, não tinha um gênio fácil, xingava e esbravejava, mas nunca matou nem feriu ninguém, em seu íntimo diziam alguns que ela mais se parecia com uma criança grande e era muito brincalhona.

Desculpe o triste relato, mas como após o falecimento de meu esposo Wilson, tudo entreguei a minha cunhada Gila, e o material ficou por muitos anos guardado em sua garagem não sei se essa fita ainda tem condições de ser ouvida.

Gila filha de Zé Sereno e Sila

Outro relato é sobre como depois, na entrega, conseguiram a liberdade sem serem presos.

Zé Sereno e muitos outros passaram a ajudar a polícia a capturar os remanescentes, indicando coitos, coiteiros e até mesmo rastreando.

Sei o quanto deve ter sido difícil para ele, mas não o julgo, pois acredito que os que agiram dessa forma o fizeram para sobreviver.

Sei o quanto de tristeza esse senhorzinho carregava em seu coração e o quanto chorava sozinho.

Bom meu amigo, deixo à sua disposição qualquer correção no texto e agradeço-lhe pela oportunidade de deixar aqui mais um relato sobre meu sogro Zé Sereno.

Em breve, voltarei a lhe escrever.
Agradeço por tudo, pela atenção e peço desculpas pelos erros.

Atenciosamente
Susi Ribeiro Campos.

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