Por Lira Neto
Editor do Sábado
“Padre e merda
pra mim são a mesma coisa”, esbravejava Floro Bartolomeu diante de um Padre
Cícero atônico. Temido por todos, famoso por evaporar seus inimigos, Floro não
tinha meias palavras nem mesmo para seu maior aliado, o “santo de Juazeiro”.
No Cariri,
corriam a boca solta as histórias escabrosas da “rodagem”, estrada que ligava
Juazeiro do Norte ao Crato. Local que, segundo consta, fora escolhido por Floro
para a execução sumária de bandidos, arruaceiros ou, simplesmente desafetos.
Floro Bartolomeu
Consta que as
vítimas, mutiladas, abatidas a tiros de rifle ou degoladas à faca, eram
deixadas à margem da estrada para servir de almoço para os urubus.
Virgolino Ferreira da Silva
Com igual
determinação, Floro invadiu Fortaleza com seus jagunços durante a revolução de
1914. Mais tarde, em 1925 (retificado 1926), deu a patente de capitão a Virgolino Ferreira da
Silva o Lampião, e idealizou um exército de cangaceiros, o Batalhão Patriótico.
A missão engalfinhar-se com a Coluna Prestes e trazer a cabeça do seu líder
Luiz Carlos Prestes.
Luiz Carlos Prestes
Floro era uma
espécie de alter-ego do “Padim”. Um era o líder espiritual, pastor de um
rebanho de sertanejos famintos de fé e de pão. Outro era o dr. De braço de
ferro, justiceiro implacável. Cícero era o “santo milagroso”, aquele que fazia
hóstias virarem sangue na boca de beata. Floro dizia pelas suas costas, “era o “monstro
da rodagem”, o “Satanás de Juazeiro”. Deus e o diabo na terra do sol.
A amizade
entre os dois virou simbiose. O carisma e o poder religioso do sacerdote encontravam
no pulso forte de Floro o aliado perfeito.
E visse e versa. Um era útil ao outro.
Padre Cícero Romão Batista de Juazeiro
“O povo vencido
pela adoração ao padre, jazia inconsciente aos pés do doutor. E assim foi
sempre. Se o padre uma coisa que não lhe ficava bem, passava a imputabilidade
ao doutor, menos escrupuloso, e o povo, sem saber mais distinguir um do outro,
obedecia a este,como se fora aquele”, bem definiu o padre Manoel Macedo, então
vigário de Juazeiro.
Foi amparado
nessa relação estratégia que Floro se tornou vereador, conseguiu se eleger
deputado estadual, e chegou à tribuna da Câmara Federal.
“Charlatão,
inculto, bandido, ignorante, polemista iletrado, ladrão”. Estes foram apenas
alguns dos adjetivos que Floro colecionou de seus inimigos ao longo da vida.
Uma vida curta, encerrada em 8 de março de 1926, há exatos 70 anos, (corrigido para 90 anos, pois foi publicado em 1996).
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"Floro Bartolomeu faleceu 2 dias após a entrega de armas, munições e uniformes ao bando de Lampião, feito em Juazeiro do Norte pelo então padre Cícero, mas com ordens do Floro. Acho que se o Floro Bartolomeu tivesse falecido antes do dia 6 de março de 1926, padre Cícero não teria mais entregue armamentos a Lampião e ao seu bando".
Fonte:
Sábado O Povo
Fortaleza:
09 de março de 96
Ano:
2
Número:
90
Digitado e ilustrado por José Mendes Pereira
Digitado e ilustrado por José Mendes Pereira
Este
jornal foi a mim presenteado pelo pesquisador do cangaço e membro da SBEC-
Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço Francisco das Chagas do Nascimento
(Chagas Nascimento).
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