Por Benedito Vasconcelos Mendes
No passado, o
carro de boi, ao lado das tropas de burro e jumento, foram os principais
veículos de carga no sertão semiárido nordestino, principalmente, para o
transporte de carga pesada a longa distância.
Os tropeiros, com seus burros,
jumentos e as vezes, com cavalos, levavam em bruacas, surrões e caçuás
pendurados nos paus das cangalhas a produção das fazendas para as feiras
semanais das vilas e cidades sertanejas (arroz, feijão, milho, batata doce,
jerimum, farinha e goma de mandioca, rapadura e outros produtos).
As cargas pesadas e de maiores tamanhos, chegadas nos portos, vindas de outros Países em vapores (barcos), como moendas de moer cana-de-açúcar, máquinas de costura, tecidos, querosene, mármore, móveis, ferro, aço e outros materiais) eram transportadas em carro de boi.
O sal era levado da salina em grande
quantidade (cerca de 1.500 quilos) e a grande distância (por mais de 1.000
quilômetros ) em carro de boi, que às vezes, demorava meses para voltar à
fazenda de origem.
Dependendo do peso e das subidas e descidas existentes no
caminho, o carreiro, o guieiro e auxiliares utilizavam carro de boi fornido,
com mesa, cabeçalho e rodas grandes, com muitas juntas de bois (3, 4, e não
raro, 5 parelhas de bois mansos, ou seja, 6, 8 ou 10 bois).
Nas longas viagens,
que demoravam mais de um mês, eles levavam um eixo de miolo de aroeira já
pronto, como sobressalente, além de serrote, enxó, marreta, pua, formão e
outros apetrechos de carpintaria, para que pudessem consertar uma roda ou mesmo
fazer outra peça em plena viagem.
Os mantimentos (rapadura, queijo de
coalho, carne de charque, feijão de corda, paçoca de carne seca, farinha e
muitas cabaças d'água), panelas, binga (isqueiro rudimentar) ou fósforo, rede,
mudas de roupa, sabão, toalha e a espingarda e munições, para caçar e se
defender dos assaltantes, não podiam ser esquecidos. Este veículo simples
de duas rodas era também utilizado nas fazendas para o transporte de
madeira (estacas, mourões, lenha etc.), material de construção, produtos
alimentícios e mesmo para o transporte de passageiros da fazenda para a cidade.
O carro de boi foi introduzido no Brasil pelos colonizadores portugueses e foi
muito usado na época colonial, no império e na república, pois ainda hoje é
usado em algumas regiões do Nordeste e do Centro-Oeste. É um primitivo e tosco
meio de transporte de carga e de passageiros, confeccionado em vários tamanhos,
com diversos tipos de madeira, dependendo da região. O diâmetro das rodas e as
medidas da mesa ou lastro, determinam a dimensão das outras peças do carro de
boi.
O carapina especializado em fazer carro de boi tinha na memória as medidas
de todas as peças. O eixo tinha um formato característico, com 8 faces (
oitavado ) e era feito de madeira dura e resistente ( miolo de aroeira ou
baraúna ). A mesa, assoalho ou lastro era construído de pau-d'arco ou de
craibeira. As rodas eram de pau-d'arco, com aros de ferro e o cabeçalho ou
cambão, de pau-d'arco, aroeira ou angico. Os aros de ferro eram colocados nas
rodas, quente em brasa (incandescente) e depois resfriado com água, para se
contrair e ficar justo . Os fueiros, de pau-branco, sabiá ou pereiro.
A canga
era de madeira leve e resistente como o cedro, cumaru e as vezes de pau-d'arco.
O espaço reservado para cada boi na canga era limitado pelos canzis, em número
de quatro, sendo dois para cada pescoço. Os canzis atravessavam a canga na
vertical, de cima para baixo, de modo a formar o espaço para receber o pescoço
de cada boi, separadamente.
Nas parelhas de bois, um boi é unido ao outro pelas
pontas dos chifres, pois as pontas são furadas, para deixar passar a tira
de couro cru que vai amarrar um boi ao outro, formando a junta. A canga é
colocada nos pescoços dos bois da junta e presa ao cambão ou cabeçalho para
puxar o carro. O guieiro usa a vara do ferrão ( vara de madeira com cerca
de dois metros e meio de comprimento com o ferrão de ferro na
extremidade) para cutucar os bois.
O carro de boi emite um som característico
chamado gemido, canto ou lamento. O atrito do eixo com os mancais (chumaço e
cocão) das rodas produz este som característico que é ampliado pelas ocas das
rodas (dois orifícios circulares deixados em cada roda). O carreiro conduzia um
chifre de boi com azeite de carrapateira, para lubrificar o eixo e diminuir o
atrito e carvão vegetal em pó, para gerar o som característico do carro de boi.
Informação
do http://blogdomendesemendes.blogspot.com:
O
Museu do Sertão na "Fazenda Rancho Verde" em Mossoró não pertence a
nenhum órgão público, é de propriedade do seu
criador professor Benedito Vasconcelos Mendes.
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