Por Sálvio Siqueira
Durante o tempo em que Lampião
lutou, na guerra imposta por ele, contra as forças militares dos estados
nordestinos, demonstrou enorme capacidade de tirar proveito do meio geográfico,
social e cultural em que vivia instintivamente, mesmo sem saber, realmente, o
que viria a ser.
Por mais que espalhasse o terror, em toda vasta região em que atuou, Lampião
jamais poderia rivalizar com a prepotência das autoridades estatais em espalhar
descontentamento e medo entre a população. Isso por ter boa parte dessa
população regional ao seu lado, fazendo parte, de alguma forma, maneira, da sua
‘malha’ de colaboradores. Ele era obrigado a ‘ajudar’ determinadas pessoas,
pois essas viriam a lhes ser útil com informações, transporte de alimentos,
armas, munição e etc..
Ações que a Força
Pública não fez. As volantes não ‘amaciaram’ a chibata de couro cru, nem a de
cipó de boi, tão pouco economizaram o uso das pontas dos punhas, no intento,
busca, de informações sobre os bandidos, na carne dos sertanejos. O juiz, o
delegado, o promotor, o inspetor do quarteirão, o policial, etc., em fim, os
‘símbolos’ do poder, ou aqueles que o simbolizavam, na época sempre foram instrumentos
efetivos em levar a intranquilidade ao povo sertanejo, desde há muito tempo,
antes da era lampiônica, seguindo instruções dos ‘coronéis’, dos poderosos, que
determinavam como deveriam agir, sem nem olharem para os livros contendo os
códigos, artigos e incisos da “Lei”.
No meio dessa população insegura, sofrida, praticamente abandonada por parte
dos poderes públicos, Lampião encontrou sua vereda, seu caminho, seu abrigo
natural e ponto de apoio.
Estabeleceu, depois de arquitetar, vasta e intricada rede de informações, de
coiteiros, de amigos e simpatizantes. O pesquisador/historiador Oleone Coelho Fontes,
relata-nos a este respeito o seguinte: “O relacionamento de Lampião com os
sertanejos, apesar de tudo, pode ser considerado razoável. Seguramente, este
relacionamento contribuiu para a sua sobrevivência de cangaceiro durante mais
de 2 décadas. Já a Polícia estava numa posição antagônica em relação a grande
maioria dos habitantes dos sertões”( FONTES, Oleano Coelho. Lampião na Bahia.
1ª ed. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 1988, pág.).
Infelizmente essas atitudes dos ‘poderosos’, daqueles que tinham nas mãos as
rédeas do Poder, gerou séria consequência natural, nascendo, surgindo, de certa
forma, uma afinidade entre Lampião e a sociedade em que viviam. Verificamos
mais nitidamente isso, quando o “Rei do Cangaço” baixou seu reinado, de vez,
nos torrões baianos, sergipano e alagoanos.
Prova nitidamente visível, vemos quando analisamos e notamos que o número de
sertanejos que pediam para incorporar-se ao seu bando sempre aumentava dia a
dia. Segundo o pesquisador Rodrigues de Carvalho o “Rei Vesgo”
“(...) constantemente estava recusando candidatos, que se apresentava até em
blocos (...)” (CARVALHO, Rodrigues de. “Lampião e a Sociologia do Cangaço” - Rio
de Janeiro, s.d. , pág. 153.
O Sociólogo Gilberto Freiry, chefe de gabinete no governo de Estácio Coimbra,
notou essa forma de ação envolvendo os sertanejos em meados dos anos 1920,
quando Lampião ainda agia com muito afinco em solo pernambucano. Desse momento
em diante, procurou arquitetar uma estratégia para implantar na luta contra
Lampião. Mais tarde, nos estados acima citados, as autoridades logo perceberam
a via, o meio de combater o Cangaço. Logo procuraram continuar ‘cortando’ o elo
entre população e Lampião. Destruindo uma espécie de cumplicidade tática,
mentalizada e colocada em prática por Virgolino Ferreira, o Lampião.
Utilizando essa forma de ‘isolamento’, pois Lampião estava em todos os lugares
e, ao mesmo tempo, em lugar nenhum, a força combatente consegue isolá-lo da
população civil, daí para derrocada final, foi apenas uma questão de tempo.
Foto cadaminuto.com.br
Benjamin Abrahão
PS// Fotos de Lampião colorizada
por Rubens
Antonio
Fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: OFÍCIO DAS ESPINGARDAS
Link: https://www.facebook.com/groups/545584095605711/606549622842491/?notif_t=group_activity
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