Por Gustavo Sandres
Os mais devaneadores contavam que Virgulino tinha “corpo fechado”. Falava-se
que ele se misturava com a caatinga, seus cabelos eram tão espinhosos quanto o
facheiro, seu corpo tão duro quanto o solo rochoso do sertão, um herói nascido
da injustiça, tendo dentre suas fotos mais conhecidas uma que posa de joelhos
com o bando, num momento de oração.
Seu respeito pelo Padre Cícero é contado
com evidência, à fé aproximando o cangaceiro minucioso, das pessoas
comuns, dos simples agricultores, que também sofriam injustiças, só que nada
podiam fazer.
Havia quem não simpatizasse nenhum pouco com o Capitão Virgulino
(até hoje), mas enquanto ele estava vivo nada era dito, sob o risco de uma
retaliação fatal, até que na noite de 28 de julho de 1838, no meio da madrugada
o acampamento é alvejado, Lampião morre, sua cabeça é decepada. Aí nasce o mito
do cangaceiro.
Enfrenta o Diabo no inferno, arromba as porteiras do paraíso, dá
tapas na besta-fera, em São Pedro, no Cão Coxo e em qualquer um que cruzasse
seu caminho. Com sua morte seus inimigos em terra finalmente criam coragem para
verbalizar o seu respeito; insultando-o, ironizando e desmoralizando, mas não
adiantava mais, já surgira o Heitor sertanejo, com direito a um amor Helênico e
tudo mais.
Lampião foi menos que um herói e mais que um bandido, Virgulino é um
ser poético, e tudo que entra na poesia fica pra sempre encravado na cultura do
povo. Ascenso Ferreira, Carlos Pena Filho, Murilo Mendes, são alguns dos poetas
mais “refinados” que citaram o cangaceiro em sua obra e outras centenas de
desconhecidos também o fizeram. A globalização atingiu o sertão, mas não há
nada que minimize o valor da figura do cangaceiro.
Gustavo Sandres
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